A turma que concluiu o curso
ginasial em 1962, ficou praticamente o ano todo de 1963, sem poder dar
continuação aos seus estudos aqui na Cidade. Pouquíssimos foram aqueles que se
aventuraram em sair de Poções.
Em julho, porém , “ Seu Deco”,
Hidelbrando Alves Rocha, padrinho de Noélia, vindo de Salvador, fez a primeira
visita, lá em casa, para dizer que o sogro dele, “Seu Dourado”, um nome já citado
algumas vezes nestes escritos, Antônio Dourado de Castro Primo, estava tentando
junto a CNEG ( Campanha Nacional de Educandários Gratuitos), para que aquela
Entidade trouxesse o curso de magistério para Poções. Seu Deco , que não era muito
“chegado”em guardar certos segredos, começou a comentar o fato com alguns
amigos seus e em poucos dias a notícia se espalhou pela Cidade. Aí, alguns
comentários começaram a surgir:- ---Será que essa tal de CNEG, não irá querer
algo em troca?
---Poções terá mesmo um curso de
segundo grau, de mão beijada?
Em setembro, porém, as conversas começaram
a se desenvolver. Seu Dourado., Através da direção da Fundação Ginásio de
Poções, convidou as pessoas interessadas e na reunião expôs que a CNEG estava
se espalhando por todo o território nacional e de preferência em cidades mais carentes.
Para isso, a Prefeitura doaria um terreno e eles construiriam prédio escolar.
Como em Poções, o prédio, estrava chegando nos últimos preparativos, isso
facilitaria mais ainda a sua instalação. A CNEG, assim que recebesse a doação
do terreno por parte da prefeitura, ela mesma se encarregaria de movimentar
toda a papelada necessária para o bom funcionamento do curso ginasial e a implantação
do curso de magistério. Posteriormente, enviaria todo o mobiliário necessário,
para que o novo prédio ficasse bem equipado. O Setor Local, como seria chamado
o grupo de dirigentes da nova Entidade, ficaria encarregado de arregimentar o
corpo docente, a parte administrativa e burocrática daqui mesmo. Marcou-se
outra reunião para outubro, pois as papeladas oficiais teriam que ser dada entrada,
até o dia 30 daquele mês, objetivando com aquilo, dar um pleno funcionamento ao
novo ginásio, à partir de 1964. Os professores presentes se prontificaram a continuarem
lecionandos inclusive aqueles que fossem escolhidos para ensinar no curso de
magistério.
Em fins de novembro, acompanhando
o Sr. Dourado, vieram dois funcionários do Conselho Estadual de Educação,
visitar o prédio que ainda estava sendo construído. Mesmo sem estar concluído,
o tamanho do prédio com dez salas de aula, com dependências para a diretoria, secretaria, sala para o corpo
docente, sanitários masculino e feminino para os professores, com madeiramento
e telhado de primeira linha, com área em frente e atrás do prédio e nas laterais,
estendendo-se até as margens da Rio Bahia, forneceram subsídios nota dez, para
a aprovação dos conselheiros visitantes. Como o prédio em março , ainda não
estaria pronto para funcionar ao reinicio das aulas, os conselheiros firmaram um
documento, dando um prazo até agosto de 1964.
x.x.x
Depois daquela vistoria, o grupo
seguiu até o prédio do Isaias Alves, onde observaram que três salas estavam em
bom estado, mas uma quarta sala bem pequenina, na parte da frente do prédio,
não oferecia boas condições físicas para abrigar um determinado número de alunos. Explicou-se, que de fato no
inicio, o Estado havia emprestado o prédio para o funcionamento do curso
ginasial e deixava-se aquela saleta para depósito de materiais de consumo, mas
no ano de 1962, houve a necessidade de abrigar ali, a quarta série ginasial,
tendo em vista que as aulas só eram lecionadas no turno matutino. Prontamente
eles perguntaram:
---E o curso de magistério como
iria funcionar antes de passarem definitivamente para o novo prédio?
A resposta também veio de imediato:
---Todos já concordaram que o
curso de magistério irá funcionar no turno vespertino.
O certo é que o casal de conselheiros
voltou a Salvador, embevecidos com a acolhida, que todos nós demos a eles, por
verificarem “IN LOCO”, que uma cidade de médio
porte como a nossa, estava com um prédio de fazer inveja a muitos bairros de
Salvador e de cidades do mesmo tipo.
---Nó você continuará os seus
estudos. Dentro de alguns meses, se tornará minha aluna--- disse eu a ela ,logo
após a ida dos dois conselheiros.
Noélia ficou radiante com o
acontecimento. Seriam só três anos e em breve estaria com o seu diploma seguro,
sem precisar estar passando por professora leiga.
No dia 23 de dezembro, eu
completaria dez anos de formado em Odontologia, mas sendo uma segunda feira,[i]
achamos por bem antecipar para o sábado 21, uma pequena comemoração com alguns
de nossos parentes. Nó, como foi sempre prendada em matéria de salgadinhos e
docinhos, organizou tudo e ainda fez um bolo, colocando o número 10 em cima do
mesmo. Foi uma noite agradável, com a presença também dos nossos vizinhos Érico
e esposa.
Dias depois participamos do
Réveillon e na tarde do dia primeiro de janeiro de 1964, embora no clube não houvesse a festinha para
as crianças, em casa mesmo, relembramos os nossos 12 anos de convivência, agora
com mais duas criancinhas.
Janeiro correu célere e a nossa
expectativa era o reinicio das aulas logos após os exames de admissão, no mês
de fevereiro. Para surpresa de todos, o
Dr. Alcides Pinheiro dos Reis, que por algum tempo ficou substituindo o
primeiro diretor na pessoa do Dr. José
Carlos Peixoto Pereira , solicitou demissão do cargo, alegando motivos
pessoais. Mesmo assim , as provas do exame de admissão foram realizadas pela
banca examinadora, constituída antes do seu afastamento definitivo.
“IN LOCO”
: locução adverbial
latina que significa : no mesmo lugar.
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