quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Autobiografia de Irundy Dias(p5)


Não havendo aulas aos sábados, na parte da manhã, seguia até a feira com alguns trocados, a fim de comprar milho para as galinhas que mamãe começara a criar no quintal. Com o passar do tempo, descobri que ao final da feira, os vendedores baixavam os preços das mercadorias, para não terem o trabalho de voltar para as suas roças com as mesmas. Assim se pela manhã eu comprasse o milho, por sete ou oito litros por um mil réis, com certeza ao final da feira, facilmente eu acharia do mesmo tipo de milho, por 14 ou 15 litros pelos mil réis.
Papai e Mamãe se regozijavam com as minhas habilidades em descobrir um milho mais barato e da mesma qualidade e dessa forma comecei também a comprar farinha, pois Mamãe achou que o milho e a farinha juntos, produziam melhor efeito junto aos galináceos. Comiam mais à vontade e produziam uma boa quantidade de ovos diariamente.
Mas o tempo passou e em janeiro de 1941 fui a Salvador em companhia de tio Júlio, pois em fevereiro, iria submeter-me ao famigerado exame de admissão ao ginásio. No intervalo entre a nossa ida a Iguaí, no fins de1939 e o retorno em meados de janeiro de 1941, tio Júlio comprara uma casa à rua do Alvo número 38, deixando definitivamente aquele casarão da rua da Poeira 57.
Meus avós maternos, tia Licinha e tia Dulce acompanharam na mudança e quando eu cheguei já encontrei minha prima Dalva, ocupando um quarto contíguo ao de tia Licinha. Não havendo quarto para eu ficar, me instalaram no corredor que ficava entre o quarto de meus avós e um pequenino quarto que servia para colocar as imagens dos santos da predileção de vovô Manta.
A casa da rua do Alvo possua a parte térrea e o primeiro andar além de pequeno SÓTÃO.
Na parte térrea, a porta da rua dava logo de frente a um vasto corredor que iria até a sala de jantar, nos fundos. À sua esquerda, entrava-se na sala de visitas que tinha duas janelas voltadas para a rua. Vizinha à sala de visitas, havia uma outra sala, que às vezes funcionava como quarto. Prosseguindo pelo corredor, sempre à esquerda, víamos a porta do segundo quarto, uma porta que dava acesso a uma escada que seguia para o andar superior, uma terceira porta, onde ficava um quartinho para guardar poucos objetos e uma outra porta, que ligada ao quarto vizinho à sala de jantar. Esse era o quarto preferido por tia Edite, que ali se alojava com tia Dulce, quando tio Júlio estava em viagem.
Todo o andar térreo, possuía forro de madeira, exceção feita à sala de jantar, que era coberta com telhas . A esquerda da sala de jantar, encontrava-se uma cozinha e depois dela, um banheiro provido de torneira e logo em seguida um sanitário, Na parte da direita, um pequeno retângulo acimentado e um pequenina área com terra.(Era o quintal da casa). Subindo as escadas que ficavam na parte média do corredor, seguia-se ao andar superior.Subindo as escadas que ficavam nas parte média do corredor, seguia-se para o andar superior.
Da frente para o fundo, notava-se o quarto de tia Licinha tendo ao lado o quartinho dos santos. Em linha reta, o corredor onde sempre fiquei e ao fundo o espaçoso quarto dos meus avós. Do lado esquerdo do corredor, havia uma porta, que nem sempre se abria, pois levava por uma escada, ao referido sótão mencionado linhas atrás.

SÓTÃO: Parte de uma construção entre o forro e a armação do telhado, usado geralmente como depósito de objetos de pouco uso.


Em princípio de janeiro de 1941,tio Júlio Dantas, já citado na primeira estória, estava aqui em Poções, hospedado na " República dos Viajantes", somente para dormir, pois fazia todas as refeições, na pensão do Sr.Arlindo Carvalho, e sabedor que eu iria submeter-me aos exames de admissão ao ginásio, em Salvador,enviou um recado a Papai, dizendo se não seria bom Irundy vir a Poções,porque daqui nós iríamos
juntos.
