quarta-feira, 22 de maio de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( p 24 )

No Réveillon de 1954, ainda havia no ar, aquele cheirinho de política, mas felizmente Poções teve sempre em sua história, a vocação de ser uma cidade de paz e de tranquilidade. Tavinho e Amélia dançaram algumas partes. Jurimar ainda continuava de namoricos com o seu primo Vecinho. Nó e eu dançamos o tempo todo. Como era bom dançar à vontade sem ter que ficar amedrontado, como era o caso da pobrezinha da Nó. Ela era e ainda é aquela pessoa fofinha que nós temos de tratá-la com todo o carinho e respeito. Sempre a amei.
Na tarde do dia primeiro de janeiro de 1955, durante a matiné do clube, comemoramos o nosso terceiro ano de namoro e dias mais tarde, relembramos também, o terceiro ano da cirurgia a que ela foi submetida na extração do apêndice. Quando cheguei no quarto do hospital,  encontrei-a alva, da mesma cor dos lençóis. Dias mais tarde, já recuperada daquele susto inicial, via todas as noites, mas notava que ao Aproximar-se da hora de dormir, Nó estava com o hábito de tomar o remédio, para evitar que as dores aparecessem. Fiz vê-la que aquele hábito já estava se tornando um vicio, desde quando já se passavam vários da cirurgia e até os pontos já haviam sido removidos, mostrando uma cicatriz perfeitamente seca. Felizmente ela me atendeu. Essa lembrança, foi se dissipando há medida que os anos se seguiram.
Quando chegamos ao dia 20 de janeiro, observei que Noélia não estava se referindo em retornar a Salvador para a continuação dos estudos. E aí , com muito jeito abordei o assunto:
---Nó, você não vai voltar a Salvador,  para continuar os estudos?
Não é propriamente parar. Vou aguardar o desenrolar dos acontecimentos. 
Também usei logo de franqueza.  --- Você sabe que estou no inicio de minha carreira profissional e ainda por cima de tudo isso, sofro a pressão do outro colega, que quer se arvorar de ser o dono de toda a área. Portanto, casarmos agora, nem pensar.      Noélia respondeu quase laconicamente:
---Não estou pensando em casamento logo, logo.
A fim de não discutirmos sobre o  motivo de minha pergunta inicial, deixamos para outra ocasião continuar aquela conversação.
Por motivo de melhor acomodação, a feira que sempre fora realizada na Praça Deocleciano Teixeira, desde a época de 1939, quando passei aqui pela primeira vez, foi mudada para a Praça da Divino, ficando, praticamente em frente da Igrejinha. Com aquela mudança, até que apareceram mais clientes da roça, provavelmente pela proximidade do gabinete dentário, que ficava bem atrás da Igreja, situado na Rua Felix Gaspar. Mas à medida que foram se aproximando os dias das Festas do Divino Espírito Santo, houve uma pequena complicação com a mistura das barracas da feira, com aquelas que estavam sendo armadas para as Festas. Aproveitaram até uma portinha que havia ao lado do Clube Social, para instalar um jogo de roleta, que na época Havia o consentimento da Polícia e da Prefeitura. Acredito, que o dono da referida roleta, pagava algum imposto, parta usá-la durante as Festas. Num ímpeto de coragem, uns dias antes das festas do Divino, Noélia e eu, combinamos em falar com o Sr. Jambinho. Escolhemos o sábado, um dia após o início do novenário. Amélia fora também preparada para dar todo o apoio possível. Como o Sr. Jambinho tinha o hábito de retornar à sua fazenda, bem tarde da noite, ficamos aguardando o fim do jantar e quando pessoal se dispersou, nos reunimos na sala de visitas. Amélia sentou-se numa das poltronas estufadas, tendo ao seu lado, Noélia, provavelmente para tê-la como uma ajuda se precisasse. Sentei-me defronte delas.

