Era ideia dos alunos colocar uma
espécie de barraca durante os Festejos do Divino Espírito Santo. Para fazer
quermesses com artigos doados pelas
casas comerciais e assim conseguirem os primeiros cruzeirinhos para o Grêmio.
Quando as festas foram se
aproximando, eu já estava bem entrosado com os alunos, mas o Diretor José Carlos,
não se manifestava com intenção e ajuda-los ou de ter alguma aproximação com os
mesmos. E assim o tempo passou. Eles me tomaram como o conselheiro ideal e eu sabia como orienta-los.
Desse modo, uma semana antes do
inicio do novenário, idealizamos colocar uma barraca coberta com lona de
caminhão na parte superior e nos fundos. As partes laterais e a da frente, ficariam
abertas apara atendimento aos fregueses. Como também, eu respondia pela tesouraria
do Clube Social, foi fácil solicitar três mesas emprestadas, para colocarmos
dentro da barraca. As mesas ficaram cobertas com toalhas e em cima delas,
ficaram os objetos arrecadados como empréstimo.
Abrimos então, três frentes de
trabalho: a primeira seria a de vender qualquer objeto diretamente ao fregueses
que gostassem de qualquer mercadoria; a segunda que através de bilhetes numerados,
as estudantes sairiam pela praça vendendo bilhetes em pequena quantidade, para
que pudessem efetuar o maior numero de sorteios possíveis. A última frente de
trabalho seria a de anotar num caderninho, os recados de namorados ou outras
mensagens que surgissem , que seriam transmitidas pelo serviço de alto falantes
do parque de diversões, que na época, era armado em plena praça da festa. E não
é que essa última rendeu um bom dinheirinho. Apareceram mensagens de namorados
marcando encontro, convites de aniversário, de noivados, de casamento, de batizados,
enfim um serviço de comunicação que estava mesmo a necessitar.
Assim, apurou-se uma boa renda e
a garotada ficou bastante animada, prometendo repetir o feito no ano vindouro.
Os trabalhos foram encerrados no sábado, porque no domingo, que é o
encerramento da Festa do Divino, nós teríamos que devolver as mesas, pois o
Clube Social sempre promovia uma festa dançante para os sócios e seus convidados.
(Até isso o tempo se encarregou de modificar. Hoje em dia a festa é encerrada
no próprio largo, com as ultimas bandas que foram contratadas).
Quando chegaram os festejos em
louvor a São João, armei a minha primeira fogueira. Confeccionei uma dezena de balões, que aprendi a fazer,
quando era criança, observando todos os detalhes que o meu avô Manta executava.
Aquela foi a primeira fogueira, repito, e dali para cá, nunca mais deixei de
armar uma fogueira, e cada ano que passa aparecem novos detalhes. Somente os balões
não foram mais feitos, devido o perigo que que o mesmo pode causar, queimando
ou incendiando um outro local.
A nossa primeira festa naquela noite junina, chamou a atenção dos
meus vizinhos Érico e sua esposa, pois no Rio Grande do Sul, onde residiam, não
havia aquele tipo de comemoração.
x.x.x
Um pouco mais tarde, Amélia,
Jurimar e Tereza, irmãs de Noélia, foram nos fazer companhia, enquanto Tavinho
fora visitar os pais.
Aquela minha fogueira, tornou-se
uma tradição e religiosamente nesses anos todos que estamos casados, nunca, mas
nunca mesmo, deixamos passar os festejos de São João, sem queima-la. Foi uma
pena proibirem a soltura de balões. Eram lindos de se ver, subindo silenciosamente,
numa noite estrelada e principalmente se
tínhamos também a presença da lua.
Chegamos finalmente a uma data
que nunca foi esquecida. 17 de julho!
Aniversário do Sr. Jambinho e
nesse ano de 1960, tudo foi feito em caráter dobrado, pois a festa em si, foi
para celebrar o casamento de sua filha Jurimar, com o funcionário do DNOCS,
Hélio Pinto Vieira, já mencionado em linhas atrás.
Foram praticamente dois dias de
festa, pois o casamento oficial foi realizado na tarde do dia 17 e dai em
diante, os convidados e amigos do Sr. Jambinho, foram se revezando dia e noite.
Como Prefeito de Planalto, “seu
Jambinho “, atraiu mais gente ainda, pois apareciam para comemorar o seu
aniversário e quando lá chegavam ao saberem do casamento da filha dele, perdiam
mais um tempinho, porque perder ali mais umas horas, comendo e bebendo
gratuitamente, não faziam mal a ninguém.
Enquanto isso, a barriguinha de
Nó estava adorável. Redonda e bonitinha. Pudera! Setembro estava bem próximo.
Como o casamento foi realizado na
fazenda, nós fizemos um cálculo assim pelo alto, que as despesas entre o
casamento de Amélia e o nosso, custaram bem menos que o de Jurimar. Basta
comentar que Dona Lera, a mulher que vivia com o Sr Jambinho, assim q ue ele ficou viúvo, nos disse
reservadamente:
---Jambinho mandou matar dois
bois, quatro porcos e uma grande quantidade de patos e galinhas de se perder a conta. Vocês sabem como ele é.