Nós,  havíamos passado por aqui em fins de novembro de 1939 e o que acontecera comigo, desde aquela data, até janeiro de 1941 ?...
Quando saímos de Salvador em novembro de 39, Papai tivera o cuidado de trazer os meus documentos escolares, dando-me aptidão para continuar o quarto ano primário. Iguaí naquela época, não possuía nenhuma escola pública, nem estadual e nem municipal.Então aí por volta dos meados de janeiro de 1940,apareceu por lá, um senhor com um defeito na coluna vertebral, professor formado, casado com dois filhos  e colocou um aviso no serviço de alto-falantes que iria ministrar as aulas de caráter particular. Foi aquela correria.A escola ,era uma casa que ele . Prof. Miguel, alugara  e com  o auxílio de sua esposa,conseguiu colocar para funcionar com apenas 16 alunos,  considerando-se  o tamanho da sala, cujas janelas eram voltadas para a rua.
Nos dois primeiros meses iniciais,notamos que o Prof. Miguel não conseguiria levar avante a sua intenção,
Era  por demais violento. Brigava com os alunos, dava cascudos ou piparotes nas cabeças, bolos nas mãos com aquela palmatória da madeira.(Certo dia ,fui generosamente agraciado com um bolo em cada mão.)
Às vezes, punha os meninos ajoelhados sobre grãos de milho num dos cantos da sala. E uma série de coisinhas tais, que foram chegando aos ouvidos dos pais que começaram a se reunir para tomar umas providências legais. E o final foi drástico. Ou ele saía da vila ou a policia iria ser  acionada.O Prof. Miguel,achou por bem ou por mal mudar-se para bem longe de Iguaí. Nesse meio termo,apareceu uma Professora, por nome ESTER GALVÃO GONÇALVES, com todas as letras maiúsculas colocadas por mim mesmo, para homenagear uma das  pessoas mais gradas que conheci em todos os meus anos de vida, em todos os ramos de qualquer atividade.DEUS A GUARDE SEMPRE EM BOM LUGAR.
Com os ensinamentos adquiridos lá em Iguaí, ao final de dezembro, tia Edith, irmã de mamãe, já enviava as primeiras cartas, alertando que os exames de admissão, iriam ser realizados, provavelmente em principíos de fevereiro, antes do Carnaval.
Quando então,  papai, recebeu o recado de tio Julio, vim quase de imediato a  Poções.
A pressa de nada adiantou, pois fiquei aqui de molho, bem  uns três dias. Foi aí então, que comecei a conhecer de perto esta Cidade. Hospedado, juntamente com tio Julio, na República dos Viajantes, verifiquei que a Cidade, naquela época ,se resumia à praça comercial.
 Ainda retenho na memória, as casas comerciais: Farmácia Rolim, Daniel José Alves, Abel Magalhães,Casa Sarno, pois essas , perduraram por muito tempo com seus títulos em sua fachadas.Naquela praça, existiam duas árvores frondosas, que serviam até de apoio para os animais ficarem amarrados nos dias de feira.
Na outra praça, ficavam a pensão do Sr. Arlindo Carvalho, a Igrejinha e mais umas duas ou três casas, sem qualquer destaque especial.
A República dos Viajantes, já citada, ficava bem ao meio da ladeira,onde hoje é o inicio da Avenida Cônego Pithon. Dali opara cima só se via matagal.
No dia então, que tio Julio resolveu os seus afazeres comerciais, viajamos a Salvador . E aí...

À partir de 1941, comecei a participar de uma jornada por demais ingrata. Uma viagem de Salvador a Iguaí e vice-versa, girava em torno de quatro dias inteiros,se tudo ocorresse dentro dos "conformes". No primeiro dia , a viagem era de navio( o chamado "vapor", daquela época), que fazia o percurso de Salvador até Nazaré ( a conhecida Nazaré das Farinhas, que tantas vezes , o nosso falecido amigo Carlos Tôrres, citava á respeito), Por sinal, era a viagem mais gostosa. Aquela brisa entremeada com as águas do Atlántico e o rio Paraguaçu. As canoas que traziam e desembarcavam passageiros. Os apitos sonoros do vapor, quando cruzava com outras embarcações. Os acenos das pessoas conhecidas. Enfim , era uma festa, que nos preparava para encarar o restante da jornada.
