quinta-feira, 25 de abril de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( p 22 )

À principio, nosso reencontro demorou, pois não sabia exatamente quando Noélia teria folga no Colégio. As freiras adotavam um esquema que envolvia bom comportamento, aliado a boas notas nos testes e nas provas. Caso cada aluna se saísse ao contento delas, obteriam um final de semana ( do meio dia de exta feira até o reinicio das aulas na segunda feira seguinte), contado de quinze em quinze em dias. Para poder assimilarmos aquele esquema do Colégio das Mercês e associá-lo aos nossos interesses, demorou um pouco e num belo dia, recebi um telefonema diretamente de Noélia, dizendo que estaria hospedada na residência do Dr.Joaquim  Barreto de Araújo naquele final de semana e na mesma hora também me forneceu o endereço .( Convém salientar que na casa de tia Edite, não existia aparelho telefônico e sim o da vizinha da casa em frente.)Provavelmente alguém que sabia lidar com listas telefônicas, notou que na Rua do Alvo, existia um aparelho próximo da casa de tia Edite e arriscou, tendo acertado em cheio. Contando esse detalhe à minha tia, ele me disse :
---Como o mundo é pequeno. Essa sua namorada está hospedada em casa de nossos parentes. A esposa do Dr. Joaquim  Barreto de Araújo, é prima nossa e é mais conhecida pelo apelido  de Zuzú. Didi, como  o destino une as pessoas sem percebermos. Vá ao encontro dela e se tiver oportunidade conte esse fato.
No primeiro encontro, peguei um BONDE no terminal da Praça da Sé e saltei no Corredor da Vitória, onde alí próximo,  moravam os nossos parentes, Esperei   um bom tempo, até Noélia surgir. Saudamo-nos com um bom aperto de mão e dali mesmo, tomamos outro bonde de retorno à Praça da Sé, onde fomos assistir a um filme no Cine Excelsior.
À partir de então, como os nossos encontros demoravam devido ao esquema das freiras, através do nosso amigo Nino, que conhecia algumas alunas do Colégio, começamos a nos corresponder através de bilhetes ou cartinhas simples. Mas certa feita Nino sentindo que eu gostava de escrever me fez a seguinte proposta:
---Irundy, se eu comprar um bloco de cartas, você escreverá para Noélia ele todinho.?
--- Pode comprar que eu garanto escrever.
Pois não é que Nino aceitou o desafio e dias depois me entregou um bloco de cartas. Com eu havia aceitado o desafio, o jeito foi escrevê-lo. E o interessante nisso tudo é que até hoje, nós o temos guardado como  lembrança dos nossos velhos tempos de namoro.
Decorrido algum tempo depois daquelas visitas constantes ao Corredor da Vitória, Noélia  passou a hospedar-se num pensionato que existia na Rua Direita da Piedade número 9, próximo à Secretaria de Segurança Pública. Era um pensionato misto, cujo proprietário Omar, recebia amigos nossos de Poções, como Nino e Vilobaldo Macêdo e um de Vitória da Conquista, por nome Pedro Ferraz e mais alguns outros que eu não conhecia.

BONDE: Veículo ferroviário elétrico, destinado ao transporte urbano e suburbano de passageiros.      
                                                 
