Chegado o dia do Réveillon, à
pedido do nosso amigo, dancei com a namorada dele apenas duas vezes, mas
acredito que ela não ligou muito para a suspensão que ele recebera, pois dançou muitas vezes
com diversos rapazes. Fiz a minha parte,. Mas não iria ficar como fiscal da moça
que mal eu conhecia. De minha parte, cheguei a observar quer muitas pessoas
ficavam olhando como eu dançava. Mas o meu aprendizado fora de longas jornadas
no Rumba Dancing da Salvador(Mais adiante relatarei alguns casos de nossa
passagem por ali.) O certo é que a festinha do Réveillon gostei muito, pois foi
a primeira vez que dancei em Poções e variei com diversas mocinhas, inclusive
aquela que foi certo dia lá em casa convidar o pessoal para o almoço festivo do
casamento da irmã . À meia noite
houve o espocar das garrafas de champanhe e os abraços entre todas as pessoas
desejando mil venturas Os mais íntimos
se beijavam e tri=ocavam juras de amos e de fidelidade. Fui cumprimentado por diversas
pessoas que até então nem conhecia. Notei que entre os músicos havia uma
comunicabilidade muito extensa. Soube depois que eles pertenciam à família
poçõense e é bem natural que o seu contentamento extravasasse com muitas alegrias.
Por informações obtidas no
grande intervalo, para que os músicos fizessem o seu descanso natural, soube
por alguns rapazes que a tal garota com quem eu dançara duas vezes, chamava-se
Noélia e estava de namorico com um rapaz que por sinal não fora à festa. Deduzi
que o mesmo talvez não fosse sócio e possivelmente não gostava daqueles ambientes festivos. Como se diz na gíria, a festa foi
tão boa que eu só saí no cisco.
No dia primeiro de janeiro de
1952, acordei quase ao meio dia. Quando abri a porta do meu quarto, que era
voltado para a sala de jantar, avistei Papai sentado a cabeceira da mesa, já na
posição de quem iria almoçar. Mamãe estava na cozinha orientando a cozinheira,
para trazer os pratos à mesa. Quando acabei de efetuar o meu asseio corporal
completo, ao voltar do banheiro observei
que Papai já havia saído para a rua e Mamãe chupava umas limas que pareciam
estar bem doces. Almocei sozinho, mas troquei um breve diálogo com Mamãe, à
respeito da festa, mas a mesma deixou-me
para curtir a sua sesta diária do após o almoço. Para não ficar perambulando
pela casa, sem fazer nada, resolvi continuar o meu sono interrompido naquela hora.
Estava ciente que a matinê do clube só começaria às 17 horas.
x.x.x
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Chegado o dia do Réveillon, à
pedido do nosso amigo, dancei com a namorada dele apenas duas vezes, mas
acredito que ela não ligou muito para a suspensão que ele recebera, pois dançou muitas vezes
com diversos rapazes. Fiz a minha parte,. Mas não iria ficar como fiscal da
moça que mal eu conhecia. De minha parte, cheguei a observar quer muitas
pessoas ficavam olhando como eu dançava. Mas o meu aprendizado fora de longas
jornadas no Rumba Dancing da Salvador(Mais adiante relatarei alguns casos de
nossa passagem por ali.) O certo é que a festinha do Réveillon gostei muito,
pois foi a primeira vez que dancei em Poções e variei com diversas mocinhas,
inclusive aquela que foi certo dia lá em casa convidar o pessoal para o almoço
festivo do casamento da irmã . À
meia noite houve o espocar das garrafas de champanhe e os abraços entre todas
as pessoas desejando mil venturas Os mais
íntimos se beijavam e tri=ocavam juras de amos e de fidelidade. Fui
cumprimentado por diversas pessoas que até então nem conhecia. Notei que entre
os músicos havia uma comunicabilidade muito extensa. Soube depois que eles
pertenciam à família poçõense e é bem natural que o seu contentamento
extravasasse com muitas alegrias.
