segunda-feira, 15 de abril de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( p 19 )

Chegado o dia do Réveillon, à pedido do nosso amigo, dancei com a namorada dele apenas duas vezes, mas acredito que ela não ligou muito para a suspensão  que ele recebera, pois dançou muitas vezes com diversos rapazes. Fiz a minha parte,. Mas não iria ficar como fiscal da moça que mal eu conhecia. De minha parte, cheguei a observar quer muitas pessoas ficavam olhando como eu dançava. Mas o meu aprendizado fora de longas jornadas no Rumba Dancing da Salvador(Mais adiante relatarei alguns casos de nossa passagem por ali.) O certo é que a festinha do Réveillon gostei muito, pois foi a primeira vez que dancei em Poções e variei com diversas mocinhas, inclusive aquela que foi certo dia lá em casa convidar o pessoal para o almoço festivo do casamento da irmã . À meia noite houve o espocar das garrafas de champanhe e os abraços entre todas as pessoas desejando mil venturas Os mais  íntimos se beijavam e tri=ocavam juras de amos e de fidelidade. Fui cumprimentado por diversas pessoas que até então nem conhecia. Notei que entre os músicos havia uma comunicabilidade muito extensa. Soube depois que eles pertenciam à família poçõense e é bem natural que o seu contentamento extravasasse com muitas alegrias.
Por informações obtidas no grande intervalo, para que os músicos fizessem o seu descanso natural, soube por alguns rapazes que a tal garota com quem eu dançara duas vezes, chamava-se Noélia e estava de namorico com um rapaz que por sinal não fora à festa. Deduzi que o mesmo talvez não fosse sócio e possivelmente não gostava daqueles ambientes  festivos. Como se diz na gíria, a festa foi tão boa que eu só saí no cisco.
No dia primeiro de janeiro de 1952, acordei quase ao meio dia. Quando abri a porta do meu quarto, que era voltado para a sala de jantar, avistei Papai sentado a cabeceira da mesa, já na posição de quem iria almoçar. Mamãe estava na cozinha orientando a cozinheira, para trazer os pratos à mesa. Quando acabei de efetuar o meu asseio corporal completo, ao voltar do banheiro  observei que Papai já havia saído para a rua e Mamãe chupava umas limas que pareciam estar bem doces. Almocei sozinho, mas troquei um breve diálogo com Mamãe, à respeito da festa, mas a mesma  deixou-me para curtir a sua sesta diária do após o almoço. Para não ficar perambulando pela casa, sem fazer nada, resolvi continuar o meu sono interrompido naquela hora. Estava ciente que a matinê do clube só começaria às 17 horas.  