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Então ,com esse novo esquema, todas as sextas feiras que eu sabia da saída de Noélia, ao retornar da Faculdade para casa, já arrumava a minha bagagem a fim de passar todo o final de semana, lá no pensionato onde a turma ficava hospedada. Mais adiante modifiquei novamente aquele esquema inicial e ao sair da Faculdade, ia diretamente para a porta das Mercês, esperar a saída das meninas. Encontrava com Noélia e dali  íamos juntos até chegar no pensionato. Sempre os nossos finais de semana eram variados, para não cair na rotina.
Ao final das aulas de 1952, retornamos a Poções e todas as quintas feiras, no período da manhã, seguia com Papai até a Vila do Amianto, onde atendia os operários e seus familiares, executando somente extrações dentárias. Além de ganhar um dinheirinho, servia de mais prática para mim, pois já estava habituado a fazer aqueles atendimentos, no Posto de Saúde da Maçonaria, localizado na Rua Carlos Gomes, em Salvador.
Os dias de dezembro se seguiram, até a festa do Réveillon no Clube Social, onde nós dois sempre dançávamos juntos, todas as partes, sendo sempre observados pelos olhos de Tia Tália. Fazíamos inveja a muita gente, pois, sendo um dançarino nota 1000 e tendo como companhia a minha querida Nó, que era levezinha, rodopiávamos aquele salão dezenas de vezes. Era o namoro mais gostoso deste mundo. À  meia noite, houve aquela confraternização geral, onde todos os presentes, se abraçavam e se beijavam, uns, apenas com cumprimentos manuais, desejando aos seus parentes e amigos, mil venturas para o ano novo de 1953.
Lá pelas tantas horas da madrugada, só não gostei, quando o Sr. Octaviano, esposo de Amélia, retirou todo o pessoal do clube, alegando cansaço, por suas atividades em sua loja, no dia anterior. Fiquei chateado com o acontecido. Mas que jeito. Perdido dentro do clube, o recurso foi também tomar o caminho de casa.
Na tarde do dia primeiro de janeiro de 1953, encontramo-nos dentro do salão do clube, para comemorar o nosso primeiro ano de namoro. Uma tarde completamente diferente daquela vivida no ano anterior. Sem marcações aos colegas interessados por Noélia. Sem aquela expectativa de querer vencer os adversários. Estávamos alí radiantes, um com o outro e dançamos novamente todas as partes e para bem comemorar, fomos à noite ao Cine Santo Antônio, onde nos sentamos na última fila...
Apesar dos pesares, Amélia que era a irmã mais velha, sentindo de perto que o nosso namoro não era coisa banal, sugeriu a Nó, que a partir daqueles dias nos encontrássemos à porta de casa, somente não o fazendo aos sábados, pois era o dia em que o  Sr. Jambinho, vinha da fazenda e passava o dia quase todo em Poções. Foi uma decisão auspiciosa para nós, pois não precisaríamos ficar nos escondendo de uns e de outros. Tal resolução veio até de encontro a certa oportunidade, em que, ao saber do seu namoro comigo, Amélia chamou Nó às falas e lhe disse :
“---Você ainda é uma menina e está de namoro com esse rapaz, que já faz Faculdade.”