Detesta passar vergonha. Quem veio até aqui, tem que beber e comer até não
aguentar mais.
Seu Jambinho era assim mesmo,
como Lera declinou.
Noélia de vez em quando, ao rememorar
os tempos de criança, comenta conosco:
---Dy, meu pai era exagerado.
Quando morávamos em Serra Preta, tínhamos uma sala reservada para colocar os
mantimentos. Em cada canto ficavam amontoados centenas de laranjas , de limas,
caixas de bacalhau da Noruega, outras com barras de chocolate, enfim uma enorme
quantidade de mantimentos. Ah que tempo bom. Muita fartura e também muito exagero
de meu pai .
x.x.x
Com uma pontinha de inveja, às
vezes eu também comento, para que todos ouçam:
---Em minha companhia também,
viajamos muito. Já conhecemos Fortaleza( não somente porque depois de casada,
Jurimar passou a residir naquela capital),Mossoró, Natal, Olinda , Porto de
Galinhas, Muro Alto, Recife, Maceió , Barra de São Miguel, Aracaju, Deodoro,
Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Ouro
Preto, Mariana, São João Del Rei, Tiradentes, Três Corações, São Lourenço,
Águas de Lindóia, Caxambu, Poços de Caldas,Aparecida, São José do Rio Preto,
São José dos Campos, Monte Sião, São Paulo(capital),Águas de São Pedro, Campos
do Jordão, Serra Negra, Londrina,
Maringá, Curitiba, Foz do Iguaçu, Cascavel, Blumenau, Joinville, Florianópolis,
Porto Alegre, Garibaldi, Bento Gonçalves,
Caxias, Gramado, Canela, Camboriú e outras cidades de menor porte , que encheriam essa e outras páginas.
---Dona Nó, todas as vezes que
nós vamos a Morrinhos, tem o orgulho de dizer, ao tempo que vais mostrando as
casas de uma única rua que tem no Povoado:
“---Alí a direita residiu a madrinha
Nenza, mãe de Irene Lamego. Mais
adiante, o tio Jú...
E aí vai citando, um a um dos
seus parentes, numa recordação inequívoca do seu bom tempo de criança. E por
falarmos em Morrinhos, acho um local agradável e pacato e que o próprio tempo
se incumbiu de conserva-lo intato. Seu padroeiro é Santo Antônio, pelo qual
nutro uma imensa dedicação, onde desde os tempos de criança, acompanhava horas
e horas, Vovô Manta, em suas rezas na trezena de primeiro a treze de junho. Há
uma imagem de Santo Antônio, em nossa casa, que provavelmente deve ter sido
esculpida há mais de cento e cinquenta anos, visto que , ela foi trazida de Portugal, pelo pai de vovô Manta. Ao morrer, o pai dele
já havia dado a peça a vovô Manta que se encarregou de continuar a devoção ao
Santo Padroeiro. À medida que os anos se passaram, essa estátua passou às mãos
de Mamãe por morte de vovô Manta. Anos e anos Mamãe continuou também, dedicando
a sua reza em louvor a Santo Antônio. Quando houve o falecimento de minha mãe
em 1997, essa peça passou às minhas mãos.
Setembro de 1960 chegou!
Numa bela noite estrelada de 26,
estávamos Noélia e eu, jantando calmamente, enquanto Maria Sybele dormia
profundamente no quarto da frente da casa. Repentinamente, Nó deu uma parada
durante o jantar e me disse sem muito estardalhaço:
---Dy, senti uma pontada cá em
baixo da barriga!
Parei a colher de sopa a meia
altura e depositei-a novamente no prato ao tempo em que avisei:
---Nó, se você sentir de novo
essa pontada me fale. Será que o neném irá nascer hoje?
Continuamos jantando, embora um
pouco apreensivos. Mas à medida que os minutos foram passando, as pontadas
começaram a perturbar o ânimo de Noélia.
---Sabe de uma coisa--- falei
para Nó ---vou avisar primeiramente a Amélia e em seguida irei procurar o Dr.
Aloysio.
Dito e feito. Peguei a bicicleta
e saí em disparada pela ladeira da Avenida Cônego Pithon. Avisei a Amélia e fui
procurar Dr. Aloysio, encontrando-o jogando “BURACO” com
uns amigos na residência de Liligo (Eliomar Morais). Na minha chegada
inesperada, momentaneamente o jogo foi interrompido e dei o recado. Observei,
entretanto, que os parceiros quando jogam o buraco não gostam de ser interrompidos
e por isso mesmo, ainda fiquei esperando por alguns minutos, até que Dr.