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Chegado o dia do Réveillon, à pedido do nosso amigo, dancei com a namorada dele apenas duas vezes, mas acredito que ela não ligou muito para a suspensão  que ele recebera, pois dançou muitas vezes com diversos rapazes. Fiz a minha parte,. Mas não iria ficar como fiscal da moça que mal eu conhecia. De minha parte, cheguei a observar quer muitas pessoas ficavam olhando como eu dançava. Mas o meu aprendizado fora de longas jornadas no Rumba Dancing da Salvador(Mais adiante relatarei alguns casos de nossa passagem por ali.) O certo é que a festinha do Réveillon gostei muito, pois foi a primeira vez que dancei em Poções e variei com diversas mocinhas, inclusive aquela que foi certo dia lá em casa convidar o pessoal para o almoço festivo do casamento da irmã . À meia noite houve o espocar das garrafas de champanhe e os abraços entre todas as pessoas desejando mil venturas Os mais  íntimos se beijavam e tri=ocavam juras de amos e de fidelidade. Fui cumprimentado por diversas pessoas que até então nem conhecia. Notei que entre os músicos havia uma comunicabilidade muito extensa. Soube depois que eles pertenciam à família poçõense e é bem natural que o seu contentamento extravasasse com muitas alegrias.
Por informações obtidas no grande intervalo, para que os músicos fizessem o seu descanso natural, soube por alguns rapazes que a tal garota com quem eu dançara duas vezes, chamava-se Noélia e estava de namorico com um rapaz que por sinal não fora à festa. Deduzi que o mesmo talvez não fosse sócio e possivelmente não gostava daqueles ambientes  festivos. Como se diz na gíria, a festa foi tão boa que eu só saí no cisco.
No dia primeiro de janeiro de 1952, acordei quase ao meio dia. Quando abri a porta do meu quarto, que era voltado para a sala de jantar, avistei Papai sentado a cabeceira da mesa, já na posição de quem iria almoçar. Mamãe estava na cozinha orientando a cozinheira, para trazer os pratos à mesa. Quando acabei de efetuar o meu asseio corporal completo, ao voltar do banheiro  observei que Papai já havia saído para a rua e Mamãe chupava umas limas que pareciam estar bem doces. Almocei sozinho, mas troquei um breve diálogo com Mamãe, à respeito da festa, mas a mesma  deixou-me para curtir a sua sesta diária do após o almoço. Para não ficar perambulando pela casa, sem fazer nada, resolvi continuar o meu sono interrompido naquela hora. Estava ciente que a matinê do clube só começaria às 17 horas. 
(Gente, amigos leitores, agora irá começar o namoro mais sensacional de todos os tempos. Foi iniciado no dia primeiro de janeiro de 1952. Estou passando a limpo essa parte da minha autobiografia, no dia 16 de abril de 2013. Quem sabe fazer uma pequena subtração, irá encontrar em números redondos, só 61 anos sem contarmos meses e dias.) Vamos lá :
Acordei um pouco antes das cinco para não perder o inicio de matinê. Quando cheguei, a porta do clube ainda estava fechada, mas muita gente aguardava impacientemente a abertura.   Mas não demorou muito, quando um rapaz chegou e de imediato abriu o portão de entrada, para em seguida fazer o mesmo com as duas portas, que dava  acesso ao salão. As mesas existentes no salão só foram reservadas para a noite do Réveillon, portanto aqueles que c chegassem primeiro na matinê, ficariam com o assento garantido. Reservei-me no direito de ficar em pé  e inteiramente de olho na figura de Noélia, que juntamente com as suas amigas, tomaram conta de um das mesas, bem próxima ao pequeno palanque onde ficava o conjunto musical,  que por sinal, levava quase meia horas afinando os seus instrumentos. Isso, já era praxe em todas as festas, como fiquei sabendo posteriormente em conversas com os primeiros rapazes que também estavam na festa.

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Finalmente quando o conjunto começou a tocar, por sinal um bolero, parti de imediato para o local onde Noélia se encontrava ladeado por amigas e tirei-a para dançar. Desde a véspera já havia observado que entre todas as moças com quem eu dançara, ela foi a garota com o corpinho mais leve e isso fazia com que nós flutuássemos no salão. Em certo momento, em tom elogio e já me insinuando, disse para ela:
“---Olhe bem, se nenhum amigo atrapalhar e se você quiser, hoje à tarde, dançarei todas as partes com você.”
Ela sorriu, mas não me deu nenhuma resposta.
Eu também sabia que ela estava namorando, mas o rapaz não aparecia. Não fora ao Réveillon por qualquer motivo, mas com certeza na matinê ele iria aparecer, Havia também um outro amigo nosso interessado em Noélia, porque ele mesmo me falou em determinado momento da festa;
“---irundy, se fulano( por questão de ética não iremos declinar o nome do namorado)não vier, vou tentar namorar com ela.”
Ora, se de um lado havia um namorado, para mim desconhecido e do outro, um candidato sério, qual seria o meu papel. Enfrentar e lutar. Então banquei uma astuta estratégia. Quando notava que o conjunto            estava para terminar uma parte, a fim de começar o intervalo, já deixava Noélia no local onde ficavam as amigas e ficava por ali bem próximo, fazendo a devida marcação e pensando comigo mesmo:
“---se o namorado não veio até agora, é sinal que não vem mais. Quanto aos outros pretendentes a dançar com ela, vão ficar para trás, pois daqui desse ponto estratégico não arredarei o meu pé.”
Meu plano correu às mil maravilhas. O tempo passou. Nem o namorado apareceu, nem os demais tiveram chance. É bem provável que os demais dançarinos ou candidatos a namorar com Noélia, sentiram que eu estava fazendo marcação cerrada e aí desistiram finalmente, deixando o meu caminho livre até o final da festa. Eram umas 19 horas, quando saímos do clube, em companhia das amigas e fomos andando e conversando animadamente em grupo, até chegarmos à Praça Deocleciano Teixeira, onde todos se despediram.
Depois do jantar, apenas por teimosia, fui à rua onde ela morava, na esperança de encontrá-la, mas em vão. Não vi sinal de nenhum parente nas imediações da residência. Subi em direção á Praça da Bandeira, onde se situava  o OBELISCO e cheguei a ver alguns namorados sentados nos bancos que ladeavam aquela pirâmide. Resolvi voltar para casa, porque amanhã seria outro dia.
Encontrei alguns rostos pelo caminho, que aos poucos minha mente ia assimilando e saudava-os com um discreto boa noite.
OBELISCO: Monólito de base quadrangular, que se afina progressivamente e termina em uma ponta piramidal. O de Poções tinha uma base hexagonal com lados triangulares.
                                          