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Seu Jambinho”, pai de Nó, tinha o hábito de vir da fazenda, aos sábados, durante o dia, por causa da feira. Resolvia todos os negócios e o jantar, era aí por volta das 20:30 a 21horas. Nesse interim, Nó e eu, já estávamos no cinema. Então com toda a cautela, gozamos de nossas férias sem nenhum constrangimento. Ao retornarmos a Salvador, algumas vezes cheguei a frequentar o Colégio Nossa Senhora das Mercês, onde acompanhava o Sr. Juvêncio lago Silva, pai de Irene, até um local, chamado de PARLATÓRIO, onde podia rever a minha querida Nó. Ficávamos numa sala, conversando durante algum tempo, sem podermos estender muito, a fim de  não interromper as aulas das garotas.
Numa certa ocasião, houve uma festinha, tipo quermesse e aí para ganhar algum dinheiro, as freiras facilitavam mais a fiscalização, onde passamos uma tarde bem agradável.
Como citei em linhas atrás, Nino, nosso amigo de Poções, que estudava em Salvador e era hóspede do pensionato do Sr. Omar e interessado em namorar alguma garota do Colégio das Mercês, achou por bem em mudar de pensionato, conseguindo uma vaga em um que ficava justamente em frente ao Colégio. Do terceiro andar desse pensionato, avistava-se muito bem o local do recreio das alunas e eles se comunicavam através do alfabeto dos surdos – mudos. Numa certa feita, Nino comunicou-me o fato e apareci para ver de perto como a coisa funcionava. Aos poucos fui também aprendendo  a gesticulação com as mãos e verifiquei que tudo se arrumava perfeitamente bem. Nó, como sempre tímida e arredia ficava por alí. Mandava os recados pelas outras meninas e fingia não estar participando. Foram momentos interessantes que só a mente dos jovens pode desenvolver.
Considerando-se que o Colégio Nossa Senhora das Mercês, que naquele período de ensino, era assim por dizer, um dos mais “fechados”, com a fiscalização das alunas internas, vê-se claramente por esse fatos aqui narrados, que as próprias alunas e seus pretendentes, já faziam o jogo contrário e diga-se de passagem:” quanto mais se fecha, há sempre algumas alternativas para se abrir.
A Faculdade de Odontologia, que na época, funcionava no antigo prédio da Faculdade de Medicina, no largo do Terreiro, próximo a Igreja da Catedral, realizava as suas aulas teóricas nos anfiteatros ali existentes, de acordo com os horários programados para o seu curso e dos demais de medicina e farmácia. As aulas de prática, também eram realizadas nos laboratórios que serviam de apoio aos três cursos, onde viviam irmanamente, sem nenhum contratempo. Desfrutávamos também, da mesma cantina e das salas de jogos e divertimentos. Fazendo um ligeiro resumo da minha passagem naquela Instituição de Ensino Superior, poderei citar desde o trote inicial, já narrado em linhas atrás, ao trote com todos os alunos de todas as Faculdades reunidas no mesmo dia, onde um dos nossos colegas de Odontologia, quase ficou em estado de coma  alcoólico. O torneio eliminatório de futebol, no velho Estádio da Graça, onde por força de uma tabela, que nos prejudicou bastante, começamos a jogar às 13 horas, sob um sol causticante e fomos derrotando um a um, os nossos adversários, até jogarmos a partida final , quase às vinte  horas e já extenuados, perdemos por 2 a 1 para a Faculdade de Filosofia.


PARLATÓRIO: também conhecido como locutório. Local onde os internos conversam com as pessoas que os visitam.

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Cursando o último ano da Faculdade e estando praticamente sem dinheiro, pois a mesada que o Dr. Ary enviava não supria as necessidades mensais, comecei a colecionar todo o tipo de variedades que aparecia. Desta forma, comecei a juntar figurinhas de um álbum chamado “Seleções” e aos poucos fui descobrindo que muitas delas, eram consideradas como “difíceis”. Ao mesmo tempo, uma companhia de refrigerantes, colocou na Cidade, um tipo de concurso, onde as pessoas teriam que colecionar as tampinhas das garrafas, com as figuras de diversas mercadorias, como bicicletas, geladeiras e por aí afora , uma gana  de objetos desde os mais simples, como carrinhos de brinquedo e bonecas. No álbum, apareciam figuras numeradas, onde as mais difíceis eram “rampa do mercado”, “camelo”, pássaro azul, enquanto nas tampinhas, apareciam as figuras dos objetos com os números a partir do  um. À medida que o tempo passava, fui descobrindo as mais difíceis e após as aulas da Faculdade, caminhava com um ou outro colega também  interessado e íamos até a Rua Chile, que naquela época, era o ponto de elite da Cidade de Salvador. Naquele local, vendíamos pelos preços os mais variados possíveis, as figuras e as tampinhas de  garrafa. Não deu outra. Na base das velha Matemática, aos poucos fui colecionando figurinhas e tampinhas e ao final de uns dois meses, ganhei um bom dinheirinho.
Numa determinada ocasião, quando havia acabado de almoçar, eis que à porta da casa de tia Edite, estaciona um automóvel, tendo ao volante, um amigo nosso, de alguns passeios, por nome Gloriano, trazendo sem sua companhia  o velho amigo Nino.
Fui atendê-los e perguntei logo em seguida, meio assustado, pois nunca os vira alí em dia nenhum:
‘’Qual é o problema rapazes?
Gloriano respondeu de imediato:
---Se você quer ver a sua Nó, entre aqui no carro e venha conosco, pois o Colégio das Mercês alugou um ônibus que irá rodar a tarde toda, mostrando  às alunas, os principais pontos turísticos da cidade.
Foi num piscar de olhos. Em pouco tempo estava com a roupa trocada e meti no carro de Gloriano e seguimos em busca do tal ônibus. E de fato, os meus amigos estavam certos. Ao chegarmos nas imediações do Colégio das Mercês, avistamos ao longe, o ônibus seguindo pela Avenida 7 de setembro, passando pelo antigo Palácio do Governo, indo em direção ao Campo Grande. Gloriano acelerou um pouco e de dentro do carro, já víamos algumas garotas no último banco, voltadas  para nós e através do vidro, acenavam  e riam à vontade. Nenhuma delas eram nossas conhecidas, mas por educação, retribuíamos os acenos. Continuamos seguindo o ônibus através do Corredor da Vitória, descemos a ladeira da Barra, passando em frente ao Iate Clube da Bahia, até chegarmos ao Porto da Barra, mas indo em frente, o ônibus só foi fazer a primeira parada, no largo,  em frente ao Forte. Guardamos uma certa distância e vimos que todas as alunas saltaram.

