sábado, 10 de novembro de 2012

Histórias em Poções

Na página de hoje, gostaria de recordar uma manhã maravilhosa que vivenciamos aqui nesta cidade de Poções, no dia 29 de junho de 1958.
Aquilo que for escrito, realmente aconteceu e com certeza absoluta, nunca, ninguém, escreveu à respeito.
Em 1958, o Clube Social de Poções (CSP), não possuía sede própria .( Mais tarde, mudaram o nome para ACASCP e por último ,para o nome atual CRP.)
O CSP, funcionava então, por empréstimo, no prédio da SUC(Sociedade União das Classes), onde hoje está instalada a Filarmônica 26 de junho sob a presidência do nosso amigo Emmanuel Campos de Sá, (Nelito).
Na época, o Presidente do CSP, era Fidelis Sarno e no auge dos jogos da Copa do Mundo, ele reuniu a diretoria e no meio das conversações, ele disse:
---"Pessoal, do jeito que o Brasil está jogando, é capaz de irmos à final da Copa. E eu estava pensando em colocar um rádio ali no palco, em cima de uma mesa e convocar os sócios que quiserem, para nós ouvirmos a transmissão do jogo.
--- Vamos convidar também outros amigos --- sugeriu alguém .
E enquanto os jogos foram se desenrolando, ficamos naquela expectativa até chegarmos ao dia 29 de junho.
Era um domingo e Poções amanheceu com um sol brilhante, que não é característico nos meses de maio, junho e julho .Jogo final da Copa : Brasil e Suécia. ( Vale salientar, que a Suécia era a anfitriã dos jogos).
Aqui em Poções, o jogo começaria as 10 horas da manhã,  mas devido ao fuso horário, em Estocolmo,  capital da Suécia, eram 15 horas.
Quando chegamos ao Clube, como prometera, Fidelis mandara instalar o rádio sobre uma mesa e esta sobre o palco, que naquela época era bem alto, para aproveitar melhor a irradiação,pois o som  era quase inaudível .O jogo começou e logo aos quatro minutos a Suécia fez um a zero. Nós ficamos preocupados.
Alguém chegou a comentar:
--- O Brasil há quatro anos atrás perdeu dentro de casa para o Uruguai, imaginem hoje !
O rádio era bom , mas o som perseguia . Não se ouvia quase nada em certos momentos. Mas felizmente, num determinado momento ouvimos claramente o  gol feito por Vavá empatando o jogo. Entre altos e baixos, o jogo foi transcorrendo e quase ao final do primeiro tempo soubemos que Vavá novamente fizera um gol e nós não sabíamos. Com dois a um ao nosso favor a primeira fase terminou, deixando a todos nós,com uma pontinha de esperança. À partir das onze horas, os presentes começaram a beber todos os tipos de bebidas, que haviam sido colocadas no barzinho do Clube.A maior parte dos sócios e convidados, bebiam cerveja.Alguns se aventuravam no conhaque, outros no gim tônico, muito em moda na época e quem gostava de mistura, tomava caipirinha ou cuba libre( Coca-Cola com rum).
Aos onze minutos do segundo tempo ouvimos com toda a clareza possível, o terceiro gol do Brasil feito por Pelé. A turma aí, começo a ficar bem animada e começaram a beber mais. Aos 23 minutos, foi a vez de Zagalo fazendo o quarto gol. O nervosismo inicial já se transformara em euforia. Mas um tal de Simonsen, quis jogar areia no nosso brinquedo.Com 4a2, alguns achavam que a Suécia poderia reagir. Aí som piorou de vez. Aí por volta dos quarenta e pouco minutos, ouvimos um gol ,mas ninguém sabia quem fizera. Quando afinal, o som retornou um pouco melhor, o jogo já acabara em 5 a 2, com um gol  de Pelé. Mas a vibração era enorme.. Uns pulavam no salão. Outros davam cambalhotas. Murros para o ar. Gritos de
"Viva o  Brasil " , "É campeão ".
Nunca vivi um momento tão emocionante no futebol, quanto aquela manhã ensolarada de domingo. Aí no meio daquela esfuziante alegria, alguém propôs sairmos às ruas. E fomos. Mas já havia muita gente bêbada e não iria aguentar debaixo daquele sol escaldante , atravessar muitas ruas. Atravessamos a Praça da Bandeira, descemos pela rua Itália e alcançamos a Praça  Luiz Viana. Seguimos pela Praça Góes Calmon.
Na rua Maneca Moreira, fomos saudados pelo Monsenhor Honorato que estava sentado em uma cadeira
no hall de sua casa.  Não creio  que a saudação dele tenha sido pela vitória do Brasil.
Até ali , a turma que saíra do Clube já se dispersara pelo caminho. Eu estava com uma fome enorme e ao verificar que o pessoal estava procurando bares abertos para continuar a bebedeira, fui aos poucos atrasando os meus passos e corri para casa. Papai e Mamãe  já haviam almoçado.
Aquele 29 de junho de 1958 nunca me sairá da memória.

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