E esse vai e vem nosso diário, ainda perdurou por um longo
tempo. Dava-nos até um mal estar, porque logo após o almoço, passávamos
obrigatoriamente, nas imediações daquele pardieiro, que originariamente fora construído para servir à
população no setor de saúde e encontrávamos pessoas imundas, doentes, feridas,
sem que ninguém tomasse as necessárias providências , para sanar aquela
degradação.
Passemos ao esporte: no período que fiquei em Iguaí entre
1939, 1940 e princípios de1941, assisti a bons jogos de futebol, entre o time
da casa, contra equipes que vinham mais vezes de Nova Canaã, esta, por ser mais próxima; Ibicuí,
que mantinham um laço mais estreito entre ambos e raramente aparecia uma equipe
de Poções. Essa última, como citei, era bem rara em aparecer naquelas plagas, por causa da
distância e também a dificuldade do transporte, pois não havia estrada de
rodagem .
Muitos anos se passaram, para que
figuras ilustres como Osmar de Campos Neto, Fernando “Bigode”Schettini, Dr .
José Sabino Costa, Antonio José Luz, Vadinho alavancassem o esporte nesta
cidade, começando a incutir das próprias crianças que o ideal era o de começar desde cedo a organização dos
times e dos torneios.
Enfim, o aspecto geral ficava
muito a dever. Se você podia sair e viajar para as cidades próximas, era aquela
dificuldade tremenda. Ir a Conquista e voltar no mesmo dia só se tivesse muita
paciência. Caso você não tivesse condições de se deslocar até ali, ficava em
casa sem energia elétrica durante o dia e por causa disso, não tinha geladeira,
a não ser se comprasse daquelas que colocava-se querosene. Os outros eletro domésticos
ainda não existiam. E o fogão à gás? Fogão á gás, o que é isso ?
Era o fogãozinho construído em
alvenaria e chamado de “econômico”, na base da lenha, que para acendê-lo pela
manhã , ainda havia o processo de se guardar com antecipação, muitas cascas
secas de laranja ou de tangerina, que produziam um excelente combustível.
E a água para movimentar o serviço
da casa ? Se você tivesse alguma posse pecuniária, mandava construir um tanque e esperava São Pedro
enviar chuva para abastecê-lo.
E se não dispusesse dessa grana
preta, sabe onde iria encontrar água? Quando algum molecote, passasse ali por
perto, tangendo três ou quatro jumentos sob o peso de alguns barris com água.
E assim se passava a vida dos
moradores dessa cidade.
Imaginem também antes desse tempo?
x.x.x
Meu tio por afinidade, casado com
a minha tia Edite, irmã de Mamãe, chamava-se Júlio Dantas.
Como caixeiro- viajante, já
transitava por essas plagas, com seus oito a dez burros e mulas de carga, com um acompanhante, para
tanger os animais e estes traziam em volta do pescoço, um cordinha com um
sininho e à medida que andavam pelas ruas, produziam um som característico, que
os comerciantes sabidamente conheciam.
Tio Júlio, representava algumas
firmas de Salvador, inclusive a mais importante para ele, chamada de Westphalen Back & Co e delas trazia,
vários tipos de mercadoria para vender à vista aos fregueses físicos e à prazo
para negociantes estabelecidos. E se também, as mercadorias eram de pequeno
volume seriam entregues no ato da compra.
Poções, era uma espécie de
cruzamento, para a zona da mata,
representada pelos principais distritos de Nova Canaã, Iguaí e Ibicuí. Em sentido
perpendicular a essa zona. tio Júlio seguia de Jequié, passando por Vitória da
Conquista e estendendo-se até o norte de Minas Gerais.
Ele e o seu ajudante hospedavam-se aqui em Poções na
pensão do Sr. Arlindo Carvalho, até que alguns mais tarde, remodelaram bem no
meio da ladeira, hoje conhecida como Cônego Pithon, uma casa para abrigar os
COMETAS. Na subida daquela ladeira, bem logo atrás de referida casa, havia o
cemitério local, onde hoje se encontra situada a Igreja Matriz do Divino Espírito
Santo. Dali para cima só havia matagal.
Foi então, que durante as suas
viagens, tio Júlio verificou que na zona da mata entre Nova Canaã e Iguaí, não
havia nenhum médico estabelecido e em num de seus regressos à Salvador, incentivou
a Papai a tentar a sorte naquelas plagas.
Um fato interessante que desde
cedo chamou-me a atenção, foi quando aproximava-se o mês de junho, vovô Manta
tinha uma devoção com Santo Antônio e rezava uma trezena do dia primeiro ao dia
treze de junho e durante todas aquelas noites, logo após a reza, começava a
confeccionar balões(hoje proibidos), que os “soltava” nas duas noites dedicadas a São
João. Nesse meio tempo, vovô preparava licores e na véspera de São João, ele
listava os ingredientes da canjica, quando então, a cozinheira da casa, com
seus braços fortes, munida de uma grossa colher de pau, mexia vigorosamente
aquele mingau espesso até que ficasse no “ponto”.
COMETAS: o mesmo que caixeiro
viajante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário