Da posição em que me encontrava,
dava para enxergar o que os outros colegas faziam. Um deles, estava abaixado sobre o passeio da porta da
Faculdade, tendo nas mãos várias caixas de fósforo. Dali, retirava um de cada vez e os colocava sobre o
passeio em fila indiana, um atrás do outro. Depois, soube pelo próprio colega,
que após o serviço, ele teve que contar todos os palitos que foram postos de
uma ponta a outra. Outro colega, bancando o maluco, subia e descia os degraus
da Igreja da Catedral. Parava, mexia com a cabeça e em seguida recomeçava tudo
de novo, subindo e descendo os degraus. Um terceiro colega subiu numa mesa de
madeira, tendo outros colegas em volta. Lá do alto ele falava e gesticulava muito:
“---Meus amigos! Minhas senhoras e meus senhores! Todos sabem
que os calouros são extremamente burros. Só passaram no vestibular por que os
veteranos tiveram que ajudar, pois se não fosse isso, não teríamos neste ano a primeira série de
odontologia. Gostaria então de pedir ao distinto público presente, uma calorosa
salva de palmas para os veteranos de medicina, odontologia e farmácia.” E naquele esquema já previamente preparado,
seguia-se o discurso até que aquele cansasse e subia outro para continuar.
Outros
colegas estavam mais distantes e da posição onde me encontrava, não deu para
observar o que tinham feito ou o que outros estavam fazendo.
A passeata
então foi um sucesso. A turma conseguiu dois caminhões, que nos acompanhou
desde a porta da faculdade, até o Campo Grande, ida e volta. Cartazes os mais
diversos foram feitos, todos com alusão à verba que fora destinada ao conserto da sala de clínica e que até então
nada fora feito. Lembro-me bem, que naquela
época, houve uma eleição para um alto escalão do Exército e que um
general por nome Estilac Leal, perdeu. Mas a turma associou uma coisa à outra e
fez uma faixa dizendo:
“---Este lá
que é leal, perdeu as eleições. Este cá que é o tal, ganhou oito milhões.”
As referências
ao Reitor e à verba destinada à sala de Clínica, foram o ponto chave da passeata,
que caíram certinho como uma luva.
Como a greve
só iria terminar, quando fosse restaurada a sala de clínica, recebemos
comunicações, para continuar a greve.
Voltei a
Poções por poucos dias pois aqui, a coisa não estava boa. O São João de Poções,
nunca foi comemorado a contento e havia a desvantagem de que o motorzinho que
pertencia ao Sr. Braz Labanca, sempre estava falhando e quando não, só
funcionava até à meia noite fosse dia de semana, domingo, feriado ou dia
santificado. E quando enguiçava ou quebrava qualquer peça pequena, era um Deus
nos acuda. Grande parte dos usuários corria até o local, para verificar de
perto o ocorrido. O Sr. Nicola Leto, que era o braço direito do proprietário,
ficava uma “fera”, quando ocorria qualquer pane no motor. Se o conserto fosse rápido, era um alívio total. Mas se ocorresse
um dano maior, dias e dias de escuridão total era a praxe.
Foi o que ocorreu
naquela minha vinda. Passamos uns dois dias no escuro e imediatamente retornei a Salvador.
x.x.x
De imediato,
fui à Faculdade copiar o horário das provas do primeiro semestre que estavam nessa
ordem: Anatomia. Fisiologia, Histologia e Metalurgia.
