terça-feira, 20 de agosto de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( p 41 )

À medida que eu fui me aproximando, ele diminuiu os passos e me disse sem muitos preâmbulos:
---Estou ciente, que agora o senhor é o novo diretor do ginásio.
--- Sim, sim sou eu mesmo. De que se trata Seu Ziziu?
---Aquele pessoal que esteve aqui prometendo que se fosse aberto o curso de magistério, já resolveu alguma coisa? Ainda não li nada nos jornais e nem no Diário Oficial do Estado da Bahia. Não seria bom o senhor verificar isso de perto...
Seu Ziziu Andrade, pai  de uma nossa aluna Marilene Moreira Andrade e do nosso amigo Valmir Andrade, que era uma pessoa muito reservada, por alguns minutos abriu-se comigo, denotando grande preocupação, com o que estava acontecendo até então. Nós já estávamos caminhando para o final do ano letivo e não havia mesmo, até aquela data, nenhuma garantia de que o curso de magistério estivesse com os seus dados oficiais. Então na primeira visita do senhor Dourado a esta cidade, apresentei ao mesmo esses detalhes e um pouco da conversa que houvera tido com o senhor Ziziu, pedindo que ao retornar a Salvador, fizesse uma visita aos membros do Conselho Estadual de Educação. Foi um tiro certeiro.
Dias depois, lemos no Diário Oficial do Estado da Bahia, o funcionamento do curso de magistério, no Centro Educacional de Poções, entidade pertencente a CNEG.
Os nossos leitores devem ter percebido que perdi muito tempo analisando detalhes do que sempre aconteceram aqui em Poções, detalhes estes, que fazem parte de minha autobiografia, sempre focalizando o setor da educação nessa cidade, onde muitos vultos que trabalharam por ela,  sequer foram lembrados para terem seus nomes gravados ou homenageados em uma sala de aula, num prédio escolar, numa rua ou algo que lhes deem destaque pelo muito que fizeram. Ao mesmo tempo, observei que diversos nomes de outras pessoas estão colocados como homenagem por nada que fizeram nesta cidade. Questão política, para agradar seu beltrano ou seu sicrano. Observem alguns nomes que irei citar e que mereceriam estar colocados como destaques nos lugares em que eles atuaram.
Dona Anina Sarno esposa do nosso saudoso amigo Corinto Sarno, que batalhou intensamente na célebre “Campanha do Cruzeiro”, em beneficio da construção da Igreja Matriz, já foi lembrada alguma vez?  Os batalhadores incansáveis pelo CNEG e mais tarde CNEC, como Hidelbrando Alves Rocha, Antônio Dourado de Castro Primo, José Gomes Sobrinho, Milton Laudelino Silva, já receberam alguma homenagem, pelo menos lá no prédio, onde hoje funciona o Grupo Escolar Luiz Heraldo Curvêlo e que antigamente abrigou a ex- CNEC? E a memória do povo de Poções?
O fato é que ao lermos no Diário Oficial, a autorização dada pelo CEE ( Conselho Estadual de Educação), foi uma euforia geral. Não cheguei a encontrar o nosso amigo Ziziu, mas enviei um recado por sua filha Marilene.
                                                              

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Com o esquema que eu montei tudo correu as mil maravilhas. As aulas foram ministradas normalmente, mas ao chegarmos ao final do ano, sempre havia aquele grupinho de alunos que sempre iam fazer provas finais ( hoje em dia chama-se provas de recuperação). Mas felizmente com eles, tudo correu bem e chegamos ao final de 1964 com mais uma missão cumprida.
Comemoramos o nosso Natal e a resta de Réveillon, dentro dos moldes a que estávamos já habituados. Logo ao iniciar-se o ano de 1965, recebemos uma comunicação do CADES ( Curso de Aperfeiçoamento e Desenvolvimento do Ensino Secundário),para que o maior número de professores, estivessem  presentes durante o mês de janeiro em Salvador. A primeira vez  fora realizado em Vitória da Conquista em 1961 e novamente seguimos para lá. Hospedamo-nos à Rua Direita da Piedade número 9, onde o próprio Omar ainda mantinha o pensionato que há poucos anos atrás tivemos o prazer de passar ali bons momentos. O Curso foi realizado no Colégio Central, situado a Avenida Joana Angélica, bem próximo de onde estávamos, e íamos andando na ida e na volta todos os dias. O ambiente de um modo geral foi bem melhor que o realizado em Conquista, no aspecto físico e na organização. É claro que com o tempo, os organizadores visavam aprimorar, mais o curso, notadamente na apresentação do conteúdo das disciplinas. Ao final de quatro semanas cansativas e saudosos de nossas pequerruchas Sybele e Mercês, retornamos de Salvador com muitas inovações, para por em prática, assim que recomeçassem as aulas. Felizmente retornei também, às minhas atividades, onde alguns clientes haviam interrompido seus tratamentos dentários.
A esposa de um funcionário do Banco do Brasil local enviou uma comunicação a alguns pais interessados, que ela estaria ministrando um cursinho para criancinhas de 4, 5 e 6 anos de idade, a fim de que as mesmas começassem a tomar conhecimento das primeiras letras do alfabeto, ou seja, o que hoje em dia chamamos de curso de alfabetização. Foi uma novidade para Poções e então colocamos todas as duas filhas, pois Sybele em outubro estaria completando seis anos, enquanto Mercês em setembro, já faria cinco. Foi jogar dinheiro fora. Com o tempo descobrimos que a tal “professora”, chegou nesta cidade, com ideia exclusiva de ganhar dinheiro dos incautos. Nossas meninas não aprenderam nem onde estava letra A, quanto mais  as outras letras do alfabeto. Quando as demais pessoas foram descobrindo a malandragem da madame, foram, retirando os seus filhos até esvaziar a tal escolinha. Fez-me lembrar até,da escola do Professor Miguel em Iguaí  há alguns anos atrás.
Desde o primeiro aninho de Sybele, dona Nó habituou-se a comemorar o seu aniversário e depois seguiu o mesmo esquema com a vinda de Mercês. Acontece que nesses primeiros anos de vida, a criança não entende nada daquilo que está se passando em sua volta. Entendo de minha parte, que tais comemorações, servem mais para as mamães satisfazerem o seu ego, apresentando à sociedade da qual faz parte, a sua parcela de contribuição. Verifiquei, entretanto, que depois que as meninas estavam já com os seus três, quatro e cinco anos, é que observavam aquele movimento  de pessoas ao seu redor e de fato ficavam radiantes em olhar os “presentes” que recebiam após abertos os seus invólucros. Essa história repetiu-se por vários e vários anos e Sybele e Mercês ficavam embevecidas com  a passagem daquele evento.


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