quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( p 49 )

No dia 8 de março de 1971, recebemos um telegrama, onde Armando nos contava sobre o nascimento do seu primogênito, Silvio Caetano, em parto normal, ocorrido no dia 6, ou seja, dois dias antes do recebimento da notícia. Dias depois ,recebemos uma cartinha, onde num relato mais simples, eles contavam sobre a vidinha que estavam levando e aproveitaram o ensejo, para nos convidar a sermos os padrinhos do garoto a poucos dias nascido. Nó e eu ficamos sinceramente agradecidos  e passada a fase de euforia, voltamos as vistas para o nosso próximo filho e agosto já estava se avizinhando. Mas dessa vez, estávamos precavidos. Não haveria mais subidinhas e descidinhas naqueles veículos de Salvador. A nossa rotina aqui em Poções era mais segura.
Logo após os festejos de São João, fizemos uma viagem curta a Vitória da Conquista , naqueles exames rotineiros e Dr Fernando aproveitou para fazer uma ultrassonografia, onde constatou-se que Noélia iria ganhar duas crianças em meados do mês de agosto. O Sr Jambinho ao saber do resultado comentou:
“--- Eu estava desconfiado, mas não quis dizer nada, pois estou achando a sua barriga muito grande para ser um filho só.”
Aquela expectativa aumentou de tal modo, que o Dr Fernando, em Conquista, no último exame que foi feito, nos disse que os meninos iriam nascer entre 15 e 25 de agosto.
No dia 5 de agosto, fomos à Conquista, para comprar alguns materiais dentários, visto que aqui em Poções, nunca apareceu algum comerciante com essa ideia de  pelo menos colocar um pequeno negócio, que servisse para abastecer a própria cidade e as demais regiões circunvizinhas. Quando estávamos já nos preparando para regressar a Poções, deu um estalo em minha cabeça, para que passássemos no Posto onde o  Dr Fernando trabalhava. Estacionei o carro( o fusquinha que já fizera um ano de comprado em junho).e saltamos. Como praticamente naquele horário, o posto achava-se quase vazio, Noélia foi logo encaminhada para o atendimento. Fiquei esperando até quando Nó apareceu dizendo:
---Dy ,você não sabe de uma coisa !
Que foi Nó?--- perguntei já com a orelha em pé.
Nó  continuou:
---Feliz foi a ideia que você teve em vir procurar o Dr Fernando. Os nossos filhos irão nascer hoje. Vou ficar hospedada em casa de Guilherme e Irene, enquanto você irá a Poções, trazer as roupinhas dos nenês. Peça a  Tereza para vir também. Depois de  deixar Nó em casa de Guilherme e Irene , peguei o fusca e vim “voando “pela Rio Bahia. Se é que a expressão VOANDO, pode ser aplicada a um fusca. Mas naquela altura dos acontecimentos, o mais rápido que eu pudesse atuar, seria um ganho de tempo inestimável. Cheguei em Poções, um pouco mais do meio dia. Almoçamos e de imediato, Tereza e eu partimos de volta, lá chegando à residência de Irene, precisamente às 15 horas e 20 minutos. Mas Noélia já havia sido internada na Santa Casa de Misericórdia através de recomendação do próprio Dr Fernando.

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Seguimos para lá e encontramos Nó dentro do apartamento, andando de um lado para o outro, seguindo fielmente as recomendações do Dr. Fernando, até que precisamente as 17 horas, duas enfermeiras chegaram com uma maca e com aquela habilidade característica de quem entende do serviço, em poucos instantes, dona Noélia já estava prontinha para sair do apartamento rumo à sala de partos. Mas não demorou muito. Aquela expectativa que ficamos foi dissipada em pouco mais de meia hora, quando Nó chegou deitada numa maca, ladeada por duas enfermeiras, enquanto duas outras, seguravam, cada qual uma criança. Aquele embrulhado por fora, com uma flanela de cor azul, era um menino com o rosto meio inchado, apresentando também os dois olhinhos bem apertados, parecendo mais um japonês. A outra criança veio toda enrolada numa coberta de cor rosa. Era uma menina. Um casal de gêmeos ?
Nó pregava cada peça interessante. Há quatro anos  foram dois meninos que perdemos, mas agora era um casal, mais difícil de “vingar”, como vaticinavam as más línguas. No dia seguinte eles seriam registrados como os nomes de Dino Augusto e Maria Augusta. Nos primeiros moimentos observamos que Dino achava-se meio inchado, por ter suportado o peso de Maria Augusta, por algum tempo antes de serem expelidos. Por sua vez, Maria Augusta demonstrava que estava com fome, pois a sua língua não parava um instante. As enfermeiras se encarregaram de passar a notícia pelas dependências do Hospital, tal a afluência de curiosos que compareceram em nosso apartamento. Para cada visitante, nós tínhamos que ouvir as suas preces, as suas conversações, ensinamentos e outras coisinhas mais ,como se nós dois fôssemos “marinheiros de primeira viagem “.Para tentar dormir é que foi difícil. Em todo instante, aparecia uma enfermeira, ora para atender Nó e na maioria das vezes, para observar o estado das crianças, que por sua vez, dormiam tranquilamente o “sono dos justos”. Tia Té ficara na residência do casal Guilherme /Irene. Nessa mesma madrugada, numa das horas em que Nó achava-se acordada, ela me deu a notícia de que escolheria Guilherme e Irene para serem os padrinhos de Maria Augusta, enquanto Tia Té e tio Fonso, seriam os padrinhos de Dino.
No dia 6, sexta feira, saí logo cedo e fui registrar as duas crianças. Na volta, encontramos o Dr Fernando  e ele nos passou a notícia de que iria passar o fim de semana na sua roça. Pedimos então, que ele desse alta a Nó no sábado, pois a mesma passou a noite muito bem e as duas crianças estavam perfeitamente com saúde. Com aquela parte já efetivada, o resto foi esperar calmamente., que a sexta feira passasse o mais rápido possível.
Quando o sábado amanheceu, fizemos a seguinte arrumação dentro do fusca: Tia Té ficou sentada no banco traseiro segurando Dino. Nó amparou Guga e ficou sentada ao meu lado, no banco da frente. Entrei no carro e vim trazendo-o na base média de 60 quilômetros por hora, até estacionar em nossa residência à Rua Olímpio Rolim, número 90.
No mesmo dia, a notícia correu ao largo, e incessantemente recebemos diversas visitas. Só mesmo à noite, é que o Sr. Jambinho, vindo da roça, veio conhecer mais dois netinhos.
---“Meus filhos, vocês vão saber cuidar dessas crianças! “
                                                                        

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