Aloysio saiu comigo e fomos juntos ao seu consultório, onde ele pegou o seu
material necessário. Foi uma espera demorada e aborrecida. Mas cada parto tem a
sua característica. Quando finalmente chegamos. Amélia já havia tomado a
providência de levar Sybele a outro quarto e estava ali ao lado de Noélia, que
deitada, aguardava a nossa chegada. Foi tudo muito rápido e totalmente
diferente do parto de Sybele. Enquanto esta demorou bastante para nascer e o
fez com o rosto voltado para cima, Mercês em pouco mais de duas horas, desde o
tempo que eu saí, nasceu sem dar trabalho nenhum, com o rostinho voltado para
baixo, vendo a cabecinha com aquela penugem de cabelos pretos.
‘’BURACO”
:jogo de cartas semelhante à canastra, que usa dois baralhos completos, mais dois coringões e pode ser
jogado com ou sem parcerias.
x.x.x
E assim com dois anos de casados,
já estávamos com a segunda filha e mais uma vez, o nosso amigo Bernardo
Messias, errou nos seus cálculos, pois uns dias antes ele me dissera:
---Irundy, dessa vez eu não vou errar. Noélia irá ter um
meninão.
A população recebera uma notícia
auspiciosa. Iriam mudar os motores que geravam a energia elétrica para a Cidade
e esse trabalho perduraria entre quinze a vinte dias.
“---Só esse pouco tempo!” ---
exclamei eufórico para Noélia. ---“Para uma população que há pouco tempo atrás
ficara, dois anos seguidos sem ter um mínimo de consideração, quanto a energia
elétrica em suas residências, aquilo, era mesmo uma dádiva de Deus”.
Para não ficarmos sem fazer nada,
naquelas noites que viriam, convidamos dois amigos nossos: Carlos Jorge Tavares
Tôrres e Benevaldo Rocha para realizarmos um campeonato de “buraco”, embora
Noélia não entendesse nada do assunto. Para isso, tivemos que perder duas
noites ensinando o jogo a ela, como também alguns truques, que certos jogadores
fazem no decorrer das partidas. Quando tudo ficou arrumado, fizemos um sorteio
das duplas e combinamos que cada noite iríamos fazer uma troca entre os
parceiros, mas anotando numa caderneta, os pontos individuais. Noélia montou um
esquema que satisfez a todos, pois Sybele
que era a maiorzinha, tomava a sua mamadeira e continuava a dormir, enquanto
Mercês se reabastecia mamando os seios dela.
Para não ficarmos parados, fazíamos a nossa merendinha, entre as vinte e
uma e vinte duas horas, aguardando
Noélia acabar de colocar as duas pequerruchas nos respectivos berços. Dessa
forma, fomos realizando o nosso campeonato, interrompendo-o somente nos sábados
e domingos, para assistirmos filmes nos Cine Santo Antônio e Cine Glória, pois
ambos dispunham de seus motores próprios. Quando soubemos da notícia da
inauguração dos novos motores, marcamos o encerramento do nosso campeonato para
dois dias antes. Para isso, fizemos a contagem dos pontos e verificamos que Carlito
(Carlos Tôrres), fora o campeão. Noélia apesar de novata conseguiu o segundo
lugar. Benevaldo galgou o terceiro posto e eu fiquei na “LANTERNA” do campeonato. Marcamos então a noite da
festa de congraçamento, onde Noélia previamente com todo o esmero possível, preparou
uma merenda SUPIMPA. Aí, naquela noite, Carlito
apareceu na porta lá de casa, com uma faixa sobre a camisa e outra numa das
mãos. Na dele, via-se escrito em letra garrafais as palavras: Campeão Ocótico,
enquanto na de Noélia estava: Vice campeã Ocótica. Nem ele soube dizer o que
significava aquela palavra Ocótico e nunca descobri em dicionário nenhum o significado
da mesma. Foi uma festança entre nós quatro e depois de passados todos esses
anos, fico relembrando e memorizando comigo mesmo: Cada pessoa tem que
aproveitar o seu momento de felicidade, que poderá vir sem avisar o ano, o mês,
o dia e a hora. Aquela foi uma noite feliz para nós quatro. É uma pena BENÉ, é
uma pena CARLITO, que vocês não estejam aqui conosco, para relembrar aquelas
noites que passamos juntos, desfrutando de uma amizade sadia e pura .
LANTERNA : Gíria esportiva
dedicada ao último colocado em qualquer tipo de competição.
SUPÍMPA : ótimo . Excelente.
x.x.x
Fiquem com Deus! Nó e eu estaremos aguardando a nossa chamada
e enquanto não chega a nossa vez, estamos escrevendo esse blog, mostrando ao
povo de nossa terra, que Felicidade, não precisa ser cercada de dinheiro.
Felicidade é aquele tempo que você passa sozinho, ou em companhia de alguém, ou
de alguns amigos.
Lá no céu, BENEVALDO E CARLITO, tenham certeza
de uma coisa:
VOCÊS FORAM NOSSOS AMIGOS.
ATÉ BREVE!
QUE DEUS OS GUARDE EM
SUA SANTA MORADA.