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Em dado momento, o Sr. Jambinho chegou a sala e estendeu a mão para mim. Retribui o aperto de mão, sentindo meu coração aos pulos. Minha pressão arterial que sempre fora baixa, naquele instante deve ter subido um bocado. Quando ele terminou de sentar, não perdi tempo, para não protelar a nossa agonia e fui logo dizendo:
---Seu Jambinho, é provável que o senhor já saiba que namoro com Noélia, há três anos e gostaria de pedi-la em casamento. Quero também que o senhor me dê um prazo, enquanto eu vou me arrumando...
O pai de Noélia, disse que aceitava, mas respondeu de imediato:
--- Meu filho, você vai me dar um tempo. Mais adiante a gente conversa a respeito.
Tudo resolvido! Aquela ânsia acabou e felizmente voltamos à nossa rotina. Mas senti-me culpado em Noélia não ter continuado os seus estudos, para o curso secundário.
Com a chegada das Festas do Divino, numa certa tarde, presenciei Noélia, em companhia de sua prima Irene, subindo no carrossel, para dar umas voltinhas. Basta recordar, que o carrossel daquela época, era movido com empurrão manual dos dois rapazes, que eram pagos para fazer aquele tipo de serviço. Uma terceira pessoa, talvez o dono, ficava no centro do carrossel, tocando sua sanfona, tornando a diversão, muito mais gostosa. Senti, que elas duas divertiram-se a valer, relembrando os velhos tempos de criança.
Antes do final do ano, com segui amealhar uns cinco mil cruzeiros e fui a Salvador, comprar um aparelho de louças. Procurei e achei, justamente na casa comercial de Miguel Vita, um antigo vizinho nosso de iguaí e que já possuía uma loja de artigos domésticos. Perguntei por seu velho pai, o José Vita, mas já havia falecido. Comprei por quatro mil cruzeiros e Miguel Vita encarregou-se de conseguir um meio de enviar a mercadoria para Poções. Ao retornar, num outro dia convidei Nó a ir comigo até Jequié a fim de comprarmos as peças de vidro, como copos, taças, cálices em vários tamanhos. Nó fez até ujma observação:
--- Dy, papai disse que você está indo rápido demais.
--- Rápido como? Todo o dinheiro que eu for ganhando e que estiver sobrando, vou comprar esses objetos  necessários para o futuro.
As caixas com os parelhos de louça e de vidro, foram guardadas num dos quartos vazios que existiam na aérea externa da casa. Com certeza, alí ninguém iria mexer.
O resto do ano de 1955 passou rapidamente e quando menos esperávamos, janeiro de 1956 apareceu e partimos para comemorar o nosso quarto ano de convivência, já agora, entre namoro e noivado. Uns dias depois, estava no meu gabinete dentário atendente aos meus clientes, no período da manhã, quando uma das empregadas da casa do Sr. Jambinho, apareceu para avisar-me que Elizabeth, a caçulinha de Amélia acabara de nascer. Assim que terminei de atender o último cliente, fui apressado para ver a garotinha. Lá chegando encontrei Amélia repousando na cama, com a menininha ao seu lado esquerdo. As três irmãs, Jú , Nó e Té, estavam em volta, paparicando. Assim que terminei de falar com todos, Amélia virou-se para mim e falou:

---Dy, ela se chamará Elizabeth e eu já escolhi Nó e você, para serem os padrinhos.

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Agradeci pela deferência e ficamos ali jogando conversa fora.