No segundo dia, partíamos de trem, de Nazaré com destino a Jequié, numa viagem horrorosa. Um trem mal cuidado, com bancos de madeira, poeira à beça, durante todo o trajeto. Às vezes ,surgiam pessoas mal encaradas.Nas paradas das estações, entravam vendedores com alimentos, sabe-se lá como foram feitos, oferecendo aos passageiros, que em sua maioria, também compravam afoitos, naquela ânsia incontida. como se o mundo  fosse acabar naquele momento.Estudante, como eu, considerado pobre sempre,engolia em seco, mas, via aquilo tudo com asco e desprezo. Se tudo ocorresse bem, chegávamos em Jequié nas primeiras horas do anoitecer.
No terceiro dia, aí sim, era o sofrimento maior . Onde arranjar transporte?
Quando surgia um caminhão que viesse para esse destino,Poções, no caso,era um corre-corre desmedido.
Não quero dizer, que todo aquele pessoal viesse para essas bandas, mas o certo que desciam do caminhão ao decorrer da estrada. Se o tempo estivesse firme, com sol , um caminhão bem equipado(é até engraçado falarmos em caminhão bem equipado),o motorista conseguia viajar de seis a oito horas entre Jequié e Poções, contando-se todas as paradas necessárias.
No quarto dia, como os animais já estavam aqui de véspera, seguíamos até Iguaí, montados, sendo que o acompanhante, levava a bagagem com ele.
 Como citei ao longo dessa página, se tudo, tudo fosse visto e ocorrido às mil maravilhas, contando-se quatro dias de vinda de Salvador e mais quatro de volta, lá se iam oito dias  só em viagens. Então Papai achou melhor , que eu não viesse nas férias de meio de ano.Ia para as aulas em março e só retornava a Iguaí em dezembro. E aí...

No meio dessa sequência de viagens ,ia a Salvador em fins de fevereiro ou principio de março e só voltava em meados de dezembro, houve duas que não podemos esquecer.
Numa delas, saímos da Salvador numa SEGUNDA-FEIRA(maiúsculas para chamar atenção), com alguns colegas que no mesmo dia já estavam em casa, desfrutando do seu ambiente familiar.Em determinado momento, um deles disse assim:
---Não suporto viajar. Olhem que eu vou saltar em Santo Antonio de Jesus, que é aqui pertinho. Antes do meio dia estarei em casa.
Vale salientar, que foi construído um terminal marítimo no local chamado de Porto de São Roque, e o navio não prosseguia até Nazaré, pois o trem já estava ali aguardando todos os passageiros que iriam seguir viagem. Sendo assim, a nossa viagem já estava reduzida em um dia.Havia também um pequeno senão. O trem fazia uma parada para o almoço o que já atrasava a viagem em pelo menos uma hora. Tio Julio que passara por ali há pouco tempo, me instruiu, que eles serviam um prato de sopa bem quente, antes de colocar os demais pratos.E dessa forma apliquei os velhos ensinamentos.Coloquei salada, feijão arroz, carne, enfim o que tivesse na mesa. Só então tomaria a sopa. A contagem de tempo era tão bem organizada, que ao chegar nos últimos lances do almoço, o apito do trem, já avisava que a continuação da viagem estava próxima. 
No próprio trem, fiquei sabendo que na região de Jequié estava chovendo muito e de fato quando lá chegamos por volta das quatro da manhã, caía um TORÓ, de meter medo a qualquer um. Um rapaz, conhecido de Papai , por apelido Duca, estava à minha espera e me conduziu à sua residência. Ele era recentemente casado.Fui dormir. Quando acordei, por volta das nove da manhã de TERÇA -FEIRA,a esposa de Duca, me serviu um  delicioso café e me explicou, que ele fora avisado do atraso do trem no dia anterior.
