Entrecortando palavras a meio tom
para que a turma não ouvisse o nosso diálogo, resolvi então demonstrar ao
pessoal a maneira pela qual se extraia a raiz cúbica de qualquer número, pelo
processo usual e outro pela fatoração.
Para Noélia, com aquela gravidez
à vista, o pior era todos os dias , subir e descer dos ônibus, sujeita e tomar
algum empurrão.
Ao final do curso, recebemos os
nossos certificados e ao retornar a Poções, ficamos aguardando o reinício das
aulas. Noélia todos os dias queixava-se de alguma coisa. A barriga doía
constante e diuturnamente. Mas os dias de fevereiro passaram e as aulas recomeçaram
em março. Nos primeiros dias, logo após o almoço, íamos como sempre, andando,
desde a Rua Olimpio Lacerda Rolim, até chegar ao prédio da CNEC, passando pelo futuro Hospital e os alicerces do também
futuro clube social. Era uma caminhada ingrata, principalmente para Noélia,
logo após o almoço, ter que se deslocar naquele bom pedaço de terra. A queixa
era a mesma . Abarriga doía intensamente.
Então na tarde ensolarada do dia dedicado a São José, ou seja
em 19 de março, já com seis meses de gravidez, partimos para mais um dia de
aulas e aí a coisa pegou. Logo ao terminar a primeira aula da tarde, chegando à
sala dos Professores, mais uma vez Nó chegou queixando-se do aumento das dores.
Pedi a alguém que nos levasse em casa de automóvel, pois o estado de Noélia já
estava inspirando cuidados médicos. Mandamos chamar o Dr. Aloísio Rocha, que um
pouco mais das 16 horas, chegou lá em casa, acompanhado de sua assistente. Logo
nos primeiros exames, ele concluiu, que Nó estava em trabalho de parto prematuro.
Em cinco minutos depois, surgiu um menininho morto, com cerca de 20 cm de
comprimento, embora totalmente perfeito. Alguns segundos depois ,a enfermeira que
o acompanhava, constatou, que ainda havia outra criança a nascer. Depois de mais
uns cinco minutos, apareceu outro menino, todo arroxeado, embora vivo. Não
chorou a principio, mas após umas palmadinhas e imersão em água morna, ele
esboçou aquele chorinho tímido.
Dr. Aloysio nos aconselhou a coloca-lo
no berço das meninas, todo envolto em grande quantidade de algodão para ficar bem
aquecido, mas ao sair não deu nenhuma esperança de sobrevida.
De fato, como previra, a criancinha
resistiu até às 21 horas.
Ela chorou, mas comentando nos
dias seguintes, o que de fato sucedera, chegamos a conclusão, que os nossos
filhos gêmeos, não resistiram aquele impacto diário, da subida e descida dos ônibus
em Salvador. Lá se foram duas vidas, inteiramente dedicadas à educação desta
cidade de Poções. O garotinho que nasceu vivo, foi registrado com o nome de
José e pela primeira vez sentimos de perto a perda de alguém retirado das entranhas
de nossas carnes. Mas as nossas duas princesinhas Sybele e Mercês, estavam
ali para exaltarmos mais ainda o nosso
amor.
Aos poucos fomos nos acostumando
com a perda e verificamos que em todas as famílias existem tais vexames.
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