Copa do Mundo FIFA de 1978
A Copa do
Mundo FIFA de 1978 foi a 11ª Copa do Mundo disputada, e contou com a
participação de 16 países. 107 países participaram das eliminatórias. O
campeonato ocorreu na Argentina.
Foi uma copa
cercada de polêmicas. Muito se deveu ao clima político vivido na Argentina. O
país vivia uma brutal ditadura imposta pelos militares, que viram na
organização do torneio a oportunidade ideal para popularizar o regime e
promover a distração nacional dos problemas políticos e econômicos. Uma
autêntica política de "pão e circo".
O craque holandês, Johan Cruijff, se recusou a jogar a Copa,
supostamente como forma de protesto contra o regime militar. A organização
também apresentou muitas falhas. Os estádios ficaram, em alguns lugares,
prontos na última hora, e por isso os gramados recém-plantados se soltavam sob
os pés dos jogadores.
Enquanto a Argentina sediou
quase todos os seus jogos em Buenos Aires, os principais rivais faziam um
"tour" pelo país, se desgastando com longas viagens.
No grupo da
Argentina, a Itália roubou
a cena e venceu os seus três jogos da primeira fase. Com um gol de Bettega, despachou os donos da casa, 1 x 0.
Era a geração de Paolo Rossi, Conti e Scirea começando a brilhar. A Argentina
venceu Hungria e França,
ambas por 2 x 1 e ficou com a segunda vaga. O bom time francês não levou sorte
e acabou eliminado. Craques como Rocheteau, Platini, Tigana e Six brilhariam mais quatro anos depois
(Marques, Armando - 2002 - "Todas as Copas do Mundo").
No grupo do Brasil,
outro drama pós-70. A seleção canarinho, perdida em meio aos malabarismos
táticos do técnico Cláudio Coutinho,
não empolgava. O time era lento, apático e não se encontrava. Possuía dois
jogadores da verdadeira linhagem de camisas 10, Zico e Roberto Rivellino(tricampeão em 1970), mas
nenhum dos dois brilhou. No primeiro jogo, o Brasil empatou com a Suécia por
1 x 1. Neste jogo uma curiosidade: no último lance do jogo, há um escanteio a
favor do Brasil. A bola é centrada na área e Zico marca um gol de cabeça. Mas o
árbitro galêsClive
Thomas anulou o gol, argumentando que encerrou o jogo com a
bola no ar, após o córner. O Brasil ainda empatou com a Espanha em
0 a 0. E só se classificou ao vencer a Áustria no
terceiro jogo, 1 x 0, gol de Roberto Dinamite.
Mesmo com a derrota, a Áustria, que vencera os dois primeiros jogos, ficou com
a outra vaga.
A Holanda, sem Rinus Michels e Cruijff, não era a mesma
e também teve dificuldades em se classificar. Venceu o fraco Irã por
3 a 0, depois empatou com o Peru em
0 a 0 e perdeu da Escócia por
3 a 2. O Peru foi a grande sensação do grupo, com seu futebol clássico e
técnico, que tinha Teófilo Cubillas como
seu principal artífice. Venceu, ainda na primeira fase, a Escócia por 3 a 1 e
goleou o Irã por 4 a 1.
Alemanha Ocidental e Polônia dividiram
as vagas de seu grupo entre si sem maiores dificuldades. Neste grupo, a Tunísia
fez história ao conquistar a primeira vitória de uma seleção africana em copas,
3x1 no México.
Estavam na segunda
fase: Argentina, Peru, Brasil e Polônia no Grupo A e Alemanha, Itália, Países
Baixos e Áustria no grupo B.
Na segunda fase, a
"Laranja Mecânica" reencontrou seu melhor futebol e embalou na Copa:
goleou a Áustria por 5 x 1; empatou com a Alemanha Ocidental em 2 x 2 e ganhou
da favorita Itália 2 x 1, conseguindo uma vaga para a final.
