No dia
8 de março de 1971, recebemos um telegrama, onde Armando nos contava sobre o
nascimento do seu primogênito, Silvio Caetano, em parto normal, ocorrido no dia
6, ou seja, dois dias antes do recebimento da notícia. Dias depois ,recebemos
uma cartinha, onde num relato mais simples, eles contavam sobre a vidinha que
estavam levando e aproveitaram o ensejo, para nos convidar a sermos os
padrinhos do garoto a poucos dias nascido. Nó e eu ficamos sinceramente
agradecidos e passada a fase de euforia,
voltamos as vistas para o nosso próximo filho e agosto já estava se
avizinhando. Mas dessa vez, estávamos precavidos. Não haveria mais subidinhas e
descidinhas naqueles veículos de Salvador. A nossa rotina aqui em Poções era
mais segura.
Logo
após os festejos de São João, fizemos uma viagem curta a Vitória da Conquista ,
naqueles exames rotineiros e Dr Fernando aproveitou para fazer uma
ultrassonografia, onde constatou-se que Noélia iria ganhar duas crianças em
meados do mês de agosto. O Sr Jambinho ao saber do resultado comentou:
“--- Eu
estava desconfiado, mas não quis dizer nada, pois estou achando a sua barriga
muito grande para ser um filho só.”
Aquela
expectativa aumentou de tal modo, que o Dr Fernando, em Conquista, no último exame
que foi feito, nos disse que os meninos iriam nascer entre 15 e 25 de agosto.
No dia
5 de agosto, fomos à Conquista, para comprar alguns materiais dentários, visto
que aqui em Poções, nunca apareceu algum comerciante com essa ideia de pelo menos colocar um pequeno negócio, que servisse
para abastecer a própria cidade e as demais regiões circunvizinhas. Quando
estávamos já nos preparando para regressar a Poções, deu um estalo em minha
cabeça, para que passássemos no Posto onde o
Dr Fernando trabalhava. Estacionei o carro( o fusquinha que já fizera um
ano de comprado em junho).e saltamos. Como praticamente naquele horário, o
posto achava-se quase vazio, Noélia foi logo encaminhada para o atendimento. Fiquei
esperando até quando Nó apareceu dizendo:
---Dy
,você não sabe de uma coisa !
Que foi
Nó?--- perguntei já com a orelha em pé.
Nó continuou:
---Feliz
foi a ideia que você teve em vir procurar o Dr Fernando. Os nossos filhos irão
nascer hoje. Vou ficar hospedada em casa de Guilherme e Irene, enquanto você
irá a Poções, trazer as roupinhas dos nenês. Peça a Tereza para vir
também. Depois de deixar Nó em casa de
Guilherme e Irene , peguei o fusca e vim “voando “pela Rio Bahia. Se é que a
expressão VOANDO, pode ser aplicada a um fusca. Mas naquela altura dos
acontecimentos, o mais rápido que eu pudesse atuar, seria um ganho de tempo
inestimável. Cheguei em Poções, um pouco mais do meio dia. Almoçamos e de
imediato, Tereza e eu partimos de volta, lá chegando à residência de Irene,
precisamente às 15 horas e 20 minutos. Mas Noélia já havia sido internada na
Santa Casa de Misericórdia através de recomendação do próprio Dr Fernando.
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Seguimos
para lá e encontramos Nó dentro do apartamento, andando de um lado para o
outro, seguindo fielmente as recomendações do Dr. Fernando, até que
precisamente as 17 horas, duas enfermeiras chegaram com uma maca e com aquela
habilidade característica de quem entende do serviço, em poucos instantes, dona
Noélia já estava prontinha para sair do apartamento rumo à sala de partos. Mas
não demorou muito. Aquela expectativa que ficamos foi dissipada em pouco mais
de meia hora, quando Nó chegou deitada numa maca, ladeada por duas enfermeiras,
enquanto duas outras, seguravam, cada qual uma criança. Aquele embrulhado por
fora, com uma flanela de cor azul, era um menino com o rosto meio inchado,
apresentando também os dois olhinhos bem apertados, parecendo mais um japonês. A
outra criança veio toda enrolada numa coberta de cor rosa. Era uma menina. Um casal
de gêmeos ?
Nó
pregava cada peça interessante. Há quatro anos foram dois meninos que perdemos, mas agora era
um casal, mais difícil de “vingar”, como vaticinavam as más línguas. No dia
seguinte eles seriam registrados como os nomes de Dino Augusto e Maria Augusta.
Nos primeiros moimentos observamos que Dino achava-se meio inchado, por ter
suportado o peso de Maria Augusta, por algum tempo antes de serem expelidos.
Por sua vez, Maria Augusta demonstrava que estava com fome, pois a sua língua não
parava um instante. As enfermeiras se encarregaram de passar a notícia pelas
dependências do Hospital, tal a afluência de curiosos que compareceram em nosso
apartamento. Para cada visitante, nós tínhamos que ouvir as suas preces, as
suas conversações, ensinamentos e outras coisinhas mais ,como se nós dois
fôssemos “marinheiros de primeira viagem “.Para tentar dormir é que foi
difícil. Em todo instante, aparecia uma enfermeira, ora para atender Nó e na
maioria das vezes, para observar o estado das crianças, que por sua vez,
dormiam tranquilamente o “sono dos justos”. Tia Té ficara na residência do
casal Guilherme /Irene. Nessa mesma madrugada, numa das horas em que Nó
achava-se acordada, ela me deu a notícia de que escolheria Guilherme e Irene
para serem os padrinhos de Maria Augusta, enquanto Tia Té e tio Fonso, seriam
os padrinhos de Dino.
No dia
6, sexta feira, saí logo cedo e fui registrar as duas crianças. Na volta,
encontramos o Dr Fernando e ele nos passou
a notícia de que iria passar o fim de semana na sua roça. Pedimos então, que ele
desse alta a Nó no sábado, pois a mesma passou a noite muito bem e as duas
crianças estavam perfeitamente com saúde. Com aquela parte já efetivada, o resto
foi esperar calmamente., que a sexta feira passasse o mais rápido possível.
Quando
o sábado amanheceu, fizemos a seguinte arrumação dentro do fusca: Tia Té ficou
sentada no banco traseiro segurando Dino. Nó amparou Guga e ficou sentada ao
meu lado, no banco da frente. Entrei no carro e vim trazendo-o na base média de
60 quilômetros por hora, até estacionar em nossa residência à Rua Olímpio Rolim,
número 90.
No
mesmo dia, a notícia correu ao largo, e incessantemente recebemos diversas
visitas. Só mesmo à noite, é que o Sr. Jambinho, vindo da roça, veio conhecer
mais dois netinhos.
---“Meus
filhos, vocês vão saber cuidar dessas crianças! “
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