Por informações obtidas no
grande intervalo, para que os músicos fizessem o seu descanso natural, soube
por alguns rapazes que a tal garota com quem eu dançara duas vezes, chamava-se
Noélia e estava de namorico com um rapaz que por sinal não fora à festa. Deduzi
que o mesmo talvez não fosse sócio e possivelmente não gostava daqueles
ambientes festivos. Como se diz na
gíria, a festa foi tão boa que eu só saí no cisco.
No dia primeiro de janeiro de
1952, acordei quase ao meio dia. Quando abri a porta do meu quarto, que era
voltado para a sala de jantar, avistei Papai sentado a cabeceira da mesa, já na
posição de quem iria almoçar. Mamãe estava na cozinha orientando a cozinheira,
para trazer os pratos à mesa. Quando acabei de efetuar o meu asseio corporal
completo, ao voltar do banheiro observei
que Papai já havia saído para a rua e Mamãe chupava umas limas que pareciam
estar bem doces. Almocei sozinho, mas troquei um breve diálogo com Mamãe, à
respeito da festa, mas a mesma deixou-me
para curtir a sua sesta diária do após o almoço. Para não ficar perambulando
pela casa, sem fazer nada, resolvi continuar o meu sono interrompido naquela
hora. Estava ciente que a matinê do clube só começaria às 17 horas.
(Gente, amigos leitores, agora
irá começar o namoro mais sensacional de todos os tempos. Foi iniciado no dia
primeiro de janeiro de 1952. Estou passando a limpo essa parte da minha autobiografia,
no dia 16 de abril de 2013. Quem sabe fazer uma pequena subtração, irá
encontrar em números redondos, só 61 anos sem contarmos meses e dias.) Vamos lá
:
Acordei um pouco antes das cinco
para não perder o inicio de matinê. Quando cheguei, a porta do clube ainda
estava fechada, mas muita gente aguardava impacientemente a abertura. Mas não demorou muito, quando um rapaz
chegou e de imediato abriu o portão de entrada, para em seguida fazer o mesmo
com as duas portas, que dava acesso ao
salão. As mesas existentes no salão só foram reservadas para a noite do
Réveillon, portanto aqueles que c chegassem primeiro na matinê, ficariam com o
assento garantido. Reservei-me no direito de ficar em pé e inteiramente de olho na figura de Noélia,
que juntamente com as suas amigas, tomaram conta de um das mesas, bem próxima
ao pequeno palanque onde ficava o conjunto musical, que por sinal, levava quase meia horas afinando
os seus instrumentos. Isso, já era praxe em todas as festas, como fiquei
sabendo posteriormente em conversas com os primeiros rapazes que também estavam
na festa.
x.x.x
Finalmente quando o conjunto
começou a tocar, por sinal um bolero, parti de imediato para o local onde
Noélia se encontrava ladeado por amigas e tirei-a para dançar. Desde a véspera
já havia observado que entre todas as moças com quem eu dançara, ela foi a
garota com o corpinho mais leve e isso fazia com que nós flutuássemos no salão.
Em certo momento, em tom elogio e já me insinuando, disse para ela:
“---Olhe bem, se nenhum amigo
atrapalhar e se você quiser, hoje à tarde, dançarei todas as partes com você.”
Ela sorriu, mas não me deu
nenhuma resposta.
Eu também sabia que ela estava
namorando, mas o rapaz não aparecia. Não fora ao Réveillon por qualquer motivo,
mas com certeza na matinê ele iria aparecer, Havia também um outro amigo nosso
interessado em Noélia, porque ele mesmo me falou em determinado momento da
festa;
“---irundy, se fulano( por
questão de ética não iremos declinar o nome do namorado)não vier, vou tentar
namorar com ela.”
Ora, se de um lado havia um
namorado, para mim desconhecido e do outro, um candidato sério, qual seria o
meu papel. Enfrentar e lutar. Então banquei uma astuta estratégia. Quando
notava que o conjunto estava
para terminar uma parte, a fim de começar o intervalo, já deixava Noélia no
local onde ficavam as amigas e ficava por ali bem próximo, fazendo a devida
marcação e pensando comigo mesmo:
“---se o namorado não veio até agora,
é sinal que não vem mais. Quanto aos outros pretendentes a dançar com ela, vão
ficar para trás, pois daqui desse ponto estratégico não arredarei o meu pé.”