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Aí por volta das 16 horas do dia seguinte fui encontrá-la na praça do Obelisco, carregando nos braços o seu sobrinho mais velho ,por nome Marcos, q        ue às vezes descia até o chão, mas ainda não sabia andar. Noélia contou-me que o menino nasceu em abril de 1951 e não fizera ainda nove meses. Disse-me também, que na noite anterior o seu pai havia chegado da fazenda e o jantar foi servido bem tarde, dificultando a sua saída. Apesar de tudo, ela e suas irmãs gostaram, pois o seu pai residia na fazenda e elas só o viam semanalmente. Após as nossas primeiras conversações, livres totalmente daquela angustiante incerteza da festa, fomos nos desinibindo e senti que era uma garota bastante inteligente, mas bastante temerosa de ser vista em minha companhia, porque os parentes poderiam dedurá-la. Era, portanto, uma garotinha que havia feito 14 anos em dezembro e tímida como demonstrava ser, tinha receio,  dos seus parentes mais chegados. A culpa também, não era somente dela. Vivia-se numa cidadezinha provinciana e ficava-se exposto ao disse me disse das más línguas. E de fato, aconteceu, que ao descermos pela Rua Itália, tivemos que nos despedir no beco vizinho ao Cine Glória, onde atualmente hoje situa-se a Agência do Bradesco, porque naquele local mais discreto, não havia o risco dele ser vista por algum parente.
Ao chegar em casa, soube por Mamãe, que tio Júlio estava em Poções e iria a Iguaí e adjacências, para vender suas mercadorias. Papai, por sua vez, ao saber dessa notícia, desejava que eu fosse também a Iguaí, aproveitando a carona e lá fizesse o balanço anual da farmácia.
Como havíamos combinado ir ao cinema, à noite estive com Noélia e expliquei à mesma, que iria afastar-me da cidade por alguns dias.
Naquela altura dos acontecimentos, tio Júlio havia comprado uma caminhonete Ford, em segunda mão e fazia as suas visitas e vendagens tranquilamente. Nos locais de difícil acesso ou que não tivesse estrada de rodagem apropriada, ele voltava aos velhos tempos, onde alugava diversos animais com aqueles sininhos do pescoço, para poder executar o mesmo serviço. O motorista tinha o apelido de “samba”, mas se pronunciava “tchamba”. Perguntando depois a tio Júlio o porquê daquela pronuncia, ele me disse que quando conheceu o rapaz, estava completamente embriagado e ao perguntar o seu nome ele simplesmente respondeu:
“---o pessoá me chama de tchamba. Tchamba de dançar...”
Nunca soubemos de fato o seu nome de registro. Era Tchamba prá lá e Tchamba prá cá.
Em Iguaí, ficamos hospedados na pensão de Dona Raquel, e antes de viajar pela mata, tio Júlio avisou que estaria de volta, uns cinco a seis dias e que regressaria de imediato a Poções. Tchamba ficou de folga os primeiros dias, enquanto fui providenciar o balanço da farmácia de Papai.
Assim  que terminei o serviço, falei para Tchamba que gostaria de procurar uma pessoa, que não via há quase dois anos. Então os dois, na caminhonete de tio Júlio, saímos á  procura  de Tezinha  e como diz o velho ditado “quem tem boca vai a Roma”, fomos perguntando aqui e ali, até chegarmos fora da estrada e do alinhamento das ruas num casebre, bem perto do cemitério.
                                                        