Alguns dias depois, com a chegada do Carnaval, ( 12, 13 e 14 de fevereiro), estando no meio de um grupo de rapazes, tentamos introduzir aqui em Poções, algo que nunca tinham visto. Vestimos umas fantasias e nos mascaramos e o mais engraçado de todos foi Humbertão, que com aquela altura que ele possuía, vestiu-se de bebê, com gorro na cabeça, chupeta, babador, mamadeira dependurada ao lado do corpo, fralda e todas as peças com a cor rosa. Com aquelas pernas super- cabeludas, faziam um contraste tremendo em todo aquele visual. Era o destaque principal de nossa turma. Mas a molecada daqui de Poções, nunca viu aquilo e começou a jogar paus e pedras em nosso grupo. Repentinamente, um dos nossos colegas mascarados, que até hoje não consegui distinguir quem foi, tomou uma das varas das mãos de um dos molecotes e deu-lhe umas chibatadas nas pernas, que o mesmo saiu correndo e chorando. Em parte, foi até bom, porque estávamos a mercê deles e poderíamos receber algumas pedradas e nos ferirmos. Mais tarde nos reunimos e concordamos que não sairíamos mais mascarados. Poções, ainda estava com o espírito bem atrasado para certas brincadeiras. À tarde, observamos que uma batucada muito desajeitada, desfilou na Praça Deocleciano Teixeira, onde o povo sem vibração nenhuma, acompanhava, andando nos lados direito e esquerdo, como se estivessem numa procissão. A diferença era que não havia nenhuma reza. A casa, onde funcionava o Clube Social, foi posta à venda, desde quando, o proprietário, o Sr. José Blois, estava de mudança com a família, para São Paulo e deixou o aviso, que aquela seria a última festa. Em vista disso, o pessoal se aprumou e foi realizado um carnaval excelente. Por outro lado, o Presidente do Clube, que era o sargento do Tiro de Guerra, o Sr. Alfred Jacob François, fora promovido a tenente do Exército e teria que mudar-se de Poções, com a sua esposa Wilma Gusmão, esta, prima de Noélia. Com esses dois problemas a resolver, os sócios do Clube se reuniram e escolheram uma comissão, para dirigir os destinos da entidade, até o mês de julho vindouro, quando seria realizada a eleição para a nova diretoria.
Ao amigo, tenente Alfred Jacob François e sua esposa Wilma Gusmão François, apesar do parco tempo que convivi com ambos, quero deixar registrados nessas linhas, o meu afeto, a minha admiração e que essas ternas palavras, sejam dirigidas ao bom Deus, para que sempre os tenham, num, local bem sublime, juntamente aos seus familiares.
Com a chegada das Festas dos Divino Espírito Santo, não vi quase nada de novo. O Pavilhão com as suas mesas reservadas para o pessoal que tivesse uma boa grana, principalmente para gastá-la nos dias do leilão. O bar, alugado a algum comerciante que pudesse atender bem aos fregueses, onde os garçons teriam que se desdobrar, pois nos últimos três dias, o movimento era incessante. Uma pequena área era sempre reservada para o conjunto musical e dançarinos que quisessem se aventurar a sujar os sapatos de terra. A pedido dos próprios dançarinos, nos anos que se seguiram, fizeram alguns metros quadrados cimentados para evitar aquele vexame. No centro da praça o parque de diversões, com as mais variadas peças, a fim de agradar gregos e troianos.. Mesas com jogos de azar, com o consentimento prévio da Prefeitura e da Polícia, que rendiam alguns cruzeirinhos com o arrendamento, atraiam vários apostadores. Como era de praxe, que sempre acontecia todos os anos, o Clube Social, praticamente encerrava os festejos, com a sua festa dançante no domingo, mas naquele ano, a comissão que ficou encarregada, conseguiu organizá-la no salão térreo, onde hoje funciona a Prefeitura Municipal de Poções. Os sócios mais aficionados como Dr. Ruy Espinheira, Fidelis Sarno e sua esposa Juraci, Tavinho com Amélia, como sempre, juntavam as suas mesas. Bernardo Messias e sua esposa Enedite, era outro casal que não perdia aqueles bons momentos de diversão. Lembro-me naquela oportunidade de ver Omar da Rocha e Silva e seu irmão Almir(Miga)da Rocha e Silva, acompanhados de sua respectivas esposas.