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Nós ficamos a uma certa distância, para não sermos vistos e aguardamos pacientemente até que o ônibus  continuasse  indo estacionar mais uma vez, próximo ao Cristo, que ficava lá no alto de uma pequena ladeira. Alí , novamente Gloriano estacionou o veículo bem longe do ônibus, quando todos nós saltamos e fomos nos aproximando cautelosamente, As freiras por sua vez, deixaram as meninas  à vontade. Nó ,como sempre meio ARREDIA, temerosa de ser observada pelas freiras, conversava sem dar na pinta. Aquela conversação deve durado alí  cerca de meia hora, quando então todo o pessoal retornou ao ônibus e o passeio prosseguiu o tempo todo pela orla, mas não houve outra parada significativa, para que tivéssemos nova chance de ver as meninas tão perto.
Em meados de abril, numa reunião do Diretório Acadêmico da Faculdade de Odontologia, com todos os alunos da terceira série, presentes, resolveu por unanimidade, colocar um automóvel da marca Hilman Minx, numa rifa, para que a renda pudesse ajudar a custear uma parte das despesas, do sonho da maioria, que gostaria de conhecer Buenos Aires, capital da Argentina. Dias depois com o automóvel adquirido, pelo colega João Durval Carneiro, que muitos anos mais tarde, tornou-se Governador do Estado da Bahia, foi efetuada a distribuição dos bilhetes da seguinte forma: uma parte ficaria  individualizada, pois cada colega teria que vender pelo menos 50% dos mesmos. Alguns talões, que faziam parte da segunda quota, seriam entregues a cinco colegas escolhidos entre si, cuja vendagem seria revertida em beneficio dos mesmos, guardando-se as respectivas percentagens pelo trabalho e desempenho de cada um. E finalmente a terceira parte, faria parte da turma toda, para que tais bilhetes fossem vendidos nas praças públicas, nos bairros ou em qualquer local que fosse marcado previamente, para o comparecimento daqueles sorteados.
Como a Festa do Divino Espírito Santo, seria realizada entre 15 e 24 de maio, procurei chegar em Poções, na sexta feira, para apreciar a “Chegada das Bandeiras” e pedi a Papai  para me ajudar na vendagem dos bilhetes  da rifa. À noite fui ver de perto a parte religiosa , que era realizada exclusivamente na Igreja, que ficava exatamente na Praça, onde eram realizada a parte profana. Depois da novena, cheguei até o centro da Praça e o que vi logo de perto; um pavilhão, onde nele de um lado estava armado um palco, para a exibição da Filarmônica da Cidade, com suas músicas próprias e que no decorrer da noite, iria apresentar também músicas populares, para a turma dançar. Soube por informações de pessoas habituadas a frequentar o pavilhão em anos anteriores, que nos primeiros dias da festa, realizou-se noitadas de bingo, com cartelas vendidas para cada sorteio. Nos três  últimos dias da festa, iriam fazer leilão de diversos objetos oferecidos pela população. Percorri  a Praça em sua totalidade, vendo em cada setor da mesma, um parque de diversões , com Roda Gigante, Carrossel, Barquinhos, Carrinhos, Serviço de Som, enfim uma PARAFERNÁLIA de peças, para gozo das pessoas .Em volta de toda a Praça, uma dezena de barraquinhas cobertas de palha, onde os frequentadores iriam desfrutar de comidas e bebidas.