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Meus olhos encheram-se de lágrimas ao vê-la. Não só pela saudade, mas pelo estado de pobreza em que a encontramos.
Durante os meses que passamos em Maragogipe, nos idos de 1937, antes de regressarmos, Mamãe solicitou à sua irmã, tia Dedé, que conseguisse uma mocinha, para ajudá-la nos afazeres de casa, somente para tomar conta dos meus irmãos menores. Não foi fácil, porque naquele tempo, os pais das mocinhas, não queriam que as mesmas se ausentassem da cidade e ainda mais, no nosso caso, que além de sair de Maragogipe, queríamos levá-la para Salvador.
De vez em quando, Mamãe mandava recado para tia Dedé e a resposta era sempre a mesma.
Um belo dia, tia Dedé conseguiu uma garota de seus treze a quatorze anos, cujos pais muito pobres e cheios de filhos, não fizeram objeção. Mas naquela oportunidade, já estávamos em Iguaí e o jeito foi tio Júlio conduzí-la até nós. O nome dela: Tezinha, que conviveu conosco, desde a sua chegada até o ano de 1950, quando nos mudamos definitivamente para Poções. Ela não quis nos acompanhar e achou por bem ficar morando em Iguaí e não nos deu mais notícias.
Tezinha achava-se sentada no chão do quintal da casa, com uma criança pretinha, no seu colo, dando de mamar. Outra garotinha estava dormindo em cima de um colchãozinho  todo estragado. Foi um quadro triste e doloroso pra mim, presenciar aquela pessoa que conviveu conosco por mais ou menos, uns onze anos, com todo o conforto que meus pais puderam dar-lhe e depois de apenas dois anos, encontrá-la naquele estado de extrema PENÚRIA.
Ao voltarmos à pensão de Dona Raquel, conversei com Tchamba, para organizarmos uma viagem de Iguaí a Jequié, passando por Poções, conduzindo os passageiros que aparecessem e o que pudéssemos arrecadar seria entregue a Tezinha.
O dia 6 de janeiro foi um domingo e quando chegamos aqui em Poções, para o almoço, Mamãe não nos esperava, mas mesmo assim, ela arrumou para nós e ficou satisfeita com a atitude que eu havia tomado com relação a Tezinha. Fomos então a Jequié e deixamos os passageiros. Voltamos, mas não havia passageiro no retorno. Quando chegamos em Poções, passamos novamente em  casa e Mamãe me entregou um dinheirinho para ser dado a Tezinha. Como ainda não havia escurecido, Tchamba resolveu prosseguir a viagem, chegando em Iguaí no LUSCO-FUSCO. No dia seguinte cedo, antes de tio Júlio retornar de sua viagem pelo interior da mata, fomos à casa de Tezinha, onde entregamos parte do dinheiro arrecadado e mais a parcela que Mamãe enviara para ela. Tezinha ficou chorando e nos agradeceu bastante Cerca de dez e meia tio Júlio apareceu e logo depois do almoço retornamos.

PENÚRIA: extrema pobreza; miséria. Privação do necessário; escassez; falta.

LUSCO-FUSCO: O período de transição entre o dia e a noite. No plural: Lusco-fuscos

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