                                                            
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Quando o conjunto musical iniciava tocando a primeira parte,  impreterivelmente, Benevaldo de Oliveira Rocha e o Dr. Ruy Espinheira, que na maioria das vezes nunca se apresentavam com as suas respectivas esposas, eram os primeiros com algumas mocinhas que estivessem presentes e sem compromisso imediato. O interessante, era que cada um deles, possuía um modo peculiar de dançar e isso atraía os olhares daqueles que ainda permaneciam sentados. Como Noélia, era um pouco tímida, nem sempre dançávamos as primeiras partes, mas ao chegar a nossa vez, sentíamos que muitas pessoas ficavam nos observando, pela leveza que percorríamos o salão.
. Isso tudo, porque, eu escoladíssimo com as aprendizagens feitas no Rumba Dancing e ao lado de Nó, que era de uma leveza ímpar, desfilávamos, dando um verdadeiro show, Belos tempos, que recordamos sempre, quando vamos participar de qualquer festa, onde haja dança. É claro, que hoje em dia, não dispomos mais, daquela energia de outrora. Os anos pesam nos ombros de qualquer um.
Soube então, que o Sr. Fidelis Sarno, ficaria à frente dos destinos do Clube Social até que fossem realizadas as eleições, no mês de julho, para a posse da nova Diretoria. Foi um fato que estranhei muito. Como é que um Clube realizava eleições no meio do ano? Não seria mais interessante que fosse em janeiro, pois a nova Diretoria, já fazia um planejamento para o ano inteiro. Na época, eu entendia que o ano financeiro não deveria ser confundido com o ano social, mas peguei o barco andando, que fazer ?
Como a Festa do Divino saiu bem ao gosto da maioria quase esmagadora dos sócios, na eleição realizada no mês de julho, conduziram o próprio Fidelis Sarno ao cargo de Presidente, que ele já vinha ocupando interinamente.
O Réveillon e a festa do dia primeiro de janeiro de 1957, também foram realizadas na parte térrea do salão já mencionado e aí cogitaram em organizar o Carnaval no mesmo local. Aí, as más línguas começaram a sussurrar que a estrutura do prédio não iria aguentar, com o barulho que seria feito nas festas carnavalescas. Mesmo com toda aquela pressão, onde diziam o que o prédio iria desabar, o grupo que apoiava Fidelis Sarno , pôs pés firmes e o Carnaval foi realizado alí mesmo obtenho uma frequência acima das expectativas.
Quanto ao prédio, resistiu tão bem, que ainda hoje funciona tranquilamente o Executivo Municipal. E por tocar nesse assunto, a Prefeitura funcionava numa casa alugada à família Sarno bem próxima à Praça Deocleciano Teixeira. O Prefeito ainda era o Dr. Aloysio Rocha que não possuía secretários. Apenas o tesoureiro, na pessoa do Sr. Alcides Fernandes da Silva é quem fazia todos os serviços da Prefeitura, sendo ajudado por poucos subalternos. A penúria era tanta, pois as verbas eram curtíssimas e a arrecadação ficava muito a desejar.
Por sua vez , a Câmara de Vereadores funcionava também numa casa alugada ali perto, onde hoje funciona o escritório da Embasa. Os vereadores Ary Alves Dias,(meu pai) e o Sr. Diolino Xavier Luz eram os mais assíduos. Como funcionários, a senhorita Josina Leoni (Doninha),desempenhava o papel de secretária, enquanto o Sr Arnaldo Lago Fagundes era o principal e único ajudante dos serviço daquela Casa de Leis. Arnaldo era um exímio saxofonista e às vezes participava da banda musical da Cidade, em alguns eventos.
Na época, Iguaí e Ibicuí que haviam sido distritos de Poções, conseguiram a sua emancipação política e Poções então passou a ter no corpo do seu Legislativo, apenas 11 vereadores, sendo que foram eleitos dentro do próprio Município e os outros três galgaram a eleição pelo distrito de Nova Canaã.
Meu pai, Dr. Ary Alves Dias, começou o seu ingresso na política desde a época, quando morávamos em Iguaí. Ele, o Sr. Manoel Martins de Souza, alta figura representativa daquela Vila e o Sr. Carlos Ribeiro Freire( que mais adiante foi eleito Prefeito do local), sempre figuraram como vereadores.