ARREDIA: diz-se daquele que se afasta voluntariamente dos lugares onde os demais estão. Que se isola. Que se separa.

PARAFERNÁLIA: Conjunto do que é necessário a determinada atividade.

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Pela primeira vez, participei de um jogo, chamado de “Estado”. Numa barraca simples, observei diversas pessoas em volta, apostando umas fichas em alguns números que variavam do número 6 ao 36, Eram seis Estados do Brasil e em cada um, faziam parte cinco números . No centro do tabuleiro existia uma espécie de funil de duas bocas abertas, onde eram jogados pelo dono da barraca, seis dados, que despois de somados indicava os vencedores e os perdedores. Os números 6 e 36 eram aqueles que pagavam melhor importância, devido a dificuldade de aparecerem na soma dos seis dados. Fiquei uma meia hora analisando aquele jogo por demais interessante, que dependia exclusivamente  de sorte e de algum esquema montado, por qualquer apostador. Dei sorte, porque comprando três cruzeiros de ficha, em pouco tempo, consegui amealhar trinta e seis cruzeiros. Antes que a sorte virasse para outro apostador, resolvi sair em busca de novas aventuras. Fui então ver de perto como é que funcionava o leilão, que por sinal, já estava em andamento, com muitas pessoas participando. Naquela oportunidade, já conhecia alguns personagens principais da vida da Cidade e que por sinal, no momento, faziam parte da Comissão da Festa. Consegui ver de perto Corinto Sarno, que anos atrás, avalizou o meu ingresso no Clube Social. Alcides Fagundes, Prefeito da Cidade e pai de Deusdete Fagundes, que em certa época de minhas viagens, conduziu-me até o local onde poderia pegar o transporte para Iguaí. Bernardo Messias, que numa outra ocasião hospedou-me em sua residência. Américo Libonati, parente da família Sarno e negociante. Dr. Alcides Pinheiro dos Reis. Engenheiro agrônomo, que militou por muito tempo nesta Cidade, sendo responsável pela Agência do Fomento Agrícola e outros mais, que participavam da mesa principal, onde estavam arrumados os objetos que fariam parte do leilão a ser realizados nos três dias da festa. Achei interessante em certo momento, quando entrou em leilão, um frango assado, todo envolto em papel transparente e arrumado com fitas e colocado sobre uma bandeja de metal inoxidável. O rapaz encarregado de passar próximo às mesas, oferecendo o produto, falava em voz alta, porque em certos momentos, a música vinda do parque de diversões, impedia que todos ouvissem claramente o que ele dizia.
Para que todos entendam direito o que se passou, naquela hora do leilão, vou trocar os cruzeiros da época, pelos reais de hoje, a fim de facilitar mais o entendimento.
O rapaz anunciou:
---E agora, um delicioso franguinho, vou pedir a gentileza dessa senhorita para que me diga quanto ele vale. A mocinha, que fazia parte de uma mesa, onde estavam cerca de cinco pessoas, olhou para os seus companheiros e arriscou: ---Ele vale dez reais. À partir daquele instante, começou uma disputa, entre participantes de duas mesas rivais, onde um deles chegou a dizer:  ---esse frango não chegará ao bico de vocês!
O certo é que depois de vários lances de parte a parte, o franguinho que começou a receber um lance inexpressivo de dez reais, foi arrematado pelo grupo vencedor, por duzentos e quarenta reais, com o seguinte adendo:
“---não disse a vocês, que não iriam provar desse frango!”