Interessante
era o esquema de aprovação para cada disciplina. Totalmente diferente daquele
que estávamos habituados nos cursos ginasial
e colegial. Teríamos que fazer duas provas: sendo uma em junho e a outra em
novembro. Para aprovação por disciplina era um total de 14 pontos, na soma das
duas provas escritas. Caso a soma ficasse situada entre 10 a 13 pontos, iríamos
fazer em dezembro, uma nova prova escrita e uma prova oral, cuja média seria
cinco. Se a soma, entretanto ficasse colocada entre 6 e 9 pontos, o aluno cairia
no “vago”, termo criado não sei por quem
e aí o estudante teria que fazer, prova oral e prática, cuja média seria somada
com a nota da prova escrita, para obter a média final cinco. Meio complicado
para quem era iniciante, mas o estudante
teria que aprender. Mas, se em último caso, o aluno só obtivesse entre
junho e novembro um total de 0 a 5 pontos, iria direto para fazer segunda época
em fevereiro e lá tentar conseguir fazer a média cinco. Mas se mesmo assim, o
estudante não alcançasse a média cinco, seria aprovado nas disciplinas
restantes, ficando dependente daquela, que não obteve a média para aprovação.
Vale salientar que durante o meu curso, vi muitos casos parecidos com esse
esquema que mostrei. Hoje em dia não sei como é que funciona.
Um fato muito
comum que acontecia no meu tempo de faculdade, era a chamada “ciumada” entre um
professor com os seus alunos e por causa disso, quase a nossa turma do primeiro
ano ,sobrasse no caminho. O professor de Patologia Clínica do terceiro ano, era
o mesmo que lecionava Histologia em
nossa turma. Ao final do primeiro semestre, os alunos do terceiro ano
escolheram para Paraninfo outro professor, enquanto o lente de Patologia, que
contava como “favas contadas”, a sua escolha, ao saber do resultado, resolveu descontar em cima de nossa turma. Na
prova escrita de Histologia verificou-se apenas uma nota cinco de uma colega,
tida por todos nós, como CDF, termo muito usado entre os estudantes de qualquer
nível. Todos os demais alunos do primeiro ano, obtiveram um espetacular zero,
inclusive o Papai aqui
De imediato, fui à Faculdade copiar o horário das provas
do primeiro semestre que estavam nessa ordem: Anatomia. Fisiologia, Histologia
e Metalurgia.
Interessante era o esquema de aprovação para cada
disciplina. Totalmente diferente daquele que estávamos habituados nos cursos ginasial e colegial. Teríamos que
fazer duas provas: sendo uma em junho e a outra em novembro. Para aprovação por
disciplina era um total de 14 pontos, na soma das duas provas escritas. Caso a
soma ficasse situada entre 10 a 13 pontos, iríamos fazer em dezembro, uma nova
prova escrita e uma prova oral, cuja média seria cinco. Se a soma, entretanto
ficasse colocada entre 6 e 9 pontos, o aluno cairia no “vago”, termo criado não sei por quem e aí o
estudante teria que fazer, prova oral e prática, cuja média seria somada com a
nota da prova escrita, para obter a média final cinco. Meio complicado para
quem era iniciante, mas o estudante
teria que aprender. Mas, se em último caso, o aluno só obtivesse entre
junho e novembro um total de 0 a 5 pontos, iria direto para fazer segunda época
em fevereiro e lá tentar conseguir fazer a média cinco. Mas se mesmo assim, o
estudante não alcançasse a média cinco, seria aprovado nas disciplinas
restantes, ficando dependente daquela, que não obteve a média para aprovação.
Vale salientar que durante o meu curso, vi muitos casos parecidos com esse
esquema que mostrei. Hoje em dia não sei como é que funciona.
Um fato muito comum que acontecia no meu tempo de
faculdade, era a chamada “ciumada” entre um professor com os seus alunos e por
causa disso, quase a nossa turma do primeiro ano ,sobrasse no caminho. O
professor de Patologia Clínica do terceiro ano, era o mesmo que lecionava Histologia em nossa turma. Ao
final do primeiro semestre, os alunos do terceiro ano escolheram para Paraninfo
outro professor, enquanto o lente de Patologia, que contava como “favas
contadas”, a sua escolha, ao saber do resultado, resolveu descontar em cima de nossa turma. Na
prova escrita de Histologia verificou-se apenas uma nota cinco de uma colega,
tida por todos nós, como CDF, termo muito usado entre os estudantes de qualquer
nível. Todos os demais alunos do primeiro ano obtiveram um espetacular zero
inclusive o Papai aqui. Como não havia mais possibilidades de fazer 14 pontos,
o jeito foi estudar com afinco para a prova de novembro e todo mundo torcendo
para que o Professor não fizesse outra igual. Dias antes da prova de novembro,
em sala de aula, ele simplesmente deu o seguinte aviso :
“---Nessa prova escrita que faremos na semana vindoura,
quem fizer tudo certinho, só conseguirá tirar a nota sete.”