                                                       
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Com a mudança da família para Poções, Papai continuou atuando e sempre era reeleito vereador. Apenas por curiosidade, certa feita eu o vi escrevendo umas cartinhas e colocando-as em uns envelopes azuis e então perguntei
---Pai, o senhor está tirando as contas do pessoal que está devendo a farmácia?
---Não, seu Dy, estou escrevendo aos meus eleitores, dizendo aos mesmos que sou candidato a vereador nas próximas eleições.
---E quantas dessas o senhor enviará?
---Ainda não contei, mas acredito que chegarei a mandar umas duas mil cartinhas.
Espantei—me com a quantidade e repliquei:
---Pai, duas mil cartas?!!! Então ...
---Então nada --- respondeu Papai --- dessas duas mil, se eu conseguir uns duzentos votos, contarei como vitória. Você sabia que o eleitor é muito infiel? Além dos votos matematicamente certos, você tem que calcular, aqueles que poderão vir das promessas feitas aqui ao pé do balcão, ou ainda daqueles que eu atendo  lá no Posto de Higiene. Daí, eu tiro uma média e presumo se vou ser eleito ou não.
Bom político ou bom matemático, o certo é que o “velho” foi vereador em Poções, cerca de 20 anos. Nunca perdeu a chance de ser eleito vereados, desde as primeiras eleições ocorridas à parti de Iguaí. Depois que ficou cansado de pedir voto para sí, apresentou como candidato, um enfermeiro que trabalhava no Amianto, por nome Valdomito Galvão Ferreira, elegendo-o vereador tranquilamente. Na eleição seguinte, como Valdomito foi exercer o seu trabalho fora de Poções, Papai apresentou e elegeu Romano Schettini sem nenhuma dificuldade. Mais adiante, outro primo de Noélia, por nome Raimilson Gusmão, que possuía certo reduto de votos em Agua Bela, solicitou de Papai um pequeno apoio e também foi eleito. Nessa história toda, para concluir, poderemos acrescentar que durante todo o tempo que Papai exerceu o cargo de vereador, nunca recebeu um centavo, como acontece de uma certa época para cá, onde os  senhores vereadores recebem o seu numerário mensal ,enquanto o Presidente, ainda ganha uma verba de representação. Sinais dos tempos.
Numa determinada ocasião, quando da proximidade dos Festejos do Divino Espírito Santo, observei um quadro interessante, na residência do Sr. Jambinho. Num sábado, antes dele retornar à fazenda, as quatro filhas, reuniram-se com o mesmo, em volta de uma mesa, expondo um orçamento que elas necessitavam, para participar dos referidos festejos. Amélia, já casada e como irmã mais velha, era a porta voz do grupo e Seu Jambinho, sentado, já com o chapéu na cabeça, pois instantes depois iria para a fazenda, ouvia calmamente a exposição de motivos que as meninas faziam. Ao final da reunião, Seu Jambinho disse:
---Segunda- feira trarei o dinheiro, para que vocês possam ir a Conquista.
No dia escolhido, fiz companhia a Amélia e Noélia, naquela viagem horrorosa. A estrada como cheguei a relatar em linhas atrás, era toda esburacada, com péssimo encascalhamento. Saímos num ônibus que gastou três horas daqui a Conquista, porque era um dia de sol e a viagem foi normalíssima. A parada do ônibus era na porta de uma casa, que ficava em frente ao Hotel Albatroz. Saltamos e descemos o restante da ladeira e na Praça Barão do Rio Branco. Hospedamo-nos numa pensão. Devido a poeira que fez durante a viagem, fomos forçados a tomar um novo banho e trocar de roupa.

                                                                  
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Assim que todos nós estávamos prontos, seguimos para as lojas a fim de comprar o que era de necessário para elas duas e as irmãs Jurimar e Tereza, que não nos acompanharam. Aqui escrevendo é muito fácil dizer que as compras foram feitas e ao final da tarde tivemos ainda um tempinho para passear e já anoitecendo, voltarmos à pensão para fazer as refeições e dormir cedo, pois no dia seguinte teríamos que levantar bem cedo para pegar o ônibus naquele mesmo local e além de tudo, com as maletas abarrotadas de compras.