Ao meio dia Duca voltou do trabalho e me falou que até o momento, não havia aparecido nenhum caminhão para o prosseguimento de minha viagem. E isso ocorreu, quase às quatro e meia da tarde. Subi na carroceria, com a minha pequena maleta e fomos enfrentar a estrada lamacenta até que, mais ou menos às oito da noite, o caminhão caiu num buraco  e tivemos que retornar em outro veículo, a Jequié, chegando à casa de Duca novamente, quase a meia noite. Ao me ver, o mesmo exclamo---Irundy,você ainda por aqui. ?!...
Na QUARTA-FEIRA, após o almoço, conseguimos um outro caminhão, que conseguiu aos trancos e barrancos, chegar em Cachoeira de Manoel Roque, hoje Manoel Vitorino, quase às seis horas da tarde. Felizmente não estava chovendo. Mas o motorista, preferiu pernoitar por ali mesmo. Arranjou-se uma pensão,  para passarmos a noite, depois de jantarmos, uma comidinha feita às pressas, pois a dona da pensão não esperava  , tanta gente de uma vez só.
Na QUINTA-FEIRA, após o café, seguimos viagem, chegando em Poções à tardinha, sem termos tido nenhuma confusão.
Poções, continuava no mesmo de sempre. Evolução praticamente nenhuma.
Como sempre, fui hospedar-me na Pensão do Sr. Arlindo Carvalho.
Eram cerca de cinco da tarde, quando uma das empregadas da pensão, foi ao meu quarto, dizendo que na porta estava um senhor querendo falar comigo.Fui ver quem era.
Um senhor, aparentando estar perto dos quarenta anos, baixo, meio gordo,avermelhado, pensei a principio estar em presença de um parente do Sr. Arlindo Carvalho, que se identificou como sendo Bernardo Espinheira Messias.
---Sou amigo do seu pai e vim buscá-lo para ficar conosco em nossa residência.
Fui pegar a bagagem e falei com a moça que depois viria acertar a hospedagem da pensão.
No trajeto para a casa dele, o Sr. Bernardo disse-me que quando recebeu o recado vindo de Iguaí, o caminhão havia chegado antes e por isso ele fora me procurar àquela hora.Disse-me também, que devido as chuvas, os animais iriam atrasar um pouco e provavelmente só poderíamos viajar no sábado.
Na residência do Sr.; Bernardo, conheci a sua esposa, por nome Enedite , um garoto pequeno com uns três anos de idade, por nome Carlos Nei e uma menina quase recém -nascida, chamada de Rosa..
Tomei banho, jantamos e o resto da noite fiquei brincando com o Carlos Nei em cima de um tapete da sala, com os brinquedinhos dele.
Na SEXTA-FEIRA,saí após o café com o Sr. Bernardo ,que trabalhava numa Coletoria e fui rever os pontos principais da Cidade.
Somente à tarde, um rapaz chegou com dois animais e fui avisado que no sábado logo cedo, iriamos a Iguaí.
De fato, no SÁBADO, após o café ,despedi-me do Sr. Bernardo,de Dona Enedite e em companhia do rapaz, começamos a galgar a última etapa da viagem. Eram 57 quilômetros, de Poções até lá. Atravessamos muitos rios cheios o que dificultou mais ainda o nosso percurso. O fato é que no meio da tarde, chegamos no mesmo local, que anos atrás Papai repousara com toda a nossa família.
Somente no DOMINGO, próximo o meio dia, chegamos ao portão lá de casa. Uma semana inteira viajando de Salvador a Iguaí. Também foi a primeira e última. Quando mamãe me viu exclamou:
---Meu filho, há quanto tempo !...       E aí...

A estrada de rodagem, Poções-Iguaí , passando por Nova Canaã, era lastimável.
Um certo dia, Papai chegou em casa dizendo que um caminhão iria sair pouco depois das dezesseis  horas e eu me preparasse para viajar nele, à Poções. O tempo estava ameaçador. Nuvens negras já se formavam ao longe. Na hora aprazada, subi na carroceria em companhia de uma meia duzia de pessoas, fora as que estavam na boléia ao lado do motorista.A viagem estava tranquila até Canaã , quando se formou repenti- namente uma tempestade daquelas que estava a acostumado a ver naquela zona da mata,embora nunca tivesse viajado com uma delas. Era costume naquele tempo, colocar-se correntes nas rodas dos caminhões,  porque a subida chamada de SETE VOLTAS OU CAPA BODE, era sumamente perigosa.Os veículos derrapavam muito e ninguém se aventurava a subir ou descer aquela serra. Embaixo da lona, o pessoal começou a cochichar, demonstrando inquietação e medo. De vez em quando eu ajeitava o meu chapéu de feltro, que Papai comprara, por causa da poeira durante a viagem de trem. Devido ao movimento do caminhão, a lona de vez em quando desarrumava o chapéu da cabeça e tornava recolocá-lo.