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Embora Noélia não tenha vindo para as Festas do Divino, devido as suas aulas, achei a minha missão cumprida. Vim para conhecer os movimentos e ao mesmo tempo vender os bilhetes da rifa, tendo a boa colaboração de Papai, que junto aos seus amigos, conseguiu dar um grande avanço nos bilhetes do meu talão. Em compensação, com o ganho que tive no jogo do “Estado”, ajudou-o na despesa da passagem de ônibus na volta a Salvador. Dias depois, já retornava  a Poções, para gozar as férias de meio de ano e com a companhia de Nó, pois havíamos combinado antecipadamente.
Nas duas quintas-feiras, que faziam parte das férias, fui ao Amianto, continuar os meus trabalhos dentários, mas o casal Dr. Pelissier/Dona Madeleine, haviam sido substituídos por outro gerente, solteiro, tipo boa vida. Um camarada mais aberto ao diálogo e por sinal um grande bebedor de whisky. Numa das quintas feiras, ele insistiu, para que demorasse mais um pouco a fim de nós jogarmos sinuca eo fizemos quase a tarde toda, também em companhia de Raimilson Gusmão. Nós chegamos de volta a Poções, somente após o jantar. Naquela oportunidade, ainda lembrei-me de uns dizeres de tia Edite, que em  certa ocasião, comentando sobre alguns franceses que ela havia conhecido:
---“Sabia que eles são pão duros, mas ignorava que fossem irresponsáveis e imaturos.”
Com as férias de meio de ano acabam num piscar de olhos, Nó e eu retornamos às nossas atividades e eu já preocupado com a minha consolidação na vendagem dos bilhetes da rifa do carro. Quando era marcada uma saída de grupos, nunca faltei a nenhuma delas. Certa feita então, o grupo de 5 combinou a passar uma poite em Praia Grande e Piripiri. Teríamos que tomar o bonde até a Calçada e de lá, pegar o trem para saltar em Praia Grande. Como Piripiri era vizinho, não seria necessário pegar outra vez o trem. Quando cheguei na estação da Calçada, somente compareceu o Péricles e fomos nós dois vender os bilhetes, que por sinal houve uma grande aceitação, mesmo porque, um primo nosso, nos ajudou bastante, com os amigos e conhecidos dele, daquela região. Resultado é que a porcentagem recaiu totalmente para nós dois, tendo em vista que os outros três colegas não compareceram.
Como já estava ciente, que Nó saía sempre todas as sextas feira, de quinze em quinze dias, logo que terminava a última aula da Faculdade, ia me postar, próximo ao portão de saída das alunas. O fardamento consistia numa blusa branca, com uma gravata azul. Saia azul marinho plissada e comprida, bem abaixo dos joelhos, caracterizando-se daquela forma, o espírito  PUDICO, implantado pelas freiras. Com o calor que fazia em Salvador, não sei como é que aquelas garotas aguentavam vestir-se daquela maneira. Dalí íamos à Rua Direita da Piedade, onde Nó ficaria hospedada o resto da[i] semana. À partir de então, para ficar economicamente melhor para mim, ficava hospedado também no pensionato, onde pagava somente duas diárias(sábados e domingos), ao invés de ficar ir e vindo da casa de tia Edite. E assim a história se repetia duas vezes ao mês e o pessoal já ficava avisado desde a minha saída na sexta feira.
PUDICO: que demonstra recato. Envergonhado. Tímido.





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