Chegando em casa, Jurimar e Tereza ficaram satisfeitas com as compras que as suas irmãs fizeram e se não gostaram, pelo menos não demonstraram.
As Festas do Divino ocorreram na maior animação e tranquilidade e em julho, Fidelis Sarno foi eleito Presidente do Clube, pela maioria dos sócios presentes. Dias depois, toda a Diretoria eleita, foi a residência do Sr. Alcides Fagundes da Silva, ex-Prefeito de Poções, no período 1951/ 1954 e naquele momento, era o principal responsável, pelo prédio da SUC( Sociedade União das Classes), entidade já extinta, porque os sócios ao longo dos anos, deixaram de pagar as suas mensalidades e dessa forma, só ficou o prédio, como patrimônio. Fomos bem recebidos e ao fim de uma não demorada conversa, o Sr. Cidinho, como era mais conhecido, nos forneceu a chave e fazendo votos que a nova Diretoria, erguesse bem mais alto o Clube Social. No dia seguinte, fomos conhecer de perto o que seria, por alguns anos afora, a sede do nosso Clube .Era uma casa e ainda é hoje, com algumas mudanças, composta por um vasto salão, que abrigaria uma maior quantidade de mesas e cadeiras, que viria a proporcionar aos associados e seus familiares, um pouco mais de  conforto.(Vale salientar, que no outro Clube, no máximo, comportava 27 mesas, quando a festa era de casa cheia.).Do lado esquerdo do salão, havia uma porta que dava acesso ao toalete feminino. Do lado direito, seguia-se diretamente ao bar e dali uma outra porta, que nos fundos acessava ao sanitário masculino. Entre as duas portas citadas, haviam construído uma parte mais elevada, onde se alojava o conjunto musical. Somente do lado direito, existiam janelas que eram voltadas para um pátio e este se comunicava desde a porta da rua, aos fundos da casa. Felizmente havia um forro que cobria por extenso todo o salão. Estava o prédio abandonado por falta de quem o usasse, mas com alguns retoques, poderia apresentar-se satisfatório ao sócio mais exigente que fosse. Na primeira festa que fizemos somente para fazer uma estreia auspiciosa, convidamos os músicos da terra. Deles, posso recordar-me das figuras de Arnaldo Lago Fagundes, ora com o seu saxofone e às vezes com o clarinete. O inesquecível amigo de muitas jornadas, Gisélio Fagundes (Zelinho), com o seu aprumadíssimo saxofone. Otoniel Monteiro Costa, com o seu inseparável trompete. Nas horas de trabalho não musical, com a sua tesoura mágica e a sua máquina, costurava várias peças de roupas masculinas, lá no Beco dos Artistas. Alcides Tourinho, que além de músico, tinha uma tenda de alfaiate, alí vizinho da Caixa Econômica dos dias de hoje. Tocava com  muito amor o seu estridente trombone. Todos esses citados, Deus já os levou para ficar consigo, quem sabe, alegrando o ambiente lá no céu, com outros músicos, do tipo de Cidinho Foca, que ao dedilhar as cordas do seu violão, transmitindo aquele som lindo e suave. Outros, apareceram e se foram deixando um vazio não só no que se refere ao vasto repertório musical que possuíam, mas o elemento físico, onde cada um, com o seu próprio modo de ser, nos deixou inúmeras saudades aos seus parentes e amigos. Eles faziam parte de um conjunto sem nome, mas deixaram um legado a Poções, que jamais serão esquecidos.  Você que está lendo essas páginas, recorda-se desses conjuntos que aparecem várias vezes por aqui, não é isso mesmo ? Agora, faça uma severa comparação e me responda sinceramente se o conjunto de Zelinho, Arnaldo, Otoniel, Foca ,Alcides e outros mais, não dariam de dez a zero ?

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