Meu plano correu às mil
maravilhas. O tempo passou. Nem o namorado apareceu, nem os demais tiveram
chance. É bem provável que os demais dançarinos ou candidatos a namorar com Noélia,
sentiram que eu estava fazendo marcação cerrada e aí desistiram finalmente,
deixando o meu caminho livre até o final da festa. Eram umas 19 horas, quando
saímos do clube, em companhia das amigas e fomos andando e conversando animadamente
em grupo, até chegarmos à Praça Deocleciano Teixeira, onde todos se despediram.
Depois do jantar, apenas por
teimosia, fui à rua onde ela morava, na esperança de encontrá-la, mas em vão.
Não vi sinal de nenhum parente nas imediações da residência. Subi em direção á
Praça da Bandeira, onde se situava o OBELISCO e cheguei a ver alguns namorados sentados nos
bancos que ladeavam aquela pirâmide. Resolvi voltar para casa, porque amanhã seria
outro dia.
Encontrei alguns rostos pelo
caminho, que aos poucos minha mente ia assimilando e saudava-os com um discreto
boa noite.
OBELISCO:
Monólito de base quadrangular, que se afina progressivamente e termina em uma
ponta piramidal. O de Poções tinha uma base hexagonal com lados triangulares.
x.x.x
Aí por volta das 16 horas do dia
seguinte fui encontrá-la na praça do Obelisco, carregando nos braços o seu
sobrinho mais velho ,por nome Marcos, q ue
às vezes descia até o chão, mas ainda não sabia andar. Noélia contou-me que o
menino nasceu em abril de 1951 e não fizera ainda nove meses. Disse-me também,
que na noite anterior o seu pai havia chegado da fazenda e o jantar foi servido
bem tarde, dificultando a sua saída. Apesar de tudo, ela e suas irmãs gostaram,
pois o seu pai residia na fazenda e elas só o viam semanalmente. Após as nossas
primeiras conversações, livres totalmente daquela angustiante incerteza da
festa, fomos nos desinibindo e senti que era uma garota bastante inteligente,
mas bastante temerosa de ser vista em minha companhia, porque os parentes
poderiam dedurá-la. Era, portanto, uma garotinha que havia feito 14 anos em
dezembro e tímida como demonstrava ser, tinha receio, dos seus parentes mais chegados. A culpa
também, não era somente dela. Vivia-se numa cidadezinha provinciana e ficava-se
exposto ao disse me disse das más línguas. E de fato, aconteceu, que ao
descermos pela Rua Itália, tivemos que nos despedir no beco vizinho ao Cine
Glória, onde atualmente hoje situa-se a Agência do Bradesco, porque naquele
local mais discreto, não havia o risco dele ser vista por algum parente.
Ao chegar em casa, soube por
Mamãe, que tio Júlio estava em Poções e iria a Iguaí e adjacências, para vender
suas mercadorias. Papai, por sua vez, ao saber dessa notícia, desejava que eu
fosse também a Iguaí, aproveitando a carona e lá fizesse o balanço anual da
farmácia.
Como havíamos combinado ir ao cinema,
à noite estive com Noélia e expliquei à mesma, que iria afastar-me da cidade
por alguns dias.
Naquela altura dos
acontecimentos, tio Júlio havia comprado uma caminhonete Ford, em segunda mão e
fazia as suas visitas e vendagens tranquilamente. Nos locais de difícil acesso
ou que não tivesse estrada de rodagem apropriada, ele voltava aos velhos
tempos, onde alugava diversos animais com aqueles sininhos do pescoço, para
poder executar o mesmo serviço. O motorista tinha o apelido de “samba”, mas se
pronunciava “tchamba”. Perguntando depois
a tio Júlio o porquê daquela pronuncia, ele me disse que quando conheceu o
rapaz, estava completamente embriagado e ao perguntar o seu nome ele
simplesmente respondeu:
“---o pessoá me chama de tchamba.
Tchamba de dançar...”