No grupo de Brasil
e Argentina, o maior escândalo da história das Copas. O Brasil, modificado com
as entradas de Rodrigues Neto, Jorge Mendonça e Roberto Dinamitenos lugares de Edinho, Zico e Reinaldo, se recuperou da apatia da 1ª fase e
venceu o Peru por 3 a 0. A Argentina passou pela Polônia por 2 a 0. Em Rosário, argentinos e brasileiros duelaram
numa verdadeira batalha, mas o jogo ficou no 0 a 0. Foi jogo nervoso, pois
Coutinho escalou o jogador Chicão (falecido
em 2008) para intimidar os argentinos com um jogo duro e de marcação. Mas este
empate seria fatal para o Brasil. Na última rodada, a equipe venceu
tranquilamente a Polônia por 3 a 1. Com este resultado, restava à Argentina
vencer o Peru por 4 gols de diferença. Uma vantagem considerável, pois desde
que César Luis Menotti se
tornara técnico da seleção, os alvi-celestes jamais tinham vencido um jogo por
mais de 3 gols. O Peru, literalmente, abriu mão do direito de jogar, e levou
suspeitíssimos 6 a 0. Uma curiosidade: o goleiro peruano, Ramón Quiroga, era argentino de nascimento, e
falhou em vários gols.
Ao Brasil, restou
vencer a Itália na decisão de 3º lugar com um golaço de Nelinho,
onde a bola fez uma curva improvável e surpreendeu o experiente goleiro Dino Zoff. O outro gol foi marcado por Dirceu, o
grande destaque verde-amarelo no torneio.
Na grande final,
num Estádio Monumental de Nuñez lotado, os donos da casa queriam a revanche de
1974 e o título em 78! A Argentina pressiona e Mario Kempes abre o placar. Os holandeses
empatam com um belo gol de cabeça de Dirk
Nanninga. Aos 45 do segundo tempo, um susto para os argentinos:
Rensenbrink acerta a trave de Fillol, para alívio geral nas arquibancadas. Na
prorrogação, a Argentina atropela os Laranjas com dois gols - Kempes, de novo,
e Bertoni, vingando a derrota de 4 x 0 sofrida na Copa de 74. Para encerrar o
controvertido certame, o emblemático Coutinho, treinador da seleção brasileira,
soltou mais um de seus malabarismos linguísticos: "Nós somos os campeões
morais desta Copa!". Todavia, o título real ficou mesmo com a Argentina.
Curiosidades:
·
Pela primeira vez, as seleções ostentaram o
logotipo do fabricante no uniforme.
·
Foi a primeira Copa em que a Argentina usou o escudo da AFA, Associação de Futebol
Argentino no uniforme, nas Copas anteriores a camisa albiceleste estava sem o
devido escudo.
·
Foi a última Copa em que 16 seleções
participariam da fase final. A partir do Mundial da Espanha, em 1982, seriam 24
seleções.
·
O Brasil utilizou dezessete dos 22 jogadores
inscritos. Apenas quatro disputaram todos os jogos completos: Leão, Oscar,
Amaral e Batista.
·
Para disputar suas sete partidas, o Brasil
percorreu 4.659 quilômetros pela Argentina. Já a Argentina percorreu apenas
618.
·
A Seleção Francesa tentou, sem êxito, boicotar a
sua ida a Copa em resposta ao assassinato de freiras francesas por parte do
Regime Militar.
·
Na decisão entre as seleções da Argentina e
Holanda, um torcedor de 49 anos sofreu um ataque cardíaco no momento em que
atacante neerlandês Rob Rensenbrink acertara a trave do goleiro
argentino Ubaldo Fillol, porém foi socorrido a tempo de
festejar a conquista inédita do título.
·
Os holandeses viraram de costas para o
sanguinário ditador Jorge Rafael Videla na hora de receberem
as suas medalhas de prata.
·
Esta Copa protagonizou o segundo escândalo de
doping da história do torneio. O meia escocês Johnstone foi
flagrado nos exames antidoping na partida em que sua seleção foi derrotada pelo Peru por 3x1. Johnstone,
após o anúncio do doping, e de seu desligamento da delegação, fez as malas, e
voltou para casa mais cedo. Depois do episódio, ele nunca mais foi convocado
pelaEscócia em competições
internacionais.