Eis que, em certo momento, devido a incessante chuva, entremeada com relâmpagos, raios e trovões, o caminhão resvalou e caiu num buraco. O motorista e o ajudante, debaixo daquela chuva torrencial, tentaram de todos os jeitos e maneiras , safar o veículo do buraco,mas não conseguiram. A noite se avizinhava e o empecilho estava formado. Um dos passageiros falou ao motorista:
---Olhe, aqui perto mora um amigo meu, e nós poderíamos pedir abrigo por esta noite.
Todos concordaram em fazer aquela tentativa. Porque passar a noite em baixo daquela lona com aquela chuva toda, não era programa pra ninguém.
Por sorte nossa( em parte ,diga-se de passagem) o dono da casa, possuía uma espécie de barracão, acho que para armazenar mercadorias de todos os tipos.Era um salão grande e alto, tendo lá no fundo umas divisórias,  possivelmente quarto e cozinha para ele e a esposa. Não vi nenhuma criança.
Uns homens mais desenvoltos, começaram a comandar aquele estado de coisas.Assim, é que foram distribuídas para todos, umas lascas de lenha, que iriam servir de cama. No centro do salão, armaram uma pequena fogueira, para nos aquecer durante a madrugada.Alguém, que trazia consigo, requeijão, mel e farinha, vendeu a todos determinados quinhões, por preço relativamente razoável e foi um jantar do qual não tenho saudades. Requeijão horrível !. Mel, onde as abelhas deveriam ter passado a uns mil quilômetros. Farinha? daquelas bem grossas, para não escapar dos sacos. Só salvou-se mesmo, a água, que por certo a dona da casa, aparou, logo após, a chuva ter lavado bem a cobertura da casa.
Agora, vamos dormir!
Pergunta-se : ALGUÉM, QUE ESTÁ LENDO ESSE RELATO, JÁ DORMIU ALGUMA VEZ,EM CIMA DE ALGUMAS LASCAS DE LENHA, SOBRE UM CHÃO ÚMIDO E DURO E AINDA COM  A CHUVA CAINDO LÁ FORA ?
Aos poucos, o pessoal foi parando de conversar e o sono finalmente, chegou para todos.
Meu travesseiro, foi o chapéu de feltro.
Lá para as tantas da madrugada, alguém , sem fazer barulho, sorrateiramente, se deslocou entre todos que dormiam profundamente e saiu solicitando uma lasca de lenha de sua cama, para colocar na fogueira a fim de que a mesma não se apagasse.
Felizmente o dia estava amanhecendo. A chuva cessara.
Mas , comecei a perceber uns piados incessantes ao meu lado direito. Os piados aumentavam aos poucos,à medida que se aproximavam de mim.  Fui raciocinando sobre o que poderia estar acontecendo:
---"Seria uma cobra pequena, que devido a chuva, esgueirou-se e estava por ali para aquecer-se ?".
Quando então, notei,  que o piado estava quase próximo ao meu ouvido do lado direito, num ímpeto de coragem, virei=me rápido e com a mão esquerda agarrei algo quente. Com a claridade da fogueira, percebi que segurara o pescoço de um filhote de perua.
QUE ALÍVIO !
O dia clareou e aos poucos cada qual procurou lavar o seu rosto e enxaguar a boca num pequeno córrego formado pela própria chuva durante a noite.
Os homens se prontificaram em ajudar ao motorista e ao ajudante e em pouco tempo conseguiram desvencilhar o caminhão do buraco.
O restante da viagem foi tranquila e chegamos a Poções, por volta das dez da manhã.  






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