Nunca soubemos de fato o seu nome
de registro. Era Tchamba prá lá e Tchamba prá cá.
Em Iguaí, ficamos hospedados na
pensão de Dona Raquel, e antes de viajar pela mata, tio Júlio avisou que
estaria de volta, uns cinco a seis dias e que regressaria de imediato a Poções.
Tchamba ficou de folga os primeiros dias, enquanto fui providenciar o balanço
da farmácia de Papai.
Assim que terminei o serviço, falei para Tchamba
que gostaria de procurar uma pessoa, que não via há quase dois anos. Então os
dois, na caminhonete de tio Júlio, saímos á procura de Tezinha e como diz o velho ditado “quem tem boca vai a
Roma”, fomos perguntando aqui e ali, até chegarmos fora da estrada e do
alinhamento das ruas num casebre, bem perto do cemitério.
x.x.x
Meus olhos encheram-se de
lágrimas ao vê-la. Não só pela saudade, mas pelo estado de pobreza em que a
encontramos.
Durante os meses que passamos em
Maragogipe, nos idos de 1937, antes de regressarmos, Mamãe solicitou à sua
irmã, tia Dedé, que conseguisse uma mocinha, para ajudá-la nos afazeres de
casa, somente para tomar conta dos meus irmãos menores. Não foi fácil, porque
naquele tempo, os pais das mocinhas, não queriam que as mesmas se ausentassem
da cidade e ainda mais, no nosso caso, que além de sair de Maragogipe,
queríamos levá-la para Salvador.
De vez em quando, Mamãe mandava
recado para tia Dedé e a resposta era sempre a mesma.
Um belo dia, tia Dedé conseguiu
uma garota de seus treze a quatorze anos, cujos pais muito pobres e cheios de
filhos, não fizeram objeção. Mas naquela oportunidade, já estávamos em Iguaí e
o jeito foi tio Júlio conduzí-la até nós. O nome dela: Tezinha, que conviveu
conosco, desde a sua chegada até o ano de 1950, quando nos mudamos
definitivamente para Poções. Ela não quis nos acompanhar e achou por bem ficar
morando em Iguaí e não nos deu mais notícias.
Tezinha achava-se sentada no chão
do quintal da casa, com uma criança pretinha, no seu colo, dando de mamar. Outra
garotinha estava dormindo em cima de um colchãozinho todo estragado. Foi um quadro triste e
doloroso pra mim, presenciar aquela pessoa que conviveu conosco por mais ou
menos, uns onze anos, com todo o conforto que meus pais puderam dar-lhe e
depois de apenas dois anos, encontrá-la naquele estado de extrema PENÚRIA.
Ao voltarmos à pensão de Dona
Raquel, conversei com Tchamba, para organizarmos uma viagem de Iguaí a Jequié,
passando por Poções, conduzindo os passageiros que aparecessem e o que
pudéssemos arrecadar seria entregue a Tezinha.
O dia 6 de janeiro foi um domingo
e quando chegamos aqui em Poções, para o almoço, Mamãe não nos esperava, mas
mesmo assim, ela arrumou para nós e ficou satisfeita com a atitude que eu havia
tomado com relação a Tezinha. Fomos então a Jequié e deixamos os passageiros.
Voltamos, mas não havia passageiro no retorno. Quando chegamos em Poções,
passamos novamente em casa e Mamãe me
entregou um dinheirinho para ser dado a Tezinha. Como ainda não havia
escurecido, Tchamba resolveu prosseguir a viagem, chegando em Iguaí no LUSCO-FUSCO. No dia seguinte cedo, antes de tio Júlio
retornar de sua viagem pelo interior da mata, fomos à casa de Tezinha, onde
entregamos parte do dinheiro arrecadado e mais a parcela que Mamãe enviara para
ela. Tezinha ficou chorando e nos agradeceu bastante Cerca de dez e meia tio
Júlio apareceu e logo depois do almoço retornamos.
PENÚRIA:
extrema pobreza; miséria. Privação do necessário; escassez; falta.
LUSCO-FUSCO:
O período de transição entre o dia e a noite. No plural: Lusco-fuscos
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