·
No jogo Brasil e Suécia na 1ª fase, o jogo estava
empatado em 1x1 até os acréscimos no final da partida, quando houve um
escanteio a favor do Brasil. Quando o escanteio foi
cobrado, o meia brasileiro Zico subiu de cabeça, e marcou o que seria o gol da
vitória brasileira. Estranhamente, o juiz galês Clive Thomas encerrou o jogo,
para desespero do time brasileiro. Sua alegação foi que ele terminara o jogo
com a bola no ar. O time brasileiro entrou com duas representações contra o
juiz na Comissão de Arbitragem e no Comitê Disciplinar da FIFA. O juiz foi
afastado, e nunca mais apitaria uma partida de Copa.
·
Eliminadas na primeira fase, as seleções da França e da Hungria proporcionaram um
verdadeiro papelão, sendo que a França, em protesto contra as más arbitragens,
entrou também de camisa branca, pois a mesma estava sorteada para os húngaros,
o árbitro do jogo, o brasileiro Arnaldo César Coelho, se recusava a começar a
partida, enquanto a questão dos uniformes não estivesse resolvida, os jogadores
da França acabaram sendo obrigados a jogarem com uniformes verdes listrado de
branco, cedidos as pressas por um time amador, o Kimberley, os
franceses venceram por 3x1.
·
O jornal inglês Sunday
Times denunciou que os argentinos estavam fraudando os testes
antidoping. Diziam que a urina para os exames após cada partida não era
fornecida pelos jogadores, que inferiam fortes doses de anfetaminas. Um homem
teria sido contratado só para urinar.
·
O jogador Rob
Rensenbrink da seleção neerlandesa, marcou o gol 1000 da história da Copa do
Mundo, convertendo um penalti, no jogo Escócia 3x2 Países Baixos.
·
A seleção da Tunísia tornou-se a primeira
seleção africana a ganhar uma partida de Copa do
Mundo, batendo o México por 3x1. AsÁguias de Cartago conseguiram
ainda um empate em 0 a 0 com a Alemanha Ocidental, então campeã do mundo.
·
O Brasil se autoproclamou "campeão
moral" por ter sido a única seleção invicta da Copa e porque o goleiro do
Peru, Quiroga, teria facilitado a partida contra a Argentina. A Argentina
precisava ganhar de uma diferença superior a quatro gols. Ganhou de 6 a 0. Além
disso, Quiroga nasceu na Argentina e naturalizou-se peruano.
·
Atendendo a pedidos das emissoras de TV
argentinas que alegaram estarem se adaptando a era do canal a cores, novidade
da época na vizinha Argentina, a FIFA repentinamente
alterou o horário dos jogos decisivos do Grupo B das semifinais da Copa de
1978: sendo que o jogo Brasil x Polônia seria disputado no horário vespertino,
e o jogo Argentina x Peru no horário noturno, o selecionado argentino entrou em
campo praticamente com o resultado em mãos.
·
Fernando Rodríguez
Mondragón, filho de um chefe do tráfico de drogas Colombiano, declarou
em 2007 à Rádio
Caracol(Colômbia) que o desarticulado cartel
de Cáli subornou a seleção do Peru, com uma cifra não revelada, para
que deixasse a seleção da Argentina ganhar o decisivo jogo da segunda fase. A
Argentina se classificou tendo os mesmos pontos que o Brasil, mas com melhor
saldo de gols.
·
Foi a primeira edição da Copa que o Brasil
terminou sem ser derrotado e não foi campeão, tal feito se repetiria em 1986,
onde foi eliminado pela França nas quartas de final; nessa
copa a Argentina novamente viria a ser
campeã.
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Houve rumores de que a Ditadura Militar
argentina desejava o título a todo custo, o que segundo algumas pessoas,
explicaria boa parte dos episódios estranhos ocorridos durante a Copa. A
comemoração da imensa torcida argentina pela vitória de 6x0 sobre o Peru serviu
para acabar com os protestos das Mães da Praça de Maio, que buscavam
informações dos filhos desaparecidos, pois os mesmos haviam feito vários
protestos contra o governo militar do país.
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