quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( p 38 )

A turma que concluiu o curso ginasial em 1962, ficou praticamente o ano todo de 1963, sem poder dar continuação aos seus estudos aqui na Cidade. Pouquíssimos foram aqueles que se aventuraram em sair de Poções.
Em julho, porém , “ Seu Deco”, Hidelbrando Alves Rocha, padrinho de Noélia, vindo de Salvador, fez a primeira visita, lá em casa, para dizer que o sogro dele, “Seu Dourado”, um nome já citado algumas vezes nestes escritos, Antônio Dourado de Castro Primo, estava tentando junto a CNEG ( Campanha Nacional de Educandários Gratuitos), para que aquela Entidade trouxesse o curso de magistério para Poções. Seu Deco , que não era muito “chegado”em guardar certos segredos, começou a comentar o fato com alguns amigos seus e em poucos dias a notícia se espalhou pela Cidade. Aí, alguns comentários começaram a surgir:- ---Será que essa tal de CNEG, não irá querer algo em troca?
---Poções terá mesmo um curso de segundo grau, de mão beijada?
Em setembro, porém, as conversas começaram a se desenvolver. Seu Dourado., Através da direção da Fundação Ginásio de Poções, convidou as pessoas interessadas e na reunião expôs que a CNEG estava se espalhando por todo o território nacional e de preferência em cidades mais carentes. Para isso, a Prefeitura doaria um terreno e eles construiriam prédio escolar. Como em Poções, o prédio, estrava chegando nos últimos preparativos, isso facilitaria mais ainda a sua instalação. A CNEG, assim que recebesse a doação do terreno por parte da prefeitura, ela mesma se encarregaria de movimentar toda a papelada necessária para o bom funcionamento do curso ginasial e a implantação do curso de magistério. Posteriormente, enviaria todo o mobiliário necessário, para que o novo prédio ficasse bem equipado. O Setor Local, como seria chamado o grupo de dirigentes da nova Entidade, ficaria encarregado de arregimentar o corpo docente, a parte administrativa e burocrática daqui mesmo. Marcou-se outra reunião para outubro, pois as papeladas oficiais teriam que ser dada entrada, até o dia 30 daquele mês, objetivando com aquilo, dar um pleno funcionamento ao novo ginásio, à partir de 1964. Os professores presentes se prontificaram a continuarem lecionandos inclusive aqueles que fossem escolhidos para ensinar no curso de magistério.
Em fins de novembro, acompanhando o Sr. Dourado, vieram dois funcionários do Conselho Estadual de Educação, visitar o prédio que ainda estava sendo construído. Mesmo sem estar concluído, o tamanho do prédio com dez salas de aula, com dependências para  a diretoria, secretaria, sala para o corpo docente, sanitários masculino e feminino para os professores, com madeiramento e telhado de primeira linha, com área em frente e atrás do prédio e nas laterais, estendendo-se até as margens da Rio Bahia, forneceram subsídios nota dez, para a aprovação dos conselheiros visitantes. Como o prédio em março , ainda não estaria pronto para funcionar ao reinicio das aulas, os conselheiros firmaram um documento, dando um prazo até agosto de 1964.

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Depois daquela vistoria, o grupo seguiu até o prédio do Isaias Alves, onde observaram que três salas estavam em bom estado, mas uma quarta sala bem pequenina, na parte da frente do prédio, não oferecia boas condições físicas para abrigar um determinado  número de alunos. Explicou-se, que de fato no inicio, o Estado havia emprestado o prédio para o funcionamento do curso ginasial e deixava-se aquela saleta para depósito de materiais de consumo, mas no ano de 1962, houve a necessidade de abrigar ali, a quarta série ginasial, tendo em vista que as aulas só eram lecionadas no turno matutino. Prontamente eles perguntaram:
---E o curso de magistério como iria funcionar antes de passarem definitivamente para o novo prédio?
A resposta também  veio de imediato:
---Todos já concordaram que o curso de magistério irá funcionar no turno vespertino.
O certo é que o casal de conselheiros voltou a Salvador, embevecidos com a acolhida, que todos nós demos a eles, por verificarem “IN LOCO”, que uma cidade de médio porte como a nossa, estava com um prédio de fazer inveja a muitos bairros de Salvador e de cidades do mesmo tipo.
---Nó você continuará os seus estudos. Dentro de alguns meses, se tornará minha aluna--- disse eu a ela ,logo após a ida dos dois conselheiros.
Noélia ficou radiante com o acontecimento. Seriam só três anos e em breve estaria com o seu diploma seguro, sem precisar estar passando por professora leiga.
No dia 23 de dezembro, eu completaria dez anos de formado em Odontologia, mas sendo uma segunda feira,[i] achamos por bem antecipar para o sábado 21, uma pequena comemoração com alguns de nossos parentes. Nó, como foi sempre prendada em matéria de salgadinhos e docinhos, organizou tudo e ainda fez um bolo, colocando o número 10 em cima do mesmo. Foi uma noite agradável, com a presença também dos nossos vizinhos Érico e esposa.
Dias depois participamos do Réveillon e na tarde do dia primeiro de janeiro de 1964,  embora no clube não houvesse a festinha para as crianças, em casa mesmo, relembramos os nossos 12 anos de convivência, agora com  mais duas criancinhas.
Janeiro correu célere e a nossa expectativa era o reinicio das aulas logos após os exames de admissão, no mês de fevereiro. Para surpresa de todos,  o Dr. Alcides Pinheiro dos Reis, que por algum tempo ficou substituindo o primeiro diretor  na pessoa do Dr. José Carlos Peixoto Pereira , solicitou demissão do cargo, alegando motivos pessoais. Mesmo assim , as provas do exame de admissão foram realizadas pela banca examinadora, constituída antes do seu afastamento definitivo.
“IN LOCO” : locução adverbial latina que significa : no mesmo lugar.

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