terça-feira, 16 de julho de 2013

Autobiografia de Irundy Dias( páginas 1 e 2 )

Muito se tem escrito em pequenas notas de jornais, sobre a história de Poções.
O trabalho que estou me propondo, não é o de relatar por ouvir dizer, mas, sim e tão somente, a vivência do dia a dia, desde a época que passei aqui, algumas horas, em outubro de 1939 e na sequência, outras inúmeras horas, quando de minhas viagens a Salvador, vindo de Iguaí, ou vice-versa, na continuação dos meus estudos. Na sequência, o relato já se estende, desde o dia que Papai trouxe a nossa família definitivamente para Poções, após termos residido em Iguaí, no período de fins de 1939  até fevereiro de 1950.

É claro que, para dar ciência da evolução desta cidade, nestes últimos setenta e poucos anos, terei que colocar presente e bem anexa, a minha autobiografia.

Que autor seria eu se fosse escrever dados sobre Poções e os meus mais conhecidos, habitantes, se OMITISSE a minha presença?

De certa forma, nesse período de tempo, muitos personagens foram esquecidos, como também fatos de menor importância.

Certa vez, o meu irmão Affonso, que Deus o tenha guardado em bom lugar, disse-me:
---"Dydy", (é como ele me tratava), porque você não escreve a sua autobiografia?

Respondi quase que de imediato:
---"Fonso” (era como eu o tratava), publicar poesias é um trabalho bem mais fácil. Você reúne alguma coisa que escreveu, sobre assuntos os mais diversos possíveis, corrige, vai à tipografia, imprime e depois sai distribuindo aqui e ali aos seus amigos e conhecidos. Escrever a minha autobiografia é um trabalho penoso, pois terei que rebuscar no passado, tudo aquilo que a sua memória puder trazer ao presente, juntando pedacinhos da minha infância, da minha adolescência, e depois já na fase adulta colocando fatos e personagens, muitas vezes esquecidos...

Mas no meio dessa resposta, apareceu outro detalhe:
---Quem irá interessar-se em saber o que eu fui, o que eu sou a não ser alguns familiares bem chegados a mim e uns amigos de ternos laços?

Mas Affonso insistiu:
--- Dydy reflita comigo. Nós viemos de muda para Poções em 1950, quando Papai trouxe a família de Iguaí, para cá. Você, como irmão mais velho, passou pela primeira vez por esta Cidade em fins de 1939, porque então, você não associa a sua autobiografia, ao desenvolvimento de Poções, desde aquelas datas até aos dias de hoje?


OMITISSE – Do verbo omitir. Deixar de fazer. Dizer, mencionar ou escrever (algo)


                                                                

                                                              1








Pesquisei e vivenciei fatos dos setores sociais, estudantis, esportivos, políticos, enfim tudo o que fosse necessário para o conjunto dessa obra.

Poções, de chão de terra batido, da década de 30, que à luz do sol, quando soprava uma mínima quantidade de vento, deixava nuvens de poeira ao redor, ou na época das chuvas intensas, alagavam ruas e praças, apresentando um grosso lamaçal.

Os poucos carros, puxados por parelhas de bois, que percorriam as nossas vias, com aquele rangido característico das rodas de madeira, eram costumeiramente os melhores veículos que a Cidade dispunha. Os outros com um único burrico, ainda ficavam em segundo plano. E ainda apareciam uns jegues, carregando água do açude, dentro de uns vasilhames chamados de CAROTES.
E as noites?

Poções era servida (ou mal servida), com uma luz TÊNUE, produzida pelo trabalho de um motorzinho movido a óleo, que funcionava das 18 às 24 horas, com um detalhe de que faltando dez minutos, para o encerramento daquele serviço, um rápido sinal era dado, com o piscar das lâmpadas.

Quando Affonso terminou a sua fala insistindo para que eu iniciasse a minha autobiografia resolvi experimentar e aqui vamos nós:

Primeiramente vou apresentar os meus pais, e meus avós paternos e maternos:

Papai; Dr. Ary Alves Dias, médico, nascido a dois de setembro de 1904 e falecido a primeiro de novembro de 1980.

Mamãe: Olinda Manta Dias, doméstica, com primeiro grau incompleto, nascida a 31 de maio de 1906 e falecida a 16 de maio de 1997.
Ambos nascidos em São Félix - Bahia e casaram-se em 11 de maio de 1929.

Avós paternos: Dr. Afonso Alves Dias - Engenheiro da Estrada de Ferro da Leste Brasileiro e Isaltina da Costa Alves Dias, doméstica e entre a sua prole, Papai foi o quinto.

Avós maternos: Dr. José da Silva Neves Manta, médico e Capitão da Polícia Militar do Estado da Bahia e Amália Seixas Manta, doméstica, sendo também Mamãe, a quinta filha.

Nos primeiros meses de casados, a convite de vovô Afonso, os meus pais foram residir com eles e a caçula de minhas tias, por nome Moema, já com 13anos, ao notar já a barriguinha de mamãe começando a crescer ficava insinuando:
---"Essa criança vai nascer no dia do meu aniversário, 17 de fevereiro"

TÊNUE: Que é delgado, fraco, sutil, leve, ligeiro, de pouco valor ou importância.

CAROTES: palavra não encontrada nos dicionários. De uso exclusivo nessa região, que significa um tipo de barril de madeira, com uma pequena abertura, para que se coloque qualquer tipo de líquido.
                                                               
                                                               
                                                                           2


Nenhum comentário:

Postar um comentário