Em
fevereiro de 1975, alguns associados da ACASCP ( Associação de Cultura e
Assistência Social da Cidade de Poções), me delegaram poderes, para tentar
recuperar a parte física e social da Entidade, abandonada por algum tempo, já
apresentando um estado LASTIMÁVEL, tanto no aspecto da sede ,como em sua volta.
Aceitei a incumbência, sabendo de antemão, que não poderia fazer nenhum milagre,
mas pelo menos tirar o clube daquele estado de penúria, para tentar torná-lo
apresentável aos olhos dos sócios ou de seus convidados. Procurei logo
inicialmente a pessoa que era chamada de zelador e que estava com as chaves das
dependências do prédio. Convidei uns dois associados para olhar comigo a
situação da sede social e o que vi foi de estarrecer. Os sanitários masculino e
feminino estavam com seus vasos quase que totalmente quebrados. A sujeira e a
fedentina eram por demais insuportáveis. As pias entupidas e não saia água
pelas torneiras, porque a sujeira do tanque não deixava a mesma escorrer pelo canos. As paredes sujas. O
fôrro mal cuidado. O piso, por incrível que pareça era o que apresentava o
melhor aspecto, embora faltassem alguns tacos. As janelas não possuíam vidros
Do lado de fora do prédio, haviam feito com o passar do tempo, duas
estradas deixando-o completamente
isolado e exposto a ação perversa dos vândalos. Então, naquela primeira visita,
constatamos que urgia levantarmos um muro para poder isolar a área circundante
ao prédio. E o dinheiro de onde sairia?
Nessas
conjecturas de como começar os trabalhos, eis que eu recebo em nossa
residência, um oficio da Junta de Conciliação e Julgamento, sediada em Vitória
da Conquista para atender a um processo movido pelo ex-zelador, contra o clube,
para atender e regularizar a situação trabalhista do mesmo.
Enquanto
isso, pedi permissão ao Delegado, para que o clube realizasse bingos aos
sábados a noite e domingos pela manhã, para conseguirmos amealhar algum
dinheiro, para fazer face as despesas que se avizinhavam de imediato.
Contratamos
os serviços de um pedreiro e um ajudante, para iniciar as obras de levantamento
do muro e o material necessário, como blocos de cimento, areia, ferro e sacos
de cimento, foram adquiridos, para pagamento a prazo, e de forma
semanal.
Até
chegar o dia do Julgamento do processo, consegui gratuitamente com um amigo
nosso advogado e residente em Vitória da Conquista, a defesa do clube e
concluídas as demarches, o clube deveria indenizar o ex-zelador em quinze mil
cruzeiros que deveriam ser pagos em dez parcelas de um mil e quinhentos
cruzeiros.
No mês
de março, apareceu em nossa residência, o
representante de um conjunto de Cruz das Almas, propondo realizar uma festa
dançante num sábado ou num domingo, com preços bem razoáveis. Aleguei que o
clube estava numa fase de transição e não poderia arcar com a responsabilidade
de fazer festa com preços altos. Depois de algumas conversações, a festa sendo
num sábado, sairia por dezoito mil cruzeiros, com a viagem por conta do
conjunto, mas a hospedagem na pensão e o lanche durante a festa seriam por
conta do clube. Naquele bate papo, lembrei-me que a festa do Divino sempre era
encerrada num domingo. Porque não aproveitar a data sem que o individuo
soubesse?
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Aí
,tomando uma coragem repentina saí com essa :
---Meu
caro amigo o clube ainda não tem condições de realizar festa aos sábados.
Dezoito mil, fora a pensão e lanche irão sair muito caro. Qual o preço que o
senhor fará num domingo?
O
representante do conjunto pensou um pouco e perguntou:
---Para
quando o senhor quer a festa?
---Vamos
olhar aqui um calendário--- respondi.
Olhando
então, um calendário nosso de parede, verifiquei que o domingo de Pentecostes
cairia no dia 18 de maio. Continuei:
---Vamos
escolher esse domingo aqui. Vocês já tem algum contrato nessa data.?
---Não
.
---Ótimo.
Qual o preço então sem a obrigação nossa de pagar pensão. O lanche será por
nossa conta.
O
representante olhou para mim e disse;
---Que
tal dois mil cruzeiros ?
Com
aquele preço, durante a realização da festa do Divino, pensei comigo:
“Nessa
festa, vamos ganhar tanto dinheiro, que o clube não terá nem lugar prá
guarda-lo.”
---
Está fechado . Vamos assinar o contrato !
Ainda
em março, conseguimos os serviços de um cobrador, para tentar colocar as
mensalidades em dia.
Enquanto
por um lado, nós tentávamos melhorar a situação do clube, os próprios vândalos
da Cidade destruíam certas partes do muro, já levantadas e o pedreiro logo pela
manhã chegava lá em casa aborrecidíssimo. E não era para ficar mesmo? Como é
que você está executando um trabalho e vem alguém propositalmente e destrói
aquilo que já está feito ?
Em companhia de dois sócios abnegados, compramos os vidros e a massa própria para prendê-los nas molduras das janelas. Foi um trabalho que realizamos todos os sábados no período da manhã, como também nos domingos pela manhã e a tarde. Para que nenhum vândalo tentasse quebrá-los, começamos o serviço pelas janelas da frente do clube, pois ficando mais próximas da pista da Avenida Cônego Pithon, tornar-se-ia mais fácil para nós, a fiscalização. Então, a medida que o muro ia sendo levantado, nós íamos acompanhando a confecção do nosso serviço. Em breve ,também, as duas estradas que passavam dentro da área do clube, deixaram de existir com a construção do muro.
Em companhia de dois sócios abnegados, compramos os vidros e a massa própria para prendê-los nas molduras das janelas. Foi um trabalho que realizamos todos os sábados no período da manhã, como também nos domingos pela manhã e a tarde. Para que nenhum vândalo tentasse quebrá-los, começamos o serviço pelas janelas da frente do clube, pois ficando mais próximas da pista da Avenida Cônego Pithon, tornar-se-ia mais fácil para nós, a fiscalização. Então, a medida que o muro ia sendo levantado, nós íamos acompanhando a confecção do nosso serviço. Em breve ,também, as duas estradas que passavam dentro da área do clube, deixaram de existir com a construção do muro.
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Em
maio, tive a audácia de ir até Banco do Brasil e tomei emprestado em meu nome,
com o aval de Carlos Torres, a quantia de vinte mil cruzeiros, para concluir e
pagar o restante dos serviços que estavam sendo executados. Os sócios mais íntimos
à minha pessoa ficaram receosos, mas em reunião com o grupo, afirmei categoricamente:
---Gente,
com a realização da festa no domingo de Pentecostes, que é o último dia das
Festas do Divino, iremos recuperar esses vinte mil cruzeiros e pelos meus cálculos,
pretendemos arrecadar mais uma quantia superior a essa. Vocês todos estão vendo
que o nosso bingo está funcionando a ”pleno vapor”.
Até os
mais incrédulos concordaram e seguimos nos nossos planos.
Mais adiante
em outra reunião, disse para a turma:
---No
segundo semestre, nós iremos funcionar aos domingos à tarde, com matinês dançantes,
para adultos e jovens, principalmente a criançada filhos dos sócios.
---Você
está com muita coragem, doutor—disse um dos colaboradores.
---Espero
que tudo dê certo. Reparem que até hoje não nos apertamos para pagar os mil e
quinhentos cruzeiros da indenização do ex-zelador.
Como prevíramos,
a festa foi um sucesso. Os sócios e suas famílias, puderam participar de um
evento que há tempos o clube não proporcionava. Vendemos muitos ingressos a
pessoas selecionadas com muito carinho. E no final, como também esperávamos,
arrecadamos o suficiente para colocarmos todas as despesas em dias. Quando na
terça feira eu cheguei ao Banco do Brasil para pagar o empréstimo, o
funcionário que me atendeu disse-me:
---Doutor,
o senhor ainda tem três meses para pagar o empréstimo.
---Obrigado,
mas já trouxe o dinheiro que está aqui comigo.
Lá adiante,
em comum acordo com muitos pais associados ou não, fizemos uma reunião para em
outubro realizarmos a festa de debutantes. Minha filha Mercês também iria participar, tal qual aconteceu na época de
Sybele.
Quando
chegou a data prevista, foi o acontecimento do ano. Muitas moças debutantes
bonitas, encheram os olhos da rapaziada. Mercês e eu, dançamos a valsa
participamos ativamente do desenrolar da festa, que não visou lucro para o
Clube.
No
Réveillon, trabalhamos para não ficarmos no vermelho e conseguimos praticamente
zerar receita com despesa.
Na
segunda quinzena de janeiro de 1976, realizamos as eleições depois de
divulgarmos com bem antecedência. A
referida. Nenhuma chapa se inscreveu e praticamente ganhamos sem nenhuma
cosntestação,
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Agora
sim. De acordo com os Estatutos a nossa Diretoria foi eleita soberanamente, O
ano que passou era um aglomerado de pessoas tentando reerguer uma entidade
quase falida. Tudo ia de vento em popa, mas não esperávamos o que iria
acontecer no carnaval. Muitos sócios viajaram, para pegar as suas praias.
Outros que não gostavam de Carnaval nem no clube apareceram. E resultado
foi triste e melancólico.
Financeiramente tomamos uma pancada no valor de quatorze mil cruzeiros e na
primeira reunião depois do Carnaval abri o bico dizendo:
---No
ano que vem não contem comigo para realizar o Carnaval, Os sócios já deram a
sua resposta. Numa festa só, perdermos quatorze mil cruzeiros, teremos que
trabalhar muito para recuperar esse prejuízo que não estava no nosso programa.
---Foi
azar nosso --- disse um.
---O pessoal
há tempos que não participava de Carnaval, achou melhor ir a praia--- disse
outro.
Engoli
os comentários em seco para não criar mais polêmica. Entretanto ao chegar a
Festa do Divino de 1976, conseguimos reaver um pouco do prejuízo. No período de
setembro/outubro não conseguimos formar o grupo de debutantes. Em compensação,
recebi uma pequena carta do Deputado Manoel Novaes, dizendo que da sua verba
pessoal, colocara uma pequena quota para o clube aplicar em assistência social
e que depois ele explicaria melhor como funcionar quando a verba chegasse até a
conta do clube, no Banco do Brasil. E de fato, antes do final do ano,
verifiquei um depósito em conta da ACASCP. Reunida a Diretoria deliberamos
aplicar aquela verba, no funcionamento de uma escolinha só para criancinhas de
três a cinco anos, que ainda não estivesse alfabetizada. Pelos nossos cálculos
a verba daria apenas para funcionar a escolinha, com todas as despesas pagas entre seis a oito
meses. Contratamos a professora Silvia, filha do Sargento do Tiro de Guerra,
Severino Bispo dos Santos e a mesma trabalhou enquanto durou a verba. Como não
veio outra, no ano seguinte, encerrou-se aquela história inédita na vida
ACASCP.
As matinês
continuaram num ritmo crescente, pois o pessoal já ficou acostumado em todas as
tardes, dos domingos ir até a sede do clube para participar das festinhas. Sandoval,
Pitôco, Chicão, José Carlos e mais outros, compunham os elementos do conjunto
musical, para animar aquele ambiente sadio.
Ao
chegar o novo ano de 1977, o Sr. Otávio José Curvêlo já fora eleito o novo
Prefeito de Poções, de onde a população aguardava um bom desempenho.
Em Janeiro,
então reuni a Diretoria e reafirmei o meu propósito de não participar à frente
dos festejos carnavalescos.
---Mas
doutor, é o nosso último ano de gestão... --- explicou um
---O ano
passado deu prejuízo, mas esse ano nós iremos fazer uma campanha junto aos
sócios, e o sucesso será garantido... ---
explicou um outro diretor.
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Seguiu-se
uma boa discussão democrática, onde cada
qual expôs o seu ponto de vista, mas senti que no “frigir dos ovos”, a maioria
queria realizar a festa do carnaval. Como eu senti de perto, que apenas uns dois
ou três estavam ao meu lado, falei abertamente;
---Vou
passar o cargo ao vice-presidente, porque durante o Carnaval não estarei aqui
em Poções.
Como faltavam
poucos dias para a realização das festas do período momesco, não quis interferir
na atuação da Diretoria que ficou encarregada de levar avante o plano e
faltando dois a três dias, ausentei-me da Cidade, indo curtir o carnaval em Salvador,
pois há muitos anos estive ausente, inda mais naquele período, onde os trios
elétricos haviam se multiplicado.
Na
volta, tentei saber do resultado, em encontros casuais com alguns da Diretoria.
Mas, oficialmente, somente depois de um mês que o carnaval já se passara, é que
fui convidado a participar de uma reunião, para ver de perto os detalhes da
festa. Logo no princípio observei que o semblante da maioria , estava
carrancudo. Quem fez a explanação principal, foi o nosso saudoso amigo Carlos
Tôrres, que era o tesoureiro, que despejou uma papelada sobre as mesas,
mostrando o que se arrecadou, com o mapa das poucas mesas vendidas e aquele
pequeno maço de ingressos. A maioria esmagadora, era de papéis referentes a
todas as despesas, incluindo até gratificação aos policiais que atuaram nas
três noites de festa. Enquanto o tempo passava, eu já meditava comigo, sem
esboçar qualquer reação ou fazer algum comentário:
“ A
bomba vai estourar pior do que a do ano passado. “
Em
certo momento , Carlito disse:
--- Não
nos esqueçamos, que demonstrando a maior boa vontade conosco, o atual Prefeito
José Otávio Curvêlo, nos ajudou e gostaria de pedir até ao nobre secretário que
constasse em ata.
No resultado
final, como eu já estava prevendo, o prejuízo total foi acima de quarenta mil
cruzeiros. Na mesma hora botei as duas mãos na cabeça e explanei:
--- Estão
vendo aí, porque eu não queria assumir esse “abacaxi”. Trabalhamos um ano inteirinho,
para deixar o clube numa situação cômoda e agora, em três dias, jogarmos
dinheiro fora, ficando com um rombo de quarenta mil cruzeiros de prejuízo.O
resto da sessão foi de zum zum, zum.Ao passar do tempo, fomos aos poucos, com
os eventos que apareciam, sanando aquele prejuízo, ao ponto de quase ao final
do ano recebermos a visita inesperada de Josemar Leite Ferreira, que também era
sócio. Ele nos contou que o Prefeito tinha contratado os serviços de uma retroescavadeira.
Então ele pediu ao Prefeito, para que a máquina abrisse um buraco no terreno do
clube, a fim de que futuramente, as novas diretorias mandassem construir uma
piscina.Quando em janeiro de 1978, passamos o cargo ao novo Presidente, na
pessoa do sócio Romano Schettini, já deixamos algo pra que ele pudesse começar
a sua gestão. No local da futura piscina, o buraco já estava feito.
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