sexta-feira, 19 de julho de 2013

Autobiografia de Irundy Dias ( página 16 )

Somente no DOMINGO, próximo ao meio dia, chegamos ao portão lá de casa. Uma semana inteira viajando de Salvador a Iguaí. Também foi a primeira e última. Quando mamãe me viu exclamou:
---Meu filho, há quanto tempo

A estrada de rodagem, Poções-Iguaí , passando por Nova Canaã, era lastimável.
Um certo dia, Papai chegou em casa dizendo que um caminhão iria sair pouco depois das dezesseis  horas e eu me preparasse para viajar nele, à Poções. O tempo estava ameaçador. Nuvens negras já se formavam ao longe. Na hora aprazada, subi na carroceria em companhia de uma meia dúzia de pessoas, fora as que estavam na boleia ao lado do motorista. A viagem estava tranquila até Canaã , quando se formou repentinamente uma tempestade daquelas que estava a acostumado a ver naquela zona da mata, embora nunca tivesse viajado com uma delas. Era costume naquele tempo, colocarem-se correntes nas rodas dos caminhões, porque a subida chamada de SETE VOLTAS OU CAPA BODE era sumamente perigosa. Os veículos derrapavam muito e ninguém se aventurava a subir ou descer aquela serra. Embaixo da lona, o pessoal começou a cochichar, demonstrando inquietação e medo. De vez em quando eu ajeitava o meu chapéu de feltro, que Papai comprara, por causa da poeira durante a viagem de trem. Devido ao movimento do caminhão, a lona de vez em quando desarrumava o chapéu da cabeça e tornava recolocá-lo.
Eis que, em certo momento, devido a incessante chuva, entremeada com relâmpagos, raios e trovões, o caminhão resvalou e caiu num buraco. O motorista e o ajudante, debaixo daquela chuva torrencial, tentaram de todos os jeitos e maneiras, safar o veículo do buraco, mas não conseguiram. A noite se avizinhava e o empecilho estava formado. Um dos passageiros falou ao motorista:
---Olhe, aqui perto mora um amigo meu, e nós poderíamos pedir abrigo por esta noite.
Todos concordaram em fazer aquela tentativa. Porque passar a noite em baixo daquela lona com aquela chuva toda, não era programa pra ninguém.
Por sorte nossa (em parte, diga-se de passagem) o dono da casa, possuía uma espécie de barracão, acho que para armazenar mercadorias de todos os tipos. Era um salão grande e alto, tendo lá no fundo umas divisórias,  possivelmente quarto e cozinha para ele e a esposa. Não vi nenhuma criança.
Uns homens mais desenvoltos, começaram a comandar aquele estado de coisas. Assim, é que foram distribuídas para todos, umas lascas de lenha, que iriam servir de cama. No centro do salão, armaram uma pequena fogueira, para nos aquecer durante a madrugada. Alguém, que trazia consigo, requeijão, mel e farinha, vendeu a todos, determinados quinhões, por preço relativamente razoável e foi um jantar do qual não tenho saudades. Requeijão horrível! Mel, onde as abelhas deveriam ter passado a uns mil quilômetros. Farinha? Daquelas bem grossas, para não escapar dos sacos. Só salvou-se mesmo, a água, que por certo a dona da casa, aparou, logo após, a chuva ter lavado bem a cobertura da casa.
Agora, vamos dormir!
Pergunta-se: ALGUÉM, QUE ESTÁ LENDO ESSE RELATO, JÁ DORMIU ALGUMA VEZ, EM CIMA DE ALGUMAS LASCAS DE LENHA, SOBRE UM CHÃO ÚMIDO E DURO E AINDA COM A CHUVA CAINDO LÁ FORA?
Aos poucos, o pessoal foi parando de conversar e o sono finalmente, chegou para todos.
Meu travesseiro, foi o chapéu de feltro.
Lá para as tantas da madrugada, alguém, sem fazer barulho, sorrateiramente, se deslocou entre todos que dormiam profundamente e saiu solicitando uma lasca de lenha de sua cama, para colocar na fogueira a fim de que a mesma não se apagasse.
Felizmente o dia estava amanhecendo. A chuva cessara.
Mas, comecei a perceber uns piados incessantes ao meu lado direito. Os piados aumentavam aos poucos, à medida que se aproximavam de mim.  Fui raciocinando sobre o que poderia estar acontecendo:
                                                                   16           

Nenhum comentário:

Postar um comentário