Foi um Deus nos acuda! Qualquer descuido de nossa parte,
tirando um cinco, iríamos direto para segunda época em fevereiro. Chamei João
Alves Pereira, aquele amigo e colega de Iguaí, Otávio Conceição Mendonça, meu
vizinho de rua e Péricles Alves do Nascimento, que residia quase na Ribeira,
para organizarmos um meio de estudar em
conjunto, pois um iria tirando as dúvidas dos demais. Otávio não quis
participar alegando que era filho único e os pais dele por serem muito idosos,
poderiam necessitar de sua companhia à noite. Fizemos um revezamento, onde cada
qual receberia os dois, em dias alternados. Por incrível que pareça o nosso
plano deu certo e nós três tiramos sete, o que nos levou diretamente para o “vago”.
Aconteceu o previsível. Dos 73 colegas que haviam tirado zero, somente dez
escaparam de ir direto para fevereiro.
x.x.x
Um colega
do terceiro ano a fim de acabar definitivamente com a rusga e o mal estar entre
a turma deles e o Professor em questão, aproveitou do seu aniversário e
convidou-o para participar de sua festinha. A residência do rapaz era na
Barroquinha e sendo amigo muito íntimo do meu colega de infância, João Alves Pereira
que por sua vez estendeu o convite para mim. Aceitei o convite e lá cheguei próximo
das 20 horas. De nossa turma do primeiro ano, somente João e eu. Os demais eram
alunos do terceiro ano e mais alguns convidados do aniversariante. O Professor,
ladeado por diversas pessoas e num determinado momento, João pegou-me pelo
braço e levou-me até a presença dele, dizendo:
“---Pessoal da licença. Professor quero mostrar esse
colega nosso, que foi um dos dez que tiraram a nota sete na prova escrita e que
amanhã irá dar um show entra a oral e a prática.”
O Professor olhou-me assim de um certo modo, de cima a baixo, como quem
está medindo alguma coisa para poder se lembrar depois e disse:
“ ---Faço votos que repita outro sete.” Esta foi a
resposta LACÔNICA dele.
Fiquei aborrecido e chateado com a atitude de João. Não
levei nem mais de dez minutos na festa. Fui para casa pensando no que poderia
ocorrer no dia seguinte. “ Será que o professor iria me marcar”. “ João havia
falado que eu daria um show”...
No dia seguinte na Faculdade, no horário da prova oral, havia
até torcida organizada. Todos torcendo por todos. O Professor, enviou cinco de
nós ao laboratório de prática, para o assistente dele, ir adiantando o serviço,
enquanto os outro cinco, inclusive eu, ficamos com ele, para participar do
exame oral. Apo chegar a minha vez, ele me disse:
“---Você foi um dos que tiraram sete na escrita. Então, é
porque sabe mesmo aquele assunto, não é
mesmo ? não iremos sortear ponto
algum. Sente-se e começaremos a sua prova oral, pelo primeiro quesito da prova
escrita.”
E daquele jeito, fiz toda a prova oral, com o mesmo
assunto que caiu na prova escrita, embora, à maneira dele, havia mudanças no
questionamento das perguntas. Depois,
falou:
“---Agora vá a sala de prática e faça a sua prova com o
meu assistente.”
Novamente eu fizera um bom exame, contando com a torcida da
turma , que ficava bem próxima, assistindo a tudo bem interessada, para também
avaliar como eles todos, seriam recebidos na prova de fevereiro . Foi de fato,
uma parte da manhã, bem tensa. No meu caso, estaria aguardando um novo sete,
para repetir a nota da prova escrita. Pensativo nos acontecimentos daquela manhã
e ainda me recordando da noite passada, dirigi-me ao laboratório. Já encontrei
pelo caminho, alguns colegas, aborrecidos com o tipo de exame que estava sendo
imposto. Agora, bem nervoso, entrei.
LACÔNICA: Que usa de poucas palavras. Conciso.
Breve
x.x.x
Sorteado o ponto, o assistente mandou-me sentar
próximo a uma mesa com um microscópio e
colocou umas lâminas para começar o meu exame.
O fato é que errei mais do que acertei, pois o esquema era o de reprovar, quem bobeasse. Depois
da prova prática, os comentários no corredor, não foram nada agradáveis.
Ninguém havia feito boa prova prática. A nossa salvação, seria mesmo a prova
oral, mesmo encarando de perto aquele Professor. Uma hora depois que o
Professor e seu assistente, retiraram-se da Faculdade nós chamamos o BEDEL. Entregamos
a ele uma pequena quantia em dinheiro, para que nos trouxesse a lista com as
nossas notas. Nessa expectativa, cada um começava a fazer as contas. Eu que
tirara sete na prova escrita. Fiz o seguinte cálculo. Outro sete na oral com um
três na prática, já me dava média cinco, independentemente da prova escrita. Dali
a instantes o bedel trouxe a lista e os mais afoitos, agarraram a lista
forçando a que todos os demais corressem atrás deles. Foi uma euforia geral,
porque um deles gritou parta a turma toda.
“---Todo mundo passou.”
Mas, depois com calma, alguns foram saindo, para que Péricles e eu olhássemos
com calma as nossas notas. Vi claramente o meu nome com as notas ao lado. Prova
escrita, sete. Prova oral cinco e prova prática um. Média final cinco. Aquele “vago”
foi o primeiro e último na minha vida escolar. Dois dias depois fiz a prova de
Fisiologia, ficando com média seis e sendo aprovado para cursar no ano seguinte
o segundo ano de Odontologia. Mesmo estudando conosco, João Alves Pereira nos acompanhou
o tempo todo, mas preferiu deixar para fevereiro os seus exames.
Voltei a Poções, aqui chegando antes do Natal e fui
procurado por dois advogados novatos na cidade, que gostariam de travar
conhecimento com estudantes do nível médio e do curso superior, para
organizarem um jornalzinho e nele difundir ideias, para aprimorar artes,
música, teatro, esporte, enfim tudo o que satisfizesse o adolescente,
principalmente os moradores da cidade.
Os dias foram passando e soube que o clube social estaria
organizando a festa do Réveillon do 31 de dezembro e uma matiné dançante para o
dia primeiro de janeiro de 1952.
Papai não era sócio do clube e só me restava comprar
ingresso, o que não foi difícil, mas alguém teria que ser o responsável por
minha conduta no recinto. Recorri ao Sr. Bernardo Messias, pois era a única
pessoa que eu conhecia, mas infelizmente ele como Diretor do clube, não poderia
apresentar-me. Era uma regra estatutária e ele não queria infringir. Como Papai
era amigo dos italianos, resolveu pedir ao Sr. Corinto Sarno, que prontamente
aquiesceu e só vim a conhecê-lo dias depois. Um amigo nosso, cujo nome não vou
declinar por questão de ética, pediu-me para dançar algumas vezes com a sua
namorada, porque estava suspenso e não poderia frequentar o clube.
BEDEL : funcionário subalterno em alguns
estabelecimentos de ensino. Funcionário encarregado de manter a disciplina na
escola. Inspetor